Ao acordar, a primeira coisa que eu ouvi foram pássaros cantando, algo que eu não ouvia do meu quarto. Assim que abri os olhos, vi a luz do sol entrepassando as folhas das árvores acima de mim.
Ao contrário de todas as manhãs depois que eu me transformava, dessa vez eu estava me sentindo surpreendentemente bem. Toda energizada e alegre, com vontade até de fazer uma dancinha. Talvez boa parte dessa alegria fosse causada pelo fato de eu ter feito as pazes com Sirius na noite anterior, mas quem sabe?
Me levantei e olhei para os lados, na tentativa de me localizar. Após alguns minutos andando, avistei a minha cabana. Sabia que era a minha por causa da escada, que eu não tinha visto em nenhuma outra. Eu andei até lá, cantarolando. Eu tomei um banho e decidi fazer uma faxina, para gastar um pouco da energia e animação que me enchia.
Péssima decisão.
Sinceramente, eu não sabia que era tão péssimo fazer faxina.
Depois de lavar a louça e varrer o chão, eu já estava cansada até de olhar para a vassoura. Por isso, eu decidi dobrar algumas roupas que Lyra tinha lavado e deixado secando no varal ao lado da minha cabana. E foi assim que eu descobri outra habilidade que eu não tenho: dobrar roupa.
Até agora a lista está irritantemente grande; dobrar roupa, cozinhar, valsar, me comportar como uma "verdadeira dama" (seja lá o que for isso), fazer penteados legais, flertar, me comportar como uma pessoa normal e andar de salto.
Enquanto eu estava deitada na cama, encarando a pilha de roupas não dobradas com um ódio mortal, alguém bateu na porta da frente. Sem esperar por uma resposta, a pessoa abriu a porta e entrou. Henry apareceu na porta do meu quarto com um grande sorriso.
- O que achou? - Ele se jogou na minha cama, caindo por cima da pilha de roupas.
- Do quê? - Perguntei, tirando as roupas debaixo das pernas dele. Tentei, e falhei, dobrar uma camiseta.
- De se transformar, besta. - Ele pegou uma das camisas de mim e começou a dobrar ela do jeito mais profissional possível. - Você é péssima dobrando roupas, Rosie.
Não me diga.
- Gostei. É melhor do que eu achei que seria. - Menti. Eu tinha adorado me transformar ao ar livre, mas eu não ia admitir isso.
- Você amou. Tá apaixonada pela transformação. Você A-DO-RA. Tô vendo na sua cara. - Ele zombou e mostrou a língua para mim.
- Cala a boca.
- Cala a boca você, mané. O que você acha de nós irmos almoçar na praça? Você sempre almoça aqui dentro.
- O que tem para a gente comer lá fora? Porque aqui dentro eu tenho torta de frango. E aqui é quentinho. A gente está chegando no outono e está esfriando.
- Lá fora tem uma fogueira e bastante carne. Ontem o Eamon e o Ares caçaram um alce e um javali. Nem sabia que ainda tinham javalis nessa área, mas tudo bem. Nana, Lyra, Cristina e Percival estão fazendo um churrasco.
- Churrasco, é? - Perguntei, considerando aceitar. Depois da primeira semana aqui, não passei muito tempo com ninguém além de Henry e Sirius.
- Você devia aceitar. Assim, só falando. Para tentar conhecer outras pessoas, fazer amigos... essas coisas. - Ele terminou de dobrar as roupas.
- Eu já tenho amigos. Você e o Sirius são meus amigos.
- A gente se conhece há dois dias. - Henry disse, sério. Porém, logo o rosto dele se abriu em um sorriso. - Mas é verdade, eu sou o melhor amigo que você poderia querer.
- Cala a boca. - Disse, sorrindo.
- Cala a boca, você. - Ele retrucou. - Vamos comer lá fora, vai?
- Tá bom. Me pega um casaco? Eles ficam ali na cômoda. - Apontei.
Ele foi até lá saltitando e me jogou um casaco.
Bruto.
Nós saímos para encontrar a praça cheia, parecendo muito com os jantares. Uma grande fogueira estava no centro do pátio, cercada pelas mesas de piquenique. Henry me puxou pela mão até uma delas e mandou eu ficar ali. Em seguida, correu até uma velhinha que poderia ser Nana. Eles trocaram algumas palavras e ela entregou um prato cheio de carne a ele.
- Bife de cervo com batata assada, especialidade da Nana. Brutus adorava caçar e cozinhar carne de cervos, então ele ensinou Nana, que ensinou Peter, que ensinou Ares, Percival e Jonathan e Ares ensinou Eamon, Simon e Clarisse. - Henry falou, sentando na minha frente e colocando o prato entre nós.
Nós comemos enquanto eu olhava ao redor, Henry contando, de uma forma muito mais interessante, sobre a história e a vida dos lobisomens. Enquanto ele falava sobre um tal de Rollin, que foi o primeiro lobisomem da história, meus olhos encontraram os de Sirius, onde ele estava em uma mesa com a família dele. Eles estavam perto o suficiente da mesa em que eu e Henry estávamos, então eu conseguia ouvir o que eles estavam falando. Eu não estava prestando atenção quando ela começou a falar, mas no momento que Sirius desviou os olhos para ela, desviei minha atenção.
- Sirius Allan Delyan, vá fazer as pazes com ela! - Ela ciciou, com uma careta irritada. - Vocês já estão brigados a uns quatro dias, vá se desculpar com ela, se não eu mando Draco e Star se mudarem para a sua casa e te expulso da minha. É isso que você quer? Ter seu irmão e a sua irmã enchendo a sua paciência para o resto da sua vida? Vá fazer as pazes com ela e pare de agir como um imbecil, estúpido porque eu te criei melhor que isso.
Henry, na minha frente, gargalhou. Ele riu tanto que engasgou. Sirius estava tão vermelho quanto um pimentão; Draco, Órion e Scorpio estavam rindo tanto quanto Henry; Metade das pessoas no pátio estavam alternando entre olhar para a mesa dos Delyan e para a mesa que eu e Henry estávamos e Lyra e Callum não pareciam nem perceber a desordem ao redor deles.
- Mãe. - Sirius sussurrou para ela, em voz baixa, parecendo querer que um buraco se abrisse sob ele. - Nós já fizemos as pazes. Ontem à noite. Antes de nós nos transformarmos.
- Ah é? - Ele e eu concordamos com a cabeça. - Ah. Que bom, então. Fico feliz. - Ela disse, com uma voz muito mais suave do que alguns segundos atrás.
- Fica né, Lyra? Todos nós ficamos. - Henry disse, gargalhando ainda mais.
- Sirie e a namorada fizeram as pazes. - Cantarolaram Scorpio e Órion, rindo.
- Fiquem quietos. - Sirius retrucou, fazendo cara de sério.
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Sob a Luz do Luar
LobisomemRose Ballard é um monstro. Ou pelo menos é o que sua mãe e seu padrasto a fizeram pensar. De trancafiá-la no porão toda noite a tratá-la como nada mais que um incômodo e um erro, eles a fizeram pensar que a coisa dentro dela que clama por liberdade...