CAPÍTULO 12

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JOÃO DARCY

Ela não me respondeu.

Eu queria que ela me respondesse? Eu queria que ela falasse algo? É o que eu queria?

Depois que ela demorou mais de vinte minutos, eu acabei indo embora para casa. Deixei minha irmã em casa e fui para a minha, pensativo pela primeira vez.

Hoje foi um dia atípico. Mesmo com as investidas de outras mulheres, tudo o que eu conseguia pensar era "a carrancuda me mata se eu cometer algum deslize" ou "a carrancuda iria rir disso". Quando eu tinha chegado aquele ponto? Aquele ponto onde eu pensava nela ao viver outras situações e no que ela poderia achar? O que estava acontecendo comigo?

Entrei em casa e a primeira coisa que eu fiz foi tomar um gole do meu uísque preferido.

Uma das mulheres, Paola, me deu seu número de telefone em um papel e disse que tudo seria discreto se eu quisesse. Ela estava até bem insistente e eu pensei seriamente se eu deveria aceitar ou não a sua proposta.

Eu deveria não é? Era arriscado, mas não era isso que eu mais gostava na vida? Viver os riscos? Viver a aventura que ela era?

Suspirei e deixei meu copo no balcão do bar antes de ir para o quarto. Talvez, tudo o que eu precisasse fosse dormir.

ELISABETH

A dor de cabeça que eu tenho me revela que talvez eu tenha passado dos limites ontem a noite em relação ao vinho.

Foi o que? Uma garrafa? Caramba, eu devia ter parado só nós dois copos, mas fazia tanto tempo que eu não tirava uma noite só para mim, só para cuidar de mim e focar em mim.

Levanto da cama e vejo meu celular na mesa de cabecearia e lembro da noite passada. Dos textos com a Anna, dos textos com o Antônio... e dos textos com o Darcy. Por que eu troquei mensagens com
O Darcy?

Quando as memórias vem até mim, eu lembro de como me senti mais animada com a última mensagem dele do que com as várias que eu troquei com o Antônio. E por que? Da onde isso surgiu? Da onde surgiu esse sentimento? Da onde surgiu essa vontade?

Tomo um copo d'água junto com uma aspirina e reflito sobre tudo isso. Talvez seja o fato de ter passado tanto tempo perto dele que agora eu estava começando a ficar maluca! Isso sim: eu estava ficando maluca!

Meu telefone toca e eu vejo o nome da minha irmã brilhando na tela.

- Acorde e brilhe, minha irmã.

Eu gemo com a voz estridente dela no meu ouvido.

- Por que você está gritando tanto?

- Por que você está com essa voz arrastada? Você está de ressaca? A minha irmã certinha, sempre vivendo pro trabalho está de ressaca? O que aconteceu no mundo pra você decidir se libertar assim?

- Uma noite só para mim, nada de chocante. Mas vamos voltar ao motivo da ligação, o que houve Capitu?

- Não pense que vai fugir de mim com esse assunto, mas sim, tenho um assunto mais importante agora. Acho que temos que começar a colocar pra buscar antecedentes dos nossos clientes.

- Por que? - Pergunto já me preocupando.

- Três dos nossos encontros programados pra ontem, dois dos caras e uma das mulheres estava mentindo sobre informações no perfil.

- De novo isso? Queria entender o que leva as pessoas a mentirem tanto em perfis de namoro. Isso não leva a nada além de problemas.

- Sei lá, algumas pessoas são desesperadas por amor. Buscam aceitação, e ao mesmo tempo acham que não vão ser aceitas como elas são.

Suspiro já sabendo disso.

O mundo chegou em um nível triste onde as pessoas tentam cada vez mais mascarar quem elas são. Tentam se anular, se apagar ou se modificar para serem aceitas, mais amadas, mais vistas. Isso não é saudável e nem bom. No final, quem você realmente é, a sua essência, nunca vai sumir. E pessoa no mundo vale a pena mudar quem você é.

- Queria que a maioria deles soubesse que o primeiro amor, deve ser o próprio.

- Pois é, a mamãe depois do divorcio está por aí, viajando e se reencontrando. Ela está se redescobrindo e isso não tem idade.

- Com certeza. - Sorrio ao lembrar da nossa mãe e como foi difícil no começo para ela, como foi difícil para ela se libertar de tantos anos que ela acabou se anulando sem querer pelo meu pai e acabou esquecendo quem ela era.  - Bem, mas eu acho que você está certa. Eu vou passar no escritório hoje e vamos ver isso.

- Relaxa, irmã, eu já estou por aqui e resolvo isso com a equipe técnica rapidinho. Eu só queria o seu aval. Quero que hoje você faça uma coisa que você não costuma fazer, relaxar.

- Mas eu tenho nada pra fazer.

- E isso é a melhor coisa, nada. Fazer nada as vezes é ótimo. Ter tempo ocioso também faz parte da vida. Descanse um pouco.

Eu franzo as sobrancelhas tentando pensar a última vez que eu tive um tempo ocioso sem ser ontem.

- Amanhã eu tenho um encontro com o Antônio. - Soltei antes que eu esquecesse.

- Muito bem! Então passe o dia se preparando para amanhã. Ou faça nada. Você decide! O tempo é seu, minha irmã! - E ela desliga depois disso.

Olho para o telefone na minha mão tentando pensar o que eu faço com isso.

Estava prestes a ver algo para comer quando meu telefone vibra de novo, e dessa vez é uma mensagem da Anna.

"Vai fazer alguma coisa hoje? Se não fizer, quer almoçar aqui em casa? Meus pais fazem questão que você venha, se você puder, é claro"

Eu penso por um segundo nisso. Bem, eu realmente não tinha nada para fazer hoje. É um almoço não podia fazer mal não é? O que pior podia acontecer?

Resolvo me arrumar e seguir o conselho da minha irmã, de aproveitar o nada, abraçar um pouco em não pensar nas coisas e apenas aproveitar o momento. E o que é melhor do que passar o dia com uma amiga?

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Será que o irmão dessa amiga vai estar lá também?

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UMA CONSELHEIRA (NADA) AMOROSAOnde histórias criam vida. Descubra agora