Capítulo 68 - Eu espero

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O meu dia não poderia ter começado melhor. Recebi uma ligação de Seokjin depois de quase dois meses sem notícias. Sei que Manuela é a espalhafatosa entre nós duas (embora agora esteja pra lá de resmungona), mas eu fui incapaz de conter um grito animado ao constatar que era ele quem me ligava.

O primeiro impulso que tive ao atender, claro, foi dizer poucas e boas por nenhum deles ter dado notícias durante tanto tempo. No entanto, não demorou para que estivéssemos conversando sobre o que anda acontecendo desde que foram embora.

Pelo o que Jin contou, Yoongi e ele estão nos Estados Unidos, mais especificamente na Califórnia. Para a minha surpresa, estão morando com uma prima do Jin, chamada Jennie (aparentemente, outra ovelha negra da família Kim). Uma mulher de 25 anos que também divide a casa com a namorada americana.

Como tudo foi muito repentino e impulsivo, Seokjin disse que entrou em contato com ela, e a prima não pensou duas vezes em deixá-los morar em sua casa.

Em relação a emprego, Yoongi foi o primeiro a conseguir. Está trabalhando como barista em uma cafeteira. Jin, por sua vez, agora está ajudando um pequeno restaurante da região como assistente de cozinha. Nada fixo, mas que vale a experiência e lhe dá algum dinheiro.

Fiquei absolutamente feliz por saber que tudo está dando certo para eles.

Também tocamos no assunto escola. Graças à tal Jennie, ambos entraram no supletivo da High School, já que faltam apenas alguns meses para que se graduem. Perguntei se pretendem cursar alguma faculdade, mas Jin comentou que ainda não decidiu o que quer estudar e Yoongi também está bastante confuso no que se refere a isso.

Bem, do jeito que conheço meus meninos, sei que não pretendem ficar longe dos estudos por muito tempo. Não agora que têm liberdade para buscarem as carreiras que desejam de verdade.

Depois de um pouco mais de uma hora (viva a internet, pois uma ligação convencional custaria horrores), eu desliguei e uma onda de alivio me preencheu.

Admito que desde que fugiram, sentia-me um pouco culpada por, de alguma forma, incitar que tomassem essa atitude. Afinal, fui eu quem aconselhou que lutassem. No entanto, ao conversar com Seokjin, percebi que teriam tomado essa decisão mesmo sem os meus conselhos. Não foram as minhas palavras que levaram os garotos a fugirem e sim a repressão e o medo de viverem para sempre em uma mentira.

E falando em repressão e mentiras, nem preciso dizer que a fuga deles causou a maior confusão. Até o excelentíssimo senhor Min apareceu no colégio, acompanhado da senhora Kim, mãe do Jin.

Como eu imaginava, o pai do Yoongi é um típico homem rico de meia idade, com os cabelos grisalhos e uma postura tão fria e apática, que os ambientalistas poderiam levá-lo ao Ártico para tentar conter o derretimento das geleiras.

Não é à toa que ele se juntou a senhora Kim. Definitivamente, esses dois se merecem. Somente não merecem os filhos maravilhosos que têm.

Na ilustre visitinha dispensável que o casal fez ao colégio, a senhora Kim também aproveitou para cumprir a "ameaça" que fizera antes das férias, por eu ter atrapalhado o seu showzinho ridículo diante os outros alunos e professores. Ela reclamou com a diretora que eu tinha "me intrometido" em um assunto de família.

Mas a sua choradeira não funcionou. Além de eu ter o apoio dos meus colegas de trabalho, que presenciaram toda a cena e relataram o ocorrido, Cho Hee, desde o acontecido com Adrian, vem correndo de escândalos e não deu crédito algum a senhora Kim quando descobriu ela causou justamente um escândalo.

Logo, a tal reclamação não deu em absolutamente nada. À não ser um olhar torto e cheio de raiva, que eu ignorei com sucesso igual a primeira vez.

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