Assim como todas as manhãs, caminho em direção a sala dos professores, cumprimentando um e outro aluno e tentando não parecer ansioso demais para chegar onde preciso. Percorro o corredor à passos rápidos e, diante a porta, sinto meu coração acelerar e aquela conhecida inquietação me dominar ao levar a mão até a maçaneta para empurrá-la e entrar.
Porém, como todas as manhãs, deixo a agitação de lado e entro, logo sendo cumprimentado pelos demais professores. No entanto, minha atenção de longe é para os colegas que me desejam bom dia. Meus olhos vagam à sua procura e lá está, sentada em sua mesa, com os cabelos perfeitamente amarrados em um coque e a tampa da caneta entre os dentes, algo que reparei há certo tempo ser costume quando está concentrada.
Observo-a por um instante, o suficiente para saciar um pouco que seja do que sinto e, depois de dar-lhe um 'bom dia' como sempre faço e receber um sorriso educado de resposta, vou até a minha mesa e sento para começar a organizar o conteúdo das aulas para mais um dia de trabalho.
Eu não sei como ou quando aconteceu. Talvez tenha sido no primeiro dia, no momento em que ela pisou na sala dos professores com aquele semblante sério e presença forte. Ou talvez na primeira vez que saímos todos para beber e tive a oportunidade de ver que, por trás de toda aquela seriedade, havia um sorriso tão lindo que ficou gravado na minha mente desde então e o qual, inconscientemente, busquei ganhar sempre que podia.
Sinceramente, eu não sei como ou quando aconteceu. Tudo o que sei é que, antes que eu percebesse, esse sentimento já estava enraizado em mim.
No começo, pensei que o melhor seria ignorar e seguir minha vida. Afinal, poderia ser apenas atração e eu estaria me equivocando ao considerar que fosse algo à mais. Porém, com o passar do tempo, as emoções que dia após dia afloravam em mim, estava mais do que óbvio que não era somente interesse.
Clara, minha colega de trabalho, a brasileira de cabelos escuros e sorriso encantador, estava cravada em meu peito, em meus pensamentos, e eu não consegui mais negar.
Eu estava completamente apaixonado por ela.
A certeza veio quando, sem remorso algum, dei um basta na relação de quase cinco anos e devolvi as alianças de noivado que havia comprado. Quando, do lado que ficara vazio em minha cama depois de tanto tempo preenchido por aquela que pensei ser a mulher da minha vida, só conseguia imaginar Clara deitada. Como se, por todos esses anos, aquele espaço - mesmo ocupado por outra - estivesse esperando por ela.
Nunca tive confiança de que meus sentimentos seriam correspondidos e sempre estive ciente de que, embora tenha mudado completamente minha vida por conta disso, esse amor poderia ser unilateral. Mas eu precisava tentar. Sim, eu precisava e foi isso o que fiz. Com delicadeza, pouco a pouco, fui me aproximando e então viramos amigos.
Contudo, não era o bastante. Meu coração não se conformava com apenas amizade, ainda que a minha parte racional tentasse a todo custo tomar o controle. Eu precisava de mais. Eu precisava mostrar a ela que poderia ser mais que um amigo.
Foi quando a convidei para sair. Algo despretensioso, mas que levou ao nosso primeiro beijo e, porra, a sensação foi deliciosa. Seus lábios, sua proximidade, sua entrega. Tudo foi incrivelmente delicioso. Certo, também foi totalmente impulsivo e eu corria o risco de levar um belo tapa na cara, porém, não posso mentir e dizer que me arrependi de ser ousado àquele ponto.
No entanto, como um balde de água fria, a realidade bateu a minha porta e o que tanto minha racionalidade tentou avisar aconteceu: eu não era correspondido.
Tentei não me deixar abater, afinal, eu corria esse risco. Da mesma forma que corri ao beijá-la aquela noite. Por isso, continuei ao seu lado. Sem pressão, somente como o amigo e colega de trabalho que sempre fui e esperando por uma brecha. Demonstrando, mesmo que discretamente, que estaria ali e disposto a aceitar uma migalha que fosse.
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Irresistível
FanfictionClara é uma brasileira que está trabalhando em Seoul como professora do ensino médio. Com todas as dificuldades de cultura e por ser nova nesse emprego, tudo de que ela não precisava era ficar à fim de um garoto de 19 anos, que ainda por cima é seu...