Entre o choque e a indignação, eu encaro a minha amiga sentada do outro lado do balcão, esta que mantem a cabeça abaixada. Ando de um lado para o outro, tentando controlar a raiva crescente em meu peito, mas, ainda que em me esforce, é impossível.
- Como assim você sabia que ele estava em Seoul e não me contou nada, Manuela?
Ela me espreita por debaixo dos cílios e solta um suspiro. E não precisa de muito para decidir que o balcão é mais inofensivo do que eu e voltar a encará-lo.
Continuo andando de um lado para o outro, sem temer abrir um buraco no chão da cozinha. Meu olhar paira sobre Manuela e me obrigo a respirar fundo para segurar a acidez em minha língua, que coça para sair da boca.
Estou com os nervos à flor da pele e eu gostaria muito de não usar essa desculpa para simplesmente despejar toda a angústia que sinto sobre a desmiolada sentada a minha frente. Ainda que fosse muito justificável eu lançar a bomba sobre a Manu, principalmente nesse momento, eu não serei insensível à ponto de não ligar para o fato de que ela já tem os próprios problemas.
Estes que, diga-se de passagem, estão perdurando mais do que eu imaginava.
Forço os meus pés a estancarem diante o balcão e cruzo os braços sobre o peito. O clima é tão pesado, que posso senti-lo nos ombros. Manu permanece calada e cabisbaixa, até mesmo pensativa, e eu não posso deixar de notar que é a primeira vez em tantos anos que nos estranhamos dessa maneira.
O que só me faz perceber que Adrian mal chegou e já trouxe dores de cabeça.
Por mais alguns minutos, limito-me a observar ao redor e fazer com que a raiva se esvai com esse gesto. Sentindo-me um pouco mais calma, solto um longo suspiro e sento na banqueta rente à minha amiga, ainda calada.
Sei que está agindo assim porquê sabe exatamente que eu tendo a ficar ainda mais nervosa conforme discuto e essa é à sua maneira de me dar tempo para esfriar a cabeça. E eu a agradeço imensamente por isso.
- Por que você não me contou, Manu? - pergunto, largando mais um suspiro no ar.
- Me desculpe, Clara. Não foi a minha intenção esconder de você, acredite.
Trocamos olhares por um instante, cheios de significado, e sou incapaz de permanecer irritada por mais tempo. Afinal, eu sei que ela não fez com uma má intenção.
Pego a sua mão estendida sobre o balcão e a aconchego entre as minhas. Dou-lhe um sorriso reconfortante.
- Eu sei que não, Manu. Eu sei.
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Irresistível
FanficClara é uma brasileira que está trabalhando em Seoul como professora do ensino médio. Com todas as dificuldades de cultura e por ser nova nesse emprego, tudo de que ela não precisava era ficar à fim de um garoto de 19 anos, que ainda por cima é seu...