Capítulo 53 - Confiança e sinceridade

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Entre o choque e a indignação, eu encaro a minha amiga sentada do outro lado do balcão, esta que mantem a cabeça abaixada. Ando de um lado para o outro, tentando controlar a raiva crescente em meu peito, mas, ainda que em me esforce, é impossível.

- Como assim você sabia que ele estava em Seoul e não me contou nada, Manuela?

Ela me espreita por debaixo dos cílios e solta um suspiro. E não precisa de muito para decidir que o balcão é mais inofensivo do que eu e voltar a encará-lo.

Continuo andando de um lado para o outro, sem temer abrir um buraco no chão da cozinha. Meu olhar paira sobre Manuela e me obrigo a respirar fundo para segurar a acidez em minha língua, que coça para sair da boca.

Estou com os nervos à flor da pele e eu gostaria muito de não usar essa desculpa para simplesmente despejar toda a angústia que sinto sobre a desmiolada sentada a minha frente. Ainda que fosse muito justificável eu lançar a bomba sobre a Manu, principalmente nesse momento, eu não serei insensível à ponto de não ligar para o fato de que ela já tem os próprios problemas.

Estes que, diga-se de passagem, estão perdurando mais do que eu imaginava.

Forço os meus pés a estancarem diante o balcão e cruzo os braços sobre o peito. O clima é tão pesado, que posso senti-lo nos ombros. Manu permanece calada e cabisbaixa, até mesmo pensativa, e eu não posso deixar de notar que é a primeira vez em tantos anos que nos estranhamos dessa maneira.

O que só me faz perceber que Adrian mal chegou e já trouxe dores de cabeça.

Por mais alguns minutos, limito-me a observar ao redor e fazer com que a raiva se esvai com esse gesto. Sentindo-me um pouco mais calma, solto um longo suspiro e sento na banqueta rente à minha amiga, ainda calada.

Sei que está agindo assim porquê sabe exatamente que eu tendo a ficar ainda mais nervosa conforme discuto e essa é à sua maneira de me dar tempo para esfriar a cabeça. E eu a agradeço imensamente por isso.

- Por que você não me contou, Manu? - pergunto, largando mais um suspiro no ar.

- Me desculpe, Clara. Não foi a minha intenção esconder de você, acredite.

Trocamos olhares por um instante, cheios de significado, e sou incapaz de permanecer irritada por mais tempo. Afinal, eu sei que ela não fez com uma má intenção.

Pego a sua mão estendida sobre o balcão e a aconchego entre as minhas. Dou-lhe um sorriso reconfortante.

- Eu sei que não, Manu. Eu sei.

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