(Manuela) Capítulo 34 - Impressão

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- Você foi o quê?! – grito.

Quase deixo a jarra da cafeteira cair no chão, tamanha é a minha surpresa. Por sorte, consigo ser mais rápida e colocar o recipiente em um lugar seguro. Ainda bem, pois, além de desperdiçar nosso querido café, despertaria a ira de certa pessoa – vulgo dona da cafeteira – que já não está com seu melhor humor.

- Você foi suspensa?! É isso mesmo, Clara?!

- Pois é... – ela suspira – Ao que parece, os demais professores não ficaram muito contentes com a minha "falta de respeito" e chegaram à conclusão de que eu merecia uma punição. No caso, três dias de suspensão. E, de quebra, ainda tive que fazer um pedido formal e escrito a punho de desculpas para a professora de física. O qual ela, "gentilmente", aceitou.

- Mas isso é um absurdo! Só porque você falou umas verdades para aquele bando de velhos esnobes e insensíveis, recebeu uma suspensão? E pior, de três dias?

- E o que eu devo fazer, Manuela? Voltar lá e dizer que são todos loucos?! – ironiza – De suspensa, eu passaria para desempregada. E, convenhamos, não estou à fim.

- E essa história de pedido formal de desculpas? Isso não é um pouco humilhante?!

- Bem, eu admito que passei dos limites. Sei como funcionam as coisas por aqui e ainda assim quis bater de frente. O mínimo que eu poderia fazer era pedir desculpas.

Concordo. Apesar de não considerar errado o que minha amiga fez, sei que a postura da maioria dos professores aqui é diferente e ir contra não é a atitude mais sensata.

- E o Jackinho delícia? Nem ele te defendeu?

Recebo um olhar nada amistoso, mas dou de ombros.

Ele é delicia mesmo. O que posso fazer?

- Mesmo que tivesse, seria um contra todo o corpo docente – ela diz - Não daria em absolutamente nada. Sem contar que ele poderia acabar encrencado também.

Concordo. Seria perda de tempo mesmo.

Sento de frente para Clara e sirvo nossas canecas. Olho de relance para ela e não sei mais se a fumacinha que sobe é do café quente ou a que sai de suas orelhas, de tão irritada que está. Minha amiga sempre foi rabugenta, isso é fato, desde que a conheço que é assim. Mas sei distinguir quando a situação é diferente. E é exatamente por conhecê-la tão bem que sei que essa irritação toda está longe de ser apenas o seu mal humor habitual.

­­Bebo um pouco do café e permaneço quieta; não posso culpá-la por estar assim. Desde que entrou no colégio que as coisas andam difíceis, principalmente porque aquela diretora louca não larga do seu pé, mas de uns tempos para cá percebo que aparenta estar mais chateada e cansada. Com tanto trabalho e preocupações surgindo, como o que aconteceu com o tal Yoongi ontem, não me admira esse desanimo. Sem contar a distância que se instalou entre Jungkook e ela. Minha amiga pode não admitir, mas é óbvio que sente muita falta do seu garotinho.

Okay, eu entendo que esteja brava por conta de tudo isso. Não é uma situação fácil. Mas ela deveria estar – no mínimo – satisfeita por mostrar àqueles arrogantes que estava certa.

– Eu sei que está chateada por ser suspensa – digo, chamando sua atenção – Mas, olhe pelo lado positivo, ao menos você esfregou na cara dela que tinha razão em relação ao caso do tal Yoongi. Agora ela deve estar se mordendo de raiva e...

Minha amiga fica quieta, olhando fixamente para a caneca entre suas mãos. Por um minuto, estranho, mas logo tudo faz sentido. Por essa eu realmente não esperava.

- Você contou, não é?!

- Não, eu não contei.

- Clara, mas por quê?

IrresistívelOnde histórias criam vida. Descubra agora