Quando eu recebi aquela mensagem, não soube exatamente o que pensar. De início imaginei que fosse uma brincadeira, afinal, se tratava do meu amigo. O maior brincalhão do colégio. Porém, à medida que as demais mensagens foram chegando, uma atrás da outra, e a seriedade em cada palavra me acertava em cheio, eu percebi que estava longe de ser algum tipo de piada. Longe, muito longe.
Irritado e confuso, a primeira atitude que tomei foi reunir coragem para confrontá-lo e entender o que estava acontecendo. Mas a conversa não foi nada amistosa. Na realidade, ela sequer aconteceu. Enquanto eu cobrava satisfações, ele simplesmente olhou-me nos olhos e com a expressão cínica que poucas vezes eu vi desde que nos conhecemos, deu as costas e me largou para trás, sozinho e com a cabeça cheia de dúvidas. A partir disso, inevitavelmente, as coisas ficaram estranhas entre nós.
A cada toque do meu celular, a cada nova notificação no Kakao, me deparava com suas ameaças ainda mais ácidas e provocativas, e só o que eu conseguia pensar em meio a todo o caos que se instalou tão repentinamente em minha vida, era: onde Taehyung pretendia chegar?
Durante dias, procurei por uma resposta que fosse para a pergunta que tanto me assombrava, mas, no fim, sempre acabava frustrado. Pois, nada do que vinha a cabeça fazia sentido e a única pessoa que poderia me tirar esse peso, mantinha-se calada e se esquivava de toda e qualquer chance de ficarmos à sós.
Taehyung estava fugindo. Embora as suas mensagens chegassem, ele não respondia as minhas, assim como não atendia as ligações e sempre dava um jeito de escapar ao notar que eu o procurava. Em frente aos nossos amigos, por outro lado, ele agia tão normalmente que até me surpreendia. Fazia-me duvidar que o Taehyung que ria das piadas do Namjoon era o mesmo que enviava aquelas ameaças.
Contudo, ao encontrar seu olhar carregado de deboche e notar o movimento de sua mão, balançando o celular de forma desafiadora, ficou claro para mim que aquele não era mais o garoto que conheci quando cheguei a Seoul, dois anos atrás.
Como se já não bastasse ter que lidar com os problemas habituais, com o maldito afastamento que a rotina e aquela porcaria de acordo impôs a Clara e eu, ainda me vi obrigado a suportar os seus joguinhos. Uma grande merda...!
Sinceramente, eu nunca pensei que em algum momento sentiria raiva de um dos meus amigos, especialmente de quem tanto me ajudou e sempre esteve ao meu lado, mas, ao longo daquela semana, eu descobri que poderia sim odiá-lo. E doeu perceber isso, assim como doeu perceber que eu não sabia quem Taehyung verdadeiramente era.
Os dias seguiram e as mensagens também. Confrontar o meu falso amigo no colégio se tornou incômodo de tal forma, que eu passei a evitá-lo na primeira oportunidade. Porém, a agonia de não saber o porquê de tudo aquilo, somada ao receio de que ela soubesse antes de eu conseguir tomar a iniciativa de contar-lhe a história, me levaram a trancar Taehyung e eu na sala do clube de música.
Me permiti explodir diante o seu tão conhecido silêncio e dizer o que estava entalado desde que suas malditas ameaças começaram. Não demorou para que a máscara do meu amigo caísse e, em meio a nossa gritaria, as verdades viessem à tona. E no instante em que ele disse: "você sabe o porquê", a minha ficha caiu.
Foi então que tudo mudou e a situação fugiu do meu controle.
Sentado de frente para o balcão do pub, dou mais um gole no suco de laranja enquanto espero Jimin chegar. Apesar de querer - e muito - uma cerveja gelada, provavelmente a minha chefe não ficaria nenhum pouco feliz se eu entrar no serviço cheirando a álcool, por isso me contento com algo mais leve. Afinal, as coisas já estão difíceis o bastante para eu ficar sem emprego também.
Por incrível que pareça, Taehyung me deu uma trégua de suas ameaças, e graças a isso me senti livre para pensar com mais calma. É evidente que a situação não pode continuar como está, mas preciso ser cuidadoso ou posso colocar tudo a perder.
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Irresistível
FanfictionClara é uma brasileira que está trabalhando em Seoul como professora do ensino médio. Com todas as dificuldades de cultura e por ser nova nesse emprego, tudo de que ela não precisava era ficar à fim de um garoto de 19 anos, que ainda por cima é seu...