Capítulo 5 - Saco cheio

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Nesse momento, tudo o que eu mais queria era ter o poder de soltar raios laser dos olhos para fritar a megera sentada a algumas cadeiras de mim, também conhecida como Cho Hee, popularmente chamada de diretora da escola e que nesse instante é a mira de toda a minha indignação.

Embora eu esteja ciente de que esse momento - uma hora ou outra - iria chegar, por que raios essa mulher resolveu começar o programa diferenciado de estudo para os terceiros anos justo quando, assim como os outros professores, tenho milhares de trabalhos para corrigir e duas provas de fim de bimestre para elaborar?

Essa velha nos odeia. É a única explicação.

Me ajeito na cadeira, querendo ao menos demonstrar que não estou de saco cheio dessa reunião pedagógica que já dura mais do que o necessário, e solto um suspiro baixo. Desvio minha atenção da diretora por um momento e meus olhos cruzam com os de Jackson do outro lado da mesa. Recebo um pequeno sorriso cansado de sua parte e lhe retribuo com um.

— Quero o planejamento das aulas até o final da semana na minha mesa.

Cho Hee diz e eu praticamente viro a garota do exorcista por girar a cabeça tão rápido.

— No final dessa semana? — indago.

— Sim. Algum problema?

— Diretora, não acha que esse prazo é curto para todo o trabalho? Quer dizer, ainda temos os trabalhos dos alunos para corrigir e as provas bimestrais para fazer. Entregar o planejamento do programa especial essa semana é um pouco...

— Eu não estou vendo outro professor reclamar além de você, professora Clara. — interrompe ríspida.

— Não estou reclamando diretora, só acho que...

— Isso quer dizer... — interrompe mais uma vez, ainda mais grosseira — Que o prazo é o suficiente para fazê-lo e entregá-lo à mim.

Calo-me e apenas assinto. Fecho as mãos em punho por debaixo da mesa e procuro ficar calma, antes que o sangue brasileiro fale mais alto e eu acabe chutando o pau da barraca aqui e agora, sem me importar com nada.

Se não fosse por essa bendita tradição de respeitar hierarquia, independente se esteja certo ou não - e a qual tento me encaixar, ainda que seja uma tarefa difícil -, e as minhas contas à pagar, eu já teria mandado tudo pro espaço.

Mulher idiota!

Depois de falar e falar, somos dispensados com a sobrecarga de mais um trabalho e a obrigação de cumpri-las sem questionar. Saio da sala de reuniões e marcho direto para a minha mesa, batendo o pé e querendo correr para o mais longe possível da escola e o mais rápido possível. Começo a enfiar minhas coisas dentro da bolsa, com tanto ódio, que admira-me não ter passado a mão através do tecido.

Definitivamente, eu preciso de uma bebida.

— Clara?!

Ergo a cabeça e mando o meu olhar mais fulminante para o indivíduo que teve coragem de se aproximar, e só então percebo que é Jackson. Respiro fundo para me acalmar e dou-lhe um sorriso fraco. Ele, com certeza, não merece a minha raiva.

— Ah, oi.

— Está tudo bem? — pergunta.

— Na medida do possível. — rio fraco — Não se preocupe.

Assente e dá-me um sorriso gentil. Suspiro. Volto a organizar meus pertences para finalmente ir para casa, ainda sentindo o sangue ferver, enquanto ele permanece calado ao meu lado, o que não dura muito.

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