Capítulo 09 - Estranho

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Cansado. É isso que eu estou, muito cansado.

Essa última semana foi tão puxada, com as provas bimestrais e todos os meus outros afazeres, que, sinceramente, tudo o que eu mais quero é voltar para casa e poder me jogar na cama, sem nem uma pretensão de levantar, não até compensar todo o sono que acumulei e sinto por querer, acima de tudo, manter o meu posto de "aluno de ouro" dos terceiros anos. Embora eu não tenha muita escolha em relação à isso.

De qualquer forma, como hoje é o meu - tão esperado - dia livre e não há nem uma obrigação escolar chata para cumprir, vou aproveitar para fazer o que há de melhor na vida: nada! Acho que nunca desejei tanto que o período termine, quanto estou desejando agora. Porque, honestamente, eu só quero dormir e muito.

Fazendo a melhor expressão de compenetrado que consigo, finjo prestar atenção no que a professora de física diz enquanto luto para não cair no tédio com toda essa ladainha que ela teima em explicar pela quarta vez desde a semana retrasada, como se fosse a coisa mais importante da face da Terra e, convenhamos, não é.

— Qual é a próxima aula? — sussurro para Taehyung, sentado à minha frente.

— É a aula da sua inimiga favorita. A professora Clara. — ri baixo.

Solto um muxoxo e volto a recostar na cadeira, mas sou incapaz de segurar o pequeno sorriso que surge em meus lábios de repente, assim como a inquietação que insiste em apossar-se do meu corpo sempre que a imagem daquele par de olhos claros me vem à mente.

Ah, aqueles olhos...

Não sei por qual razão, mas desde o dia em que nos esbarramos perto das escadas e aqueles olhos ficaram tão próximos, não paro de pensar no brilho misterioso que, estranhamente, parece guardar todos os segredos do mundo. Contudo, o que eu realmente não consigo esquecer é a sensação que foi tê-la nos meus braços daquela maneira. Quente, liberta e tão atraente como nunca pensei que poderia ser. E esta sensação, dia após dia, parece cada vez mais irresistível para mim.

Sério, eu devo estar ficando maluco.

Com a cabeça apoiada sobre a mão e os dedos livres batucando no caderno, continuo observando a professora falar e falar, mas, para a minha sorte, o sinal toca e anuncia finalmente o final da aula. Suspiro aliviado.

— Para a próxima semana, quero que tragam exemplos do que foi discutido na aula, está bem?! Só para avisar, valerá nota.

Nos orienta e todos concordamos. Em menos de um minuto, arruma seu material e assim que abre a porta para sair, consigo ver a silhueta dela do lado de fora.

O inconfundível baque dos saltos que costuma usar e, diga-se de passagem, lhe dão um ar muito sensual, soam pela classe enquanto caminha em direção a sua mesa para colocar os materiais ali. No entanto, o que realmente chama a minha atenção nessa cena tão comum é a coloração vermelha de suas bochechas, o que só pode significar que ela está irritada. Mas, com o quê?

Mantenho meu olhar sobre si e, subitamente, estamos nos encarando como temos feito há dias. Procuro qualquer sinal em seu rosto que possa me levar a entender o motivo de sua irritação, porém, ela respira fundo e desvia a atenção para outro ponto e nossa frágil ligação se vai, obrigando-me a respirar fundo também.

— Abram os livros e vamos continuar com os exercícios da aula anterior.

Pego o livro dentro da mochila e espero que os outros se organizem, sem em nem um instante tirar os olhos dela. Continuo observando, buscando por uma brecha, a qual parece surgir quando Clara ergue furtivamente os olhos em minha direção e que se vai tão rapidamente quanto veio. As bochechas dela continuam tão ardentes quanto o incomodo que sinto em meu peito nesse momento.

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