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Marcus Rinaldi

O sangue escorre entre os meus dedos, o pior de ter sangue nas mãos é que eu não quero lavá-las. Não é isso que as pessoas deveriam querer fazer? Lavar as mãos sujas de seus pecados? No entanto para mim, tirar vidas não era condenável, mas necessário. Parado sobre o corpo irreconhecível do homem, vago os olhos pelos seus restos, não há arrependimento. Sem remorso, sem consciência gritando dentro de mim, já perdi a muito tempo alguma humanidade, algum vestígio de bondade que poderia ter.

— Conseguiu as informações que precisava?
— Sim, está tudo gravado, pegue-o, já sabe o que fazer.

Dante, meu segundo no comando e o mais próximo que tenho de um amigo, pega o gravador e segue para os fundos do galpão, agora é com ele e meus homens. Algum dos meus aproximam-se do corpo para fazer a limpeza. Indiferente, limpo as mãos em uma pequena pia para tirar o sangue do traidor. Estava feito, ninguém entra no caminho do maior mafioso de Nova York.

A claridade do sol frio do inverno ofusca minha vista, coloco os óculos escuro ao sair do galão. Entro  no carro e sigo de volta para a sede da máfia. Olho através dos vidros escuro e blindado os transeuntes caminhado pela calçada apressados em seus casacos pesados, alheias que eu as observo. Eu, Marcus Rinaldi, um homem frio de 35 anos, chefe poderoso da máfia, tem a cidade e os becos sujos de Nova York nas mãos, um homem que foi marcado para sempre pela vida. Não foi fácil chegar até aqui, muito sangue foi derramado. Esse não era meu objetivo de vida, não mesmo, mas as circunstâncias me fizeram assim e não há arrependimento pelo que me tornei e muito menos voltar atrás, eu gosto e quero continuar sendo um mafioso temível e cruel.

O carro para em um sinal, vejo uma mulher, ela empurra um carrinho de bebê. Sinto algo estranho dentro de mim, uma lembrança de anos atrás retoma minha mente, uma outra mulher, um bebê que nunca existiu. Aperto os olhos e lampejos de um rosto sorridente pipocam em minha mente. Meu coração acelera, a muito tempo não pensava nela, não mais, as lembranças haviam morrido assim  como ela.

Abro os olhos novamente e não vejo mais a mulher. De novo me fecho no meu mundo sombrio, onde há ódio, sede de poder e maldade. É isso que preciso para continuar suportando a maldita vida. E eu gosto disso, me alimenta e me faz poderoso.

Mas nem sempre fui assim, eu já tive vida, uma profissão, eu era um promotor de justiça, um dos melhores diga-se de passagem. Eu era um homem da lei, pagava meus impostos e minhas contas. Eu era apenas uma porra de um homem comum, como muito daqueles que andam pela calçada. Pelo menos eu pensava que era, eu queria que fosse.

E eu a tinha, meu raio de sol, a mulher por quem acordava todas as manhãs e saia para trabalhar para colocar os caras perigosos atrás das grades e assim ela tivesse uma cidade mais segura para viver. Para que pudéssemos ter nosso filho e construir nossa família em um ambiente melhor.

Em uma manhã, eu a beijei no rosto, ela sorriu para mim e disse que naquele dia o nosso filho tão esperado iria ser implantado. Eu queria ter ido com ela, era importante, eu sei, mas eu tinha um julgamento indispensável, um dos grandes, mafioso poderoso, eu precisava ganhar aquela causa e prender para sempre aquele monstro sem coração. Ela me entendeu. Foi a última vez que a vi com vida.

Eles a mataram a caminho da clínica, sem piedade, sem remorso, sem arrependimento. E eles fizeram para me atingir, eu estava mexendo com peixe grande, com sujeira tóxica da pior qualidade. E eles conseguiram me atingir e destruir, me quebraram em mil pedaços. Contudo, eles não esperavam que meus cacos seriam juntados de novo e colados com a sede da vingança. De um homem honesto a chefão da máfia em pouco tempo. Eu os destruí, um a um até tomar o cargo maior. Eu não queria menos que isso, eu queria o poder e agora eu controlo todo o crime organizado da cidade, não há outro chefe, somente eu.

Grávida do Mafioso Onde histórias criam vida. Descubra agora