10- Contos De Terror

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A mão saída de dentro das sombras tinha a pele fina como folhas de pergaminho, eram visíveis veias negras como piche nela, as suas unhas eram escuras e grandes, eu me afastei rapidamente evitando que ela me agarrasse. Eu continuei dando passos para trás, olhando aquele membro estranho que parecia tatear o ar a sua volta procurando algo, ou talvez mais precisamente me procurando. Senti minhas pernas tremerem, a curiosidade se fora, ficou apenas o terror.

_Quem é você? _Para minha surpresa eu consegui formular a frase, mas o ser não me respondeu, apenas puxou sua mão de volta para dentro das sombras. Eu continuei me afastando, os olhos sempre colados no nevoeiro negro. Estava começando a pensar que tudo estava sendo criado pela minha mente cansada quando um rosto se projetou de dentro da fumaça.

O rosto era tão pálido como a mão, as veias escuras e anormais também estavam presentes ali, elas se destacavam em sua pele leitosa. Os olhos não possuíam íris, pareciam duas fendas negras pintadas ali, o seu cabelo era comprido, deveria ir até seus ombros, seu nariz era normal, comprido e afilado, mas o que me causou mais pavor foi sua boca. O pavor não veio da boca em si, mas do que estava dentro dela, ali havia dentes sobressalentes extremamente bancos, dentre eles se destacava dois imensos caninos de aparência afiada. Os outros pareciam filamentos da arcada dentária de um tubarão, pequenos e pontiagudos, parecia haver mais dentes do que haveria em uma boca humana.

A coisa me observava de olhos semicerrados, como se estivesse forçando sua visão para conseguir enxergar na escuridão, eu parecia estar congelada ali, tamanho era o meu pavor. Ela projetou toda sua cabeça para fora e abriu ainda mais a sua boca soltando um silvo que dificilmente era humano. Aquele som percorreu toda a extensão da minha coluna, o pelo da minha nuca ficou de pé. Em um salto aquela coisa começou a correr em minha direção, a névoa como se estivesse amarrada a criatura a acompanhava, não permitindo que o seu corpo aparecesse todo sob a luz da iluminação dos postes... naquele instante o meu instinto de sobrevivência apitou forte ascendendo meus sentidos, eu me virei o mais rápido que pude e me pus a correr, literalmente estava correndo pela minha vida.

A criatura era rápida, por mais que eu corresse ela permanecia na minha cola. Aquela região da cidade era mais periférica, e apesar de não passar das onze da noite já não havia ninguém nas ruas, talvez as pessoas pudessem pressentir algum perigo rondando a região, se haviam pressentido elas não estavam erradas, o ser que corria em disparada atrás de mim soltando grunhidos animalescos dificilmente poderia ser fruto da minha imaginação. Cada vez que eu olhava para trás aquele ser horrível parecia ter se aproximado mais, eu não iria conseguir fugir por muito mais tempo.

Eu tentei correr ainda mais rápido, em um ímpeto de puro esforço consegui colocar alguma distância entre nós, em seguida virei em uma rua estreita, ali havia algumas latas e sacos de lixos na calçada, eles eram enormes, então calculei que minha melhor chance seria me esconder ali. Eu me agachei atrás deles, consegui ficar bem escondida, pela primeira vez na vida agradeci internamente pelas pessoas amontoarem seus lixos nas calçadas.

Não demorou muito eu pude ouvir os passos da criatura atrás de mim, para o meu desespero ela virou exatamente na rua em que eu estava. Ela veio arrastando os pés, como se não sentisse mais a necessidade de correr, aumentando meu desespero. Todos os sons da cidade pareciam ter sido engolidos naquele instante, a única coisa que eu ouvia eram os passos do monstro e sua respiração, pois ela respirava pesadamente, era como um cachorro farejando a sua presa. De súbito ela se calou e eu rezei para que isso significasse que ela havia ido embora, mas não. Em um movimento rápido vi os sacos de lixo serem arrancados com violência da minha frente.

Ali estava o monstro, ainda mais repugnante visto de perto. Ele olhou para mim com seus olhos negros e sorriu como se zombasse de mim. Ele emitiu um silvo gorgolejante... não, não era um silvo... eram palavras, e o mais estranho, eu podia compreendê-las.

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