A Ordem Da Lua

57- O Sangue da feiticeira

A escuridão tomou conta do túnel em que eu havia me lançado na tentativa de alcançar Cassandra e Theodor. A voz potente do Tyler que antes se sobrepunha ao som das pedras esmagando o solo agora não passava de sussurros sepultados pela grande rocha que me separava dos meus amigos. Um calafrio percorreu a extensão da minha espinha, trazia consigo mal agouro, podia sentir que me separar dos meus amigos não fora a melhor das minhas cartadas, mas o que eu poderia ter feito? Meu grupo carregava um grande fardo, o fardo de mesmo que enganados termos colaborado com os planos escusos tramados por membros da ordem que nas sombras arquitetavam planos para tornar presente uma realidade onde Murdoch pudesse reinar em nosso mundo. Tendo feito o certo ou não enquanto eu corria pela extensão do túnel tomado pelas sombras eu só conseguia pensar em como eu queria que Tyler, Natasha e Peter estivessem correndo ao meu lado, nesse momento eu pedi aos céus que eles tivessem conseguido fugir do desabamento e estivessem bem.

Eu não consegui mensurar com exatidão por quanto tempo corri, eu já não tinha Cassandra ou Theodor no meu campo de visão, então eu apenas sentia necessidade de correr o mais rápido que eu podia. Os baques surdos dos meus pés se chocando contra o solo arenoso do túnel pareciam os brados de algum fantasma extra corpóreo que me perseguia em meio ao caos. Eu amaldiçoei o vestido que eu antes usava como disfarce, graças a enfadonha vestimenta eu tinha que correr segurando uma camada de tecido em minhas mãos para não acabar tropeçando e caindo. De súbito um clarão iluminou a minha visão.

Eu adentrei em uma galeria iluminada pela luz de archotes flutuantes, o desmoronamento não conseguiu alcançar essa parte da construção, ela permanecia intacta, seu teto de pedra cinza e porosa sem nenhuma mácula, de início eu pensei que estava sozinha pois a quietude no local era tamanha que se tornava fácil ouvir até mesmo minha pesada respiração preenchendo o espaço. Ao levantar minha cabeça e analisar com calma o espaço ao meu redor pude notar que eu estava bem longe de estar só.

Cassandra e Theodor se encontravam parados em uma extremidade da galeria. Cassandra tinha em uma de suas mãos uma pedra da Lua, ela pressionava a mão sobre o coração de Theodor, ela irradiava energia da Lua por toda a extensão do corpo do mestre da Ordem, a mística sem dúvida nenhuma possuía habilidades impressionantes pois os ferimentos feios de Theodor pareciam ter sido apenas falsos devaneios do passado. Cassandra por outro lado não parecia assim tão ferida mais, ela tinha uma postura ereta e provocadora, me olhava sorrindo docemente como se fôssemos amigas de longa data. Meu antigo mestre estava com a cara mais fechada em uma expressão não tão satisfeita, penso que sair tão ferido do confronto com uma adolescente desbocada e um adolescente vindo até tão pouco do mundo humano não estivesse nos planos dele.

Nesse instante eu passei a estranhar a situação, eu estava os perseguindo mas no rosto deles havia uma certa urgência, como se eles me esperassem ali, novamente o arrepio frio beijou a minha espinha de forma demorada como a carícia de um amante apaixonado. Meus sentidos explodiram em alerta, alguma coisa estava muito errada ali, de leão perseguidor eu passei a ser apenas um rato preso em uma ratoeira.

O primeiro a se pronunciar foi Theodor, ele agarrou a mão de Cassandra e retirou de cima do seu peito, ele deve ter feito isso de maneira um pouco brusca pois a mística reclamou manhosa. _Cassandra _ele disse com uma voz mais forte do que estava acostumada a ouvir sair da boca do mestre até pouco tempo de aparência reservada e séria _Agora você já tem tudo que precisa certo?

A mulher o olhou divertida e arqueou a sobrancelha para mim. _Bem, eu ainda não tenho tudo, pois tenho uma laranja gorda na minha frente _ela apontou para mim em um gesto de cabeça _mas falta espreme-la.

As palavras de Cassandra me deixaram confusa, o que aquela mulher estava dizendo agora? Eu não sabia ao certo o que dizer, não queria que minhas palavras traíssem a minha ansiedade, o que o Tyler diria a Cassandra em uma situação dessas? Pensei. Conhecendo bem o meu amigo ele iria tentar gracejar diante do perigo. _Está me chamando de gorda? _tentei imitar o espírito provocador do meu companheiro.