A VONTADE DO FOGO - SAGA DO FOGO/LIVRO 03

1 - O início da caçada

K Y R A 

O pesadelo veio igual a todos os outros, Kakashi me encarava com dor, a mágoa em seus olhos me machucava, mas não importava o quanto eu corresse não era capaz de alcança-lo. Cada vez que eu me movia mais longe ele parecia estar. Acordei ofegante no escuro sem fazer ideia das horas, o teto da caverna me encarava de volta, o pesadelo ainda vivo em minha mente. Minha respiração era pesada e pela primeira vez aquele quarto de pedra estava quente, o suor escorria por minhas costas deixando a camisola molhada.

 Arrastei-me para fora da cama ainda pensando em Kakashi e em como ele estaria, tentando controlar minha pulsação disparada.  A saudade vinha em ondas, grandes demais ao ponto de me afogar em tanta dor, minha pele queimava só de pensar nele e aquele medo horrivel de que ele estaria correndo perigo me paralisava. Lavei o rosto esperando que a agua fria pudesse clarear meus pensamentos e afastar aquela terrível sensação, o pavor de nunca mais vê-lo. 

Coloquei o robe indo em direção à sala e encontrando Tobi tomando um chá em frente à lareira anotando coisas nos seus pergaminhos, seu rosto era concentrado e fixo, as linhas de sua expressão estavam tensas e um vinco se formava em sua testa. A bandagem cobria seu olho esquerdo e o cabelo um pouco grande caia por sua testa.

As cicatrizes sequer faziam diferença, principalmente quando ele sorria e havia uma parte de mim que se orgulhava por sempre conseguir fazê-lo sorrir. A risada de Tobi era aquele tipo de risada que fazia você querer acompanhar, era grave e rouca. Pigarreei chamando sua atenção para minha presença, ele ergueu os olhos e deu um sorriso preguiçoso.

- Finalmente você acordou, eu já estava ficando preocupado – ele disse abrindo um espaço para que eu sentasse ao seu lado.

Caminhei até ele e observei os pergaminhos, eram informações sobre os Jinchurikis. Ergui uma sobrancelha para ele.

- Já está ciente que o plano começou, então? – Indaguei me sentando e pegando uma xícara de chá para mim.

Ele maneou a cabeça em confirmação, em breve ele se juntaria a Akatsuki também, entraria efetivamente na organização esperando que isso pudesse ajudar a capturar as bestas. Seu plano consistia em incorporar uma personalidade alegre e inconveniente, um criminoso meia boca que Zetsu achou no meio da rua. Ele havia me feito prometer não contar a ninguém a verdade. 

Eu estava virando um baú de segredos e me perguntava o quão ainda conseguiria lidar para tentar salvar todos eles de uma vez. A sensação que eu tinha era que tudo estava diante de mim pronto para ser concertado e eu não sabia como fazer funcionar. Era como estar presa em uma partida de shogi, em um movimento arriscado onde qualquer coisa que eu fizesse sacrificaria todas as outras peças. Eu não tinha ideia de como me mover, de como falar ou agir. Não quando eu me importava com ambas as partes. 

Tobi se recostou no sofá, ele vestia uma camisa de malha de treinamento e ela se agarrava em seu peito, desviei os olhos encarando o chá frio em meu colo.

- Então – Tobi pigarreou – dormiu bem?

- Não muito, agora que o plano começou de verdade eu tenho pensado muito em konoha, eu temo pelo que pode acontecer – expliquei concentrada nas pequenas ondas do liquido.

Ficamos quietos um momento e a lembrança do nosso quase beijo pairou no fundo da minha mente, aqueles segundos em que eu me senti completamente tomada por ele. Eu estava naquele lugar há muito tempo, ele era meu amigo e na maior parte do tempo era Tobi que conseguia me manter centrada e nos eixos, eu não devia confundir as coisas. 

Ainda havia amor pelo Kakashi, um amor que ainda preenchia cada parte de mim e fazia meu peito doer, um sentimento capaz de mover céus e terras, o tipo de sentimento que me fazia querer gritar, escrever poesias e chorar de tanta saudade, então não era justo envolver Tobi nessa história.