A VONTADE DO FOGO - SAGA DO FOGO/LIVRO 03

12 - Desconfiança

 K Y R A

- Você parece inquieta – Tobi reparou depois que eu reorganizei a estante pela terceira vez – o que está acontecendo?

- Estou com a cabeça cheia – respondi movendo os vasos de planta.

Eu estava assim desde o encontro com Genma, não parava de imaginar o que estaria acontecendo na vila e se ele tinha contado aos outros que eu estava viva. Pior do que isso seria acharem que eu era uma criminosa, o que era verdade, afinal eu cometi todos os crimes que a organização tinha mandado. Mas me preocupava a opnião deles sobre mim, pensar que de alguma forma isso magoaria Tio Asuma, minha mãe ou envergonharia o Kakashi.

Zetsu tinha se mantido quieto sobre o que houve na estrada dias atrás e mesmo que tivéssemos completado a missão ele não me fez perguntas.

Era indiscutível a influencia que Tobi exercia, estava bem claro que meu companheiro de casa era mais importante do que deixava parecer e aquilo estava começando a me incomodar. Tobi tinha muito mais segredos e as revelações sobre seu passado ainda eram vagas e desconexas.

- Kyra já chega – Tobi se levantou segurando minhas mãos – precisa se acalmar.

Eu precisava de um plano e ter noticias sobre aldeia da folha. Vovô sempre me mandava colocar a cabeça no lugar e agir racionalmente e não regida por impulsos. Analisei a situação, como eu poderia me comunicar com eles sem coloca-los em risco? Tobi me encarava com firmeza, as sobrancelhas franzidas procurando entender o que se passava comigo. Libertei meus punhos do seu aperto e maneei a cabeça despejando uma desculpa de que eu precisava descansar.

Peguei minhas sandálias e corri porta a fora na direção da floresta, absorvendo ar puro e liberdade. Disparei entre as árvores com pressa cobrindo uma boa porcentagem de quilômetros antes de parar ofegante nas margens do lago prateado.

Fechei os olhos tomando folego e mordi o polegar invocando Sina. A águia real surgiu em uma explosão de fumaça e seus olhos âmbar me encararam com curiosidade.

"Algo errado, minha senhora?"

- Preciso que leve um recado para konoha, diga que tenho novidades, mas que seria prudente fazer isso pessoalmente. Estarei no país do fogo, dentro de três dias, na cidade portuária de Torifu – expliquei em voz baixa.

"Retornarei em breve" ela falou e levantou voo com pressa batendo as asas.

Escorei-me na árvore ás margens do lago e coloquei a cabeça entre os joelhos tentando suprimir a onda de pânico que se aproximava. Fechei os olhos tentando respirar com calma apesar da sensação de asfixia que se acumulava no meu peito, eu estava assustada. 

Meus músculos tremiam e eu pressionei as unhas nas palmas das mãos esperando que a dor me ajudasse a suprimir a crise. As lágrimas vieram logo depois disso, eu sentia um desespero tomar conta do meu corpo, era medo, medo cru e imenso. Eu me sentia sozinha como nunca, tantos segredos que eu guardava e apesar de estar com Tobi eu não confiava plenamente nele e isso começava a borbulhar com mais intensidade, principalmente depois do que Zetsu tinha dito semanas atrás.

Eu questionava o quão mais sobre ele eu não conhecia e se ele teria coragem de me machucar se eu divergisse dos seus pensamentos. Por ora eu trabalhava com ele, mas e quando chegasse o momento de voltar para Konoha? Ele me impediria? Eu me recusava a acreditar que ele seria capaz de me ferir. Eu ainda não tinha muito com o que sustentar minhas teorias e precisaria de máxima cautela se quisesse descobrir mais. Zetsu e Guruguru eram leais demais a Tobi e me cortavam ou mudavam de assunto quando eu queria saber mais sobre ele. Seu quarto era um mistério, as portas sempre trancadas e quando ele estava em casa não deixava muito a vista pelo cômodo.