IV- Primeira verdade

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E aquele amanhecer parecia ter sido pintado por um artista realmente talentoso. O céu limpo nem parecia ter sido palco de raios e trovões deverasmente assustadores, nem as estradas continham as marcas do lamaçal do dia anterior.

Ela queria cavalgar, fugir a toda velocidade pelos campos da Inglaterra e se refugiar na velha e decadente França, e ser apenas uma das muitas netas de uma comerciante velha.

Talvez apenas, uma volta no bosque, o que teria de mal uma noiva a correr pela floresta a cavalo no dia do seu casamento. Vestiu-se rapidamente, desconfiava que seu noivo estivesse a espreita-la, e não queria que ele tivesse a chance de segui-la novamente.

E assim tirou dele a possibilidade de segui-la, ao sair com o cavalo preferido do duque, e sorriu sentindo-se muito esperta, e como se universo preparasse uma nova piada, sua corrida livre e despretensiosa, a levou diante da igreja onde selaria seu destino.

O que desejava? Que ele entendesse as coisas que ela tinha feito por necessidade, que ele a segurasse e garantisse que ia ficar tudo bem, que ela não era meramente uma mercadoria indesejada por ele. Que ele a visse como ninguém via uma mulher, como um ser humano.

Fora uma estupidez acreditar que tudo se resolveria, fez o cavalo acelerar pra longe dali, olhou a velha árvore, e saltou sentindo-se ridículamente feliz pelas pequenas indiscrições.

Depois de mais uma noite em claro vagando entre lembranças ele a vira sair, e claro no seu cavalo, correu para os estábulos, e avistou Juliete.

— Consegue encontrá-la menina? Consegue né? — O Duque, selou a égua e partiu atrás da noiva.

E o que se seguiu pareceu saído de uma pintura realmente bela, sua noiva completava a perfeição da cena. Ela saltava como um cavaleiro de verdade, um desses que se apresentavam em competições, e então se recordou que o conde quando adolescente tinha ganho prêmios em conjunto de equitação completo. E a seguiu por que necessitava de um desfecho, por que era do seu interesse silenciar as paixões que o mantinham acordado, e seguir pra nova estapa da sua vida que era o casamento. E como tinha dito seu pai em uma curta missiva, "não me envergonhe, sendo um marido miserável".

Ela era rápida, e ele se desdobrou para segui-la, olhando o modo como ela pulava obstáculos, como não se intimidava com terreno acidentado ou com as árvores, arbustos e pequenos riachos.

E então entendeu que ela estava se despedindo das coisas que realmente gostava, da sua vida de moça solteira, como se ele fosse um ditador, que tiraria tudo dela. E então se viu como um tolo, mesmo que pudesse dar a ela toda a liberdade que pudesse, ela era a irmã de um conde em um condado pequeno, onde todos a viam como uma parente querida, para ir a fria Londres, diante da sociedade esnobe, que exigiria mais que perfeição dela. Que faria dos dias dela com seu jeito peculiar, um sofrimento atroz.

E então ele assustou-se, ela chegara perto de si sorrateiramente, e ele tinha se desequilibrado, e ela se movera rápido para segura-lo, fazendo os dois escorregarem entre os dois cavalos.

— Tem muita força pra uma lady bem nascida. — Ele pontuou.

— Ser bem nascida, não significa que a vida seja fácil, no meu caso de tornou necessário todo tipo de habilidade, e foi deveras pesado. — Falou encarando-o.

— Ser mulher é muito complicado, não é? — olhou as bochechas delicadas corarem. — Ser minha noiva tornou tudo pior...

— Não se faça de tão importante, meu noivo. — Virou-se para partir. E ele a segurou — Solte-me.

Os olhos ficaram presos um no outro, e como se o mundo parasse ao redor, nem os cavalos moviam-se mantendo os dois próximos. 

E então tudo saiu do controle, e Hinata soube que não era possível voltar atrás. — Por que cortou seu cabelo? — As mãos dela tocaram os cabelos dele ainda curtos. E logo os lábios estavam nos dele, buscando algo que ela sabia não lhe pertencer.

Mistério reveladoOnde histórias criam vida. Descubra agora