VII- Primeira declaração

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A paisagem bucólica que se descotinava a frente colocava na direção certa, a rota mais rápida e segura para um trio de mulheres disfarçadas de homens.

Contudo, enquanto passavam por acres de campos dourados prontos para a colheita de nada mais nada menos que a propriedade de verão do seu esposo, com orestas escuras repletas de vida selvagem, deu-se conta de uma surpreendente ambivalencia em relacao ao seu antigo lar, e o que ocupava agora.

Aquela fora uma vida dolorida que tinha feito ela odiar o campo. E a sociedade londrina não parecia muito melhor, com sua busca incessante por moda e diversão e suas regras onde elas não cabiam.

Nunca teria pensado que gostaria de um lugar como Hampshire, mas… era possivel ter uma vida de verdade ali, pensou, melancólica. Uma vida que ela poderia desfrutar plenamente, em vez de sempre ter de se perguntar e temer sobre seu futuro.

Por que seu marido não a levara ali, estivera na luxuosa residência dele, muitos anos antes como uma mera criada, tinha brincado nos campos de rounders, tinha vencido uma competição de salto, e tinha levado para casa o sustento por algumas semanas. Na ocasião o ruivo estava em Anton se preparando para o seu futuro, o Duke Rasa era um homem sério, com filhos peculiares, e ela sentia que teria neles aliados, se estivessem ainda em Londres.

Mas Temari, tinha partido para América casada com um simples comandante de navio mercante, e Kankuro, bem, o rapaz não sabia como ser o tipo de homem que se esperava dele. E o homem sério, que todos consideravam rígido, tinha partido pra América para o bem dos filhos mais velhos.

Mas Gaara, seu marido exalava aritocracia por todos os poros, o ruivo era austero e vivia impecavelmente vestido, era a imagem perfeita de um aristocrata inglês, com a gravata ajustada com esmero e os cabelos fartos que apesar de rebeldes, tinha uma classe que ela não sabia ser possível em um cabelo.

Suspirou, vendo Sakura se aproximar dela, a amiga não concordava com a decisão dela, mas de algum modo queria se afastar também de Londres.

Tenten estava mais que satisfeita, de ir visitar a madrinha que a criara, deixando pra Neji gerir a confusão que a fuga dela causaria.

Tinham trocado as parelhas de cavalos com muita frequência, estavam calvalgando muito rápido, correndo contra a possibilidade de serem reconhecidas ou alcançadas pelo Duque.

Eram três Amazonas, Sakura a melhor delas, Tenten tinha passado muitos anos sem cavalgar, mas era tão boa quanto as outras, compensava com sua vontade e teimosia.

E entao logo os cheiros da propriedade a tomaram, Tsunade tinha uma vasta plantação de lavanda, e aquela era a antiga propriedade da família, a única coisa que a cunhada aceitara que Hinata lhe desse.

Tinham sido recebidas com uma dose de espanto pela loira bonita, e espansiva, e logo tinha as acomodados para um descanso merecido.

Já Gaara recebeu das mãos de seu valete a missisva deixada por ela, cambaleou até o próprio escritório, deixou-se cair na poltrona, e abriu febrilmente o papel.

"Antes de qualquer coisa, eu te amo."

E a visão dele turvou, as mãos tremeram, e o papel caiu no chão. Correu até suas gavetas, e lá estava presa em um fita velha e desbotada, as cartas de sua "Lua".

E a letra era dela, e mais um mistério se foi, justo quando ela decidiu deixá-lo. E lembrou-se dela reclamando dele nunca ter respondido suas cartas, e abriu a caixa, onde seu valete tinha jogado as cartas que ele nunca tinha lido. E como o homem era sempre eficiente, estavam arrumadas por data. E ele abriu a primeira.

"Meu lorde, eu já não podia me ocultar de ti, não depois de o ter visto, e meu coração se encantou. Devia se ater, as normas de decoro, senhor meu noivo, já que tens um compromisso, meu coração é seu, e já não podia me deixar oculta."

E as cartas seguiam enquanto seu coração se apertava, eram doces declarações, que ele não sabia como lidar. E então uma já mudou o tom e ele se sentiu no meio de um suspense doloroso.

"Este ano, não foi dos mais fáceis mas já vivi piores, poder vê-lo a distância, pelos parques da cidade muito me acalentou, se não houver, nenhuma breve linha, saiba que talvez eu já não tenha mais como ser uma pobre e sonhadora menina."

Não havia nada além, nenhuma brincadeira sarcástica, nem sonhos pueris que tanto saltavam aos olhos nas outras cartas, nem histórias do campo, nem palavras carinhosas.

" senhor meu noivo, jurei que viria a mim antes que eu necessitasse lhe implorar socorro, finalmente os credores nos levaram tudo, já não há sequer lenha para nos aquecer no inverno vindouro. Troco sua liberdade do nosso compromisso, por um pouco de ajuda, qualquer que seja. No aguardo de notícias suas.

E seu coração gelou, como fora irresponsável e fanfarrão, a notícia tinha corrido toda a Londres, o jovem conde tinha perdido o processo contra os credores de seu pai, e tinham perdido tudo.

A próxima carta era do começo da semana seguinte.

" Senhor meu noivo, será o guardião de um tenebroso segredo, recebi uma proposta muito indecorosa, porém irrecusável. Meu irmão necessita do meu auxílio e socorro, e como não há resposta suas, e o vejo incapaz de uma generosidade sincera, vou eu terminar com toda e qualquer esperança van. Sua Lua se sente completamente enganada, e desolada."

A boca ficou amarga, e ele sequer notou as lágrimas que escorriam dos próprios olhos pálidos. Rasgou o envelope da próxima carta e logo notou a mudança do papel simples e grosseiro para um sofisticado.

"Se te preocupa saber, já tenho um teto seguro, comida e roupa quentinha, se é que um dia te preocupou a situação deplorável da família de um amigo de seu pai, e de sua própria noiva.

Se te importa saber ainda sou uma donzela a espera de alguém que não sei se um dia virá. Ando pela noite com um sorriso travesso nos lábios e o coração em pedaços.

Recorri a única forma de uma mulher a beira de ser atirada a rua se manter, não, ainda não recorri a prostituição, apenas a de uma criminosa se apresentando como atriz. Já atuei muito nesta minha curta vida de desventuras. Prazer, Maeve Léa."

E então a última carta de sua noiva, queimou entre os dedos, o medo ardeu-le como uma bofetada.

"Senhor meu noivo, não há mais um sorriso para que eu posso me sustentar, hoje me chega uma proposta sua, uma proposta de me fazer sua protegida, ou melhor dizendo amante. Sempre me perguntava, o por que de nunca me responder, e agora acho que o entendo, donzelas são intediantes, muito melhor mulheres ousadas, a frente de seu tempo, cortesas francesas.

Minha esperança de viver um conto de amor se esvai, justo eu que mesmo em seu silêncio, nunca deixei de estar enamorada de ti. Quando finalmente o dever bater a sua porta, e descobrir quem eu sou, espero que tenha a decência de me exilar perto dos que me amam.

Sua lua, sua donzela, sua cortesã.

Apenas sua."

Voltou-se tropego a carta abandonada no chão.

"Antes de qualquer coisa, eu te amo. Mesmo que não o seja sensato, eu te amo, mesmo que me doa, eu te amo, mesmo que eu me sinta a mais miserável das criaturas, eu te amo.

E te amando eu me despeço, para que possa escolher livremente sua vida, para que possa estirpar a vergonha que me tornei em seus dias, para que possa sorrir como antes o fazia, e estar na casa que tanto gosta.

Eu sonhei, como a menina tola que ainda sou, e amei como uma donzela sofrida que venceu sozinha sem seu príncipe encantado, e me vou como a mulher forte que me tornei.

Antes de qualquer coisa, eu te amo, mas me amo muito mais."

Mistério reveladoOnde histórias criam vida. Descubra agora