vinte e sete

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Acordei tarde com as risadas dos meus pais, eles estavam felizes e animados. Saí até a cozinha onde eles estavam, minha mãe cozinhava enquanto meu pai arrumava sua gravata.

"Vê se chega antes das oito! " Ela o advertia.

"Vocês vão mesmo fazer essa festa? " Perguntei sonolento.

"Querido você vai depois de amanhã, finalmente vamos nos livrar de você! " Ela riu junto com meu pai. Era bom vê -los assim, eu me lembro o quanto eles queriam outro filho.

"Chama todos os seus amigos, hoje vamos festejar até o sol raiar!" Meu pai disse dançando de forma desengonçada, sinceramente não consigo enxergar o porquê de um festa, um jantar ou só uma ligação está ótimo, mas isso com certeza não seria atitudes tomadas pelos meus pais exagerados.

Peguei uma xícara de café olhando pra eles, parecia uma família de comercial, unidos e felizes, Eu nem tanto, mas eles sim.

Olhei a sala, ela estava toda revirada com os móveis afastados. Um amontoado no outro, suspirei ficando com preguiça de arrumar minha casa pra "festa". Voltei pro meu quarto e tomei um banho.

Peguei a bicicleta e pedalei devagar pela minha rua. As casas, as pessoas, tudo ali era tão familiar, as coisas aqui tinham uma história, a minha história e eu iria embora para começar outra totalmente diferente.

Eu não me sentia obrigado de ter que sair e fazer faculdade, eu queria isso mesmo, porque eu sempre quis. Mas vê que isso realmente vai acontecer e você vai deixar de morar com seus pais e não vai mais ver seus amigos é um choque de realidade, o tempo passa tão rápido pelos nossos olhos que quando paramos pra perceber, já somos outras pessoas com ideias e opiniões diferentes.

A vida é assim mesmo, rápida, imperceptível e passar por todos esses lugares por onde costumei passar toda minha infância só me fazia ter saudades, principalmente de Mônica e dos planos que fizemos.

Encostei minha bicicleta e me sentei na calçada, vendo as crianças brincarem na rua. Quando as coisas começaram a mudar assim? Caio cheio de compromissos na igreja ao lado da sua namorada, Leonardo planejando viagens pra longe agora que tinha seu próprio carro, Ammon e Daniel com sua passagem marcada pra bem longe de casa, seja lá o que vão fazer, agora eles eram donos dos seus narizes, e eu indo embora pra fazer faculdade, quem diria.

Passei em um supermercado e comprei algumas coisas para a festa na minha casa, liguei pra algumas pessoas avisando e voltei, deviam ser umas sete da noite.

"Por onde andou? " Minha mãe perguntou de toalha. "Vá se arrumar já já os convidados estão aí" correu até seu quarto.

Olhei a sala, estava impecável e bem espaçosa. Olhei a caixa velha que tinha o Globo de luz e algumas luzes, encaixei o Globo bem no teto da sala, E as luzes bem espalhadas. Fiquei testando as luzes da festa até meu pai chegar e me ajudar com as caixas de som.

Ligamos o som no último volume e eu escolhi algumas músicas, desliguei a luz da sala deixando ser iluminada apenas pelo Globo. Alguns amigos do meu pai chegaram gritando e jogando algumas sacolas no sofá espremido no canto.

"Aqui ta pegando fogo! " Ele gritou pro meu pai que ria, fui o DJ por meia hora e depois que vi que tinha chegado gente o suficiente pra animar as coisas fui pro meu quarto me arrumar.

E quando desci, minha casa estava abarrotada de pessoas, todas dançando músicas retrô, principalmente meus pais.

Vi meus amigos rindo e fui até eles.

"Olha quem ta vindo" Eles gritaram, a música estava realmente muito alta. Ri deles dançando, Caio nos apresentou sua namorada, Daniela. Conversamos animados, os amigos do meu pai tinham trazido bebidas e tudo bem pra todo mundo, já que todos bebiam.

De repente percebi que todos estavam dançando em casais, e eu tinha sobrado, peguei mais uma cerveja e continuei "dançando ", sozinho. Comecei a me sentir tonto e fiquei rindo sozinho, as coisas giravam e as luzes que piscavam estavam me cegando.

"Para um pouco meu filho" Minha mãe disse pegando minha cerveja.

"Larga isso" puxei a cerveja da minha mãe saindo de casa, Eu estava cego pelas luzes e surdo pela música.

Balancei minha cabeça, e acabei caindo na calçada. Eu não conseguia me levantar as coisas giravam feito loucas.

"Que droga! " Pressionei os olhos com força.

"Eduardo? " Levantei a cabeça tentando enxergar quem era.

"Você tá bêbado? " Ela perguntou rindo.

" Me ajuda a levantar" disse meio grogue e ela soltou uma gargalhada.

Segurei em seu ombro tentando fazer minha cabeça parar.

"Veio pra festa? " perguntei.

"Na verdade, não fui convidada". - A olhei e seus cabelos estavam mais loiros que o normal.

"Desculpe". Tentei sorri

"Está assim pela Mônica? " Bufei tirando minha mão do seu ombro. " Espera me escuta".

" Lia sinceramente, eu não tô afim de ouvir, estou meio que afogando as mágoas agora, então ou soma ou some". Caminhei para longe da minha casa.

"Ou soma ou some? Ah me poupe! " Ela disse vindo atrás de mim.

" Significa, ou você me faz esquece-la ou você me esquece! " Pisquei pra ela que soltou outra gargalhada.

"Olha, sei que é um cara legal por isso vou te dar um crédito". - Me sentei no banco da calçada e ela se sentou ao meu lado.

"Me diz o que aconteceu"

Suspirei dramaticamente olhando o fundo da garrafa da minha cerveja.

"Eu a vi com outro, bem mais velho que eu".

Ela olhou para minha cerveja e a puxou de mim tomando um gole.

"Eu sei quem é". a olhei bruscamente.

" Você conhece? Eles tinham alguma coisa? "

"Ah é, mas não era só alguma coisa era A coisa inteira"

Tomei minha cerveja de volta, e a virei dando o último gole.

" Estou disposto a ouvir". Falei decidido.

"Ela o conheceu na metade do primeiro ano, e depois ele começou a perseguir-la, E pelo que eu sei ela gostava dele, só que era tipo um segredo"

"Da pra ir logo pra parte em que ela me trai? " A interrompi.

"Escuta! Eles se amavam, ou pelo menos ela o amava, foi o primeiro homem que ela teve, mas aí descobrimos que ele era casado e ele quis que ela fosse uma amante, e ela jurou pra mim que não faria isso, mas fez, foi por isso que começamos a brigar e ela ficou tão diferente depois disso, parecia o tempo todo desconfiada de mim como se eu fosse contar pra todo mundo, Eu era contra sabe, porque meu pai traiu minha mãe e eu não queria que ela fosse a outra, mas ela não parava de vê -lo e os encontros ficavam mais frequentes até que a filha dele descobriu e começou a ameaça-la, e por um instante ela achou que eu tinha alguma coisa a ver com isso, E foi desde aí que a guerra entre nós duas começou, e você do nada apareceu e ela parecia ter voltado a ser a Mônica de antigamente". Ela me olhou seria. "Apesar de tudo, eu acredito nela!"

A olhei fitando bem seus olhos firmes e decididos.

"Eu acredito que ela tenha largado ele por você! Seja lá o que você viu, tem outra explicação. Eu sei que isso parece confuso, mas depois de todo esse tempo com esse cara eu vi o quanto ela não estava feliz, ela se via como um pessoa horrível, e era cabisbaixa e quando começou a falar com você, ela ria mais, e estava radiante o tempo todo, Eu tentei falar com ela, mas Mônica ainda tem raiva de mim, Eu sei que eu errei feio, mas me arrependi e se eu pudesse voltar atrás". Ela me olhou nos olhos "Eu voltaria".

Ficamos calado nos olhando, até ela se levantar.

"Boa viagem pra você." disse indo embora.

Continua...

Eduardo e MônicaOnde histórias criam vida. Descubra agora