Capítulo 1

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Hande

- Mais forte!

Gotas de suor escorriam por todo o meu corpo enquanto eu concentrava o movimento certeiro de meus punhos em direção ao saco de pancada que Diego, meu namorado, segurava. A frustração por ter sido deixada de lado em uma missão estava me corroendo. Eu era a melhor, por que ele não havia me escolhido?

- Você precisa focar! Concentra! – ele continuou, aumentando minha raiva por estar sendo corrigida. Meus golpes com frustração e raiva não foram uma combinação.

- Mas que droga! – reclamei e dei um chute mais forte, escutando Diego segurar a respiração pelo impacto em seu estômago. Sorri sem graça enquanto tirava as luvas – desculpe.

- Amor, você precisa se concentrar. Está muito distraída. – ele disse se aproximando de mim para me abraçar. Recuei. Suado não. Ele riu, sabia que eu odiava contato assim com corpo suado... A não ser no momento certo, obviamente. – Qual é, Han? Estamos há 6 anos juntos, já passamos da fase de não se abraçar ou se beijar por causa de suor.

- Não é fase, é higiene. – falei de costas enquanto arrumava minha bolsa para sair da academia.

- Você não reclama do suor quando estamos sozinhos na sua cama... – Diego disse me puxando novamente e me encurralando na parede. Dei um selinho rápido e fugi de seus braços.

- Então depois nos encontraremos para suar esse suor. – dei uma piscada, recebendo seu lindo sorriso em resposta e saí em direção ao banheiro da academia.

Diego Fernandez era um moreno forte, tatuado, de olhos negros e beleza estonteante que havia crescido comigo. O conheci quanto tinha apenas 5 anos e ele sempre esteve ao meu lado desde então. Ele havia sido minha única companhia na infância, tive minha primeira paixonite por ele e comecei a treinar também ao lado dele e com ele. Com 5 anos de diferença, ele sempre foi meu "mentor". O que ele fazia, eu também queria fazer. Tornamos-nos melhores amigos, saíamos para beber juntos, nosso espírito da adolescência nos fez aproveitar muito nossa liberdade como dois jovens atraentes até que a relação evoluiu quando completei 18 anos. Diego era meu porto seguro e eu sabia que para mim não haveria mais ninguém, por isso eu o amava.

Cheguei no banheiro do prédio que, graças ao horário, estava vazio. A CTLT (Central de Treinamento de Luta e Tática) ficava movimentada o dia todo em todos os dias da semana. Era frequentado por mafiosos, traficantes e policiais que fingiam não saber suas identidades e ocupações e agiam como melhores amigos. Não me pergunte como isso dava certo, eu não fazia ideia, apenas ficava agradecida pelo passe livre em um horário que não seria vista por ninguém.

Insônia também era algo que me perseguia a vida toda, dificultando minhas noites de sono se não houvesse bebidas ou muito sexo para me esgotar. Quando não era possível, eu me trancava na academia da CTLT e treinava até ficar exausta o suficiente para apagar e ter uma bela noite de descanso. Era ótimo quando Diego me acompanhava pois os esforços extras com ele me rendiam horinhas a mais de sono.

Tirei minha roupa, soltei meu cabelo e entrei no box, relaxando instantaneamente ao sentir a água gelada entrando em contato com minha pele e meus músculos. O tempo estava frio lá fora, mas água gelada sempre ajudava a relaxar.

Fechei meus olhos enquanto massageava meu couro cabeludo e lembrei do dia, sentindo a frustração novamente. Eu, Hande García, sou piloto de carregamento do Cartel Sinaloa. Sim, o maior cartel de drogas do México. Não me pergunte sobre o que acontece por dentro que eu não sei exatamente. Meu pai, Ismael García, apesar de líder do cartel, sempre me deixou longe da coisa propriamente dita. Apesar de não termos uma relação daquelas de pai e filhos de filmes, eu sentia seu cuidado por mim. Basicamente eu havia sido criada por Nana, uma senhora fofinha que fora minha babá por anos. Desde criança, tive tudo o que queria, dinheiro nunca havia sido problema, eu tinha minha cobertura com seguranças até os ossos e, claro, meus bebês eram a forma que ele tinha de me manter longe de tudo, mas inserida e perto dele ao mesmo tempo. Os treinamentos, a luta, as aulas de tiro e, até mesmo a presença de Diego, sempre foram, de alguma forma, presentes dele para mim. Além de ser grata por ele ter me tirado de um orfanato qualquer esquecido em alguma cidade da Turquia. Ele não gostava de falar, mas como eu perguntava demais sobre minha mãe, ele finalmente havia me contado que eu fora adotada em uma viagem dele e de Ortiz, pai do Diego e braço direito do meu pai, em países do Oriente Médio.

ŞAH MATOnde histórias criam vida. Descubra agora