Capítulo 3

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Hande

Anteriormente...

- Disponha. Olha, iremos passar um mês juntos aqui, sem poder sair. Respeite meu espaço pessoal que respeito o seu e não teremos problemas.

- Ok, de acordo. Se nos mantivermos longe um do outro, seria mais saudável e menos autodestrutivo. – concordei com a cabeça e segui para a cozinha.

Verifiquei a geladeira e a vi vazia. Precisaria reforçar os mantimentos. Peguei a chave do carro e caminhei até a porta.

- Você vai sair? – Hande perguntou.

- Olha, sei que precisaremos fingir um caso romântico, mas por favor, não confunda as coisas aqui. – a provoquei, vendo na mesma hora sua expressão de irritabilidade.

- Ah, mas pode deixar, guardinha. A última coisa que eu quero é confundir você com alguma coisa – ela respondeu afiada – mas se estiver indo providenciar comida e minhas roupas, por favor, traga algo decente e traga roupas de academia. Alguns livros seriam bom. Vou precisar me distrair para não acabar cometendo um crime aqui.

- Como quiser, princesa – pisquei para ela e saí.

Seria uma missão bem interessante.

*********

Enquanto Kerem havia ido fazer as compras, decidi subir e tomar um banho. O andar de cima era composto por um quarto bem grande, com paredes também de vidro e tonalidades frias. Por Deus, esse homem não gostava de privacidade? Pelo menos a porta do banheiro era decente.

No meio do quarto, havia uma enorme cama aparentemente muito macia. Senti vontade de me jogar nela. Ao lado dela, tinha um violão e alguns livros. Notei que não havia fotos dele ou qualquer objeto tão pessoal, claramente por estar em missão.

Havia também uma varanda. Não me atrevi a sair, mas a vista era bem linda e o sol meio alaranjado do fim de tarde deixava tudo muito bonito. Suspirei, seria um longo mês.

Entrei no banheiro e fui tirando minhas roupas. Olhei-me no espelho pela primeira vez depois que tudo aconteceu. Meu cabelo estava uma zona, havia um corte em minha testa e outros arranhões pelo meu corpo. Eu estava horrível e precisava mesmo de um banho, daqueles que a gente sente lavar a alma. Entrei no box e regulei o chuveiro para água quente, sentindo uma leve ardência em algumas regiões.

Minha noite havia sido infernal. Controlar meus pensamentos e todo o turbilhão de sentimentos que estavam em mim foi doloroso. Eu não havia chorado. Recusava-me a derramar uma lágrima sequer por quem um dia chamei de pai. Eu nunca fora acostumada com afeto paternal, isso não me afetava, eu estava acostumada, mas o fato de ter sido roubada de uma família, de terem me tirado o direito de ter vivido a minha vida com uma família de verdade estava me machucando. Não queria imaginar o que havia perdido. Nunca iria conhecer meus pais.

Mas havia a garotinha. Ainda não tinha conversado com o Kerem sobre isso, mas queria encontra-la, no entanto ainda preciso saber se ele é de confiança, pois, querendo ou não, no momento somente ele podia me ajudar. Se eu ainda tinha uma irmã, queria conhecê-la.

Como se não bastasse toda a fodida situação, havia a merda do tráfico humano. Pensar nisso me enojava. Como eles tiveram coragem de se aproveitar de vulnerabilidades sociais para transformar vidas em produtos? Doía pensar que, enquanto eu estava me divertindo na estrada, fazendo mil malabarismos para proteger o inferno da carga, corpos estavam lá dentro. Crianças. Mulheres. Vítimas. Vidas.

Eu me recusava a assumir a culpa por algo que eu não tinha conhecimento. Posso ter sim cometido crimes ao contribuir com tráfico de drogas, mesmo que indiretamente, e em corridas ilegais, mas jamais faria algo tão sujo e tão baixo.

ŞAH MATOnde histórias criam vida. Descubra agora