Oh.

13 2 0
                                    

Você tenta,

Ergue a pequena cabeça, tentando alcançar a superfície da água

Mas eles puxam, arranham, batem, maltratam

Você tenta respirar,

Mas eles não querem,

Não deixam,

Não foi o que te mandaram fazer.

Você tenta gritar,

Clamar,

Implorar,

Mas apenas saem gemidos.

Murmúrios de dor.

Fantasmas do que um dia foi

Uma criança corajosa e feliz

E eles riem.

E você queria poder falar,

E você queria poder berrar

Você queria poder cuspir

Vomitar

Arranhar

RASGAR

FUGIR

ESCAPAR

Mas sequer consegue mais falar, pois te ensinaram a se calar

Se calar

Se cale! Ninguém mais te

Aguenta.

Te puxam

Arranham

Maltratam

Dizem coisas terríveis

Mas você não pode fazer nada, se não só piora.

Só piora. Só piora.

E você não consegue fugir,

Não consegue escapar,

E sabe muito bem que terá que viver o resto da sua vida nessa carcaça imunda até que finalmente alguma força maior possa lhe puxar deste corpo imundo, lhe consolar e dizer:

Estou aqui, tudo bem.

E você nem sabe se isso vai acontecer mesmo.

Não tem crença, não tem porque acreditar pois tudo aquilo em que um dia acreditou eles deram um jeito de apagar, destruir, esmagar e transformar em pó.

Tudo pelo seu bem,

Pelo bem de Deus

Pelo bem deles.

Para se encaixar em um padrão, um padrão, um padrão.

Quantos mais sofreram o mesmo que você?

Você estende a mão para o alto

Sorri para a noite estrelada

E deixa escapar,

Aquele seu último suspiro.

Bem fraquinho,

Que nem aquele seu corpo pequenininho.

Está livre.

A Mastigar CrisântemosOnde histórias criam vida. Descubra agora