Capítulo Onze - O Reino das Águas Claras

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Atravessar o capoeirão após os últimos acontecimentos era uma experiência sinistra. O clima de suspense e a sensação de que logo surgiria algum dos seres da mata enfeitiçados pela Cuca para atormentá-los eram intensos. No entanto, conseguiram chegar às margens do ribeirão por um caminho que a Iara raramente visitava devido à densa vegetação.

— Ufa, chegamos até aqui. Todos preparados? — disse a Marquesa, olhando para os amigos e estendendo-lhes seus bracinhos de macela e pano.

— Calma, Marquesa! — pediu o Visconde em tom tenso.

— Lá vem o sabugo de milho bolorento com seus medos chatos — retrucou Emília, cruzando os braços.

— Não, Marquesa. Apenas gostaria de sugerir que repassássemos o plano para evitar imprevistos. Pelo menos, não por falta de conhecimento do que iremos fazer.

— Você está certo, Visconde. Não sabemos como vamos encontrar o Reino — contribuiu o Major Agarra e Não Larga Mais.

— Olha aqui, seu sapo papudo, você acabou de vir de lá e está com medinho? Nem parece membro da guarda real do Príncipe Escamado — retrucou Emília.

— Para, para, para... — pediu Pedrinho, continuando: — Vamos repassar o plano sim, Emília. É o mais sensato a se fazer. Afinal de contas, nossa maior arma é a inteligência e perspicácia.

— Estou quase lhe desejando saúde, Pedrinho, depois desse espirro "perspicácia" — ironizou Emília.

— Calma aí, pessoal. Vamos lá então — disse o garoto. — Pularemos no ribeirão e, ao chegarmos no Reino das Águas Claras, nosso alvo é encontrar o Príncipe Escamado e o Dr. Caramujo para estudarmos uma solução e ajudarmos o reino a sair do feitiço, liberando as águas para seguirem seu fluxo, certo?

— Isso mesmo, caro Gustavo. Enquanto Emília e eu estaremos despistando a mãe d'água Iara, caso ela esteja por lá — concluiu o Visconde.

— "Uabow", não temos margem de erros, amigos. Precisamos acertar de primeira — disse o Major.

— Chega, chega, chega de falar! A torneirinha aqui sou eu. Vamos ao que interessa — disse a Marquesa, novamente olhando para o ribeirão e estendendo os bracinhos de macela e pano aos amigos, que responderam dando as mãos bem firme.

Os cinco seguraram-se firmemente uns nas mãos dos outros, prepararam-se e pularam. Ao caírem no ribeirão e irem descendo vagarosamente, surpreenderam-se com a quantidade de pessoas jogadas ao chão, desmaiadas. Os membros da guarda real estavam todos caídos, como se estivessem adormecidos, e o caos parecia instaurado no Reino das Águas Claras.

Ao ver todo aquele caos, o grupo ficou profundamente triste.

— Nossa, nem parece o belo Reino das Águas Claras — disse Emília, surpresa com o que vira.

— É verdade, Emília. Vendo tudo isso, só me vem à cabeça que o Príncipe Escamado e o Dr. Caramujo também foram atingidos — disse Pedrinho.

— Se isso aconteceu, caro Pedrinho, estamos com problemas ainda maiores — observou o Visconde.

— "Uabow", quando saí do Reino a mando do Príncipe Escamado, a guarda real ficou toda articulada para conter qualquer perigo que ameaçasse o reino e, sobretudo, o Rei. O que deve ter acontecido? — disse o Major enquanto caminhava vagarosamente, olhando seus guardas ao chão.

— Corre, tem alguém se mexendo ali! — disse Pedrinho, saindo correndo.

O grupo correu seguindo Pedrinho, que foi apressadamente na direção de uma grande rocha no canto do salão real. Ao chegar lá, o grupo se deparou com o Príncipe Escamado caído, mas tentando mover-se em direção ao seu trono.

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