Capítulo Quatro - Encontros e Desencontros.

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- Corre, Visconde! - gritou Gustavo, olhando para trás e estendendo a mão para ajudar o erudito sabugo de milho.

- Estou correndo, Gustavo, estou correndo! - respondeu o esbaforido Visconde.

De repente, ao entrar correndo no sítio, Gustavo parou de supetão e recebeu um esbarrão do Visconde que, olhando para trás para se certificar de que a Cuca não estava vindo, não viu que o garoto havia parado.

- Desculpa, Gustavo, não vi que você tinha parado - disse o Visconde de Sabugosa, olhando para o garoto, que estava parado com os olhos arregalados feito estátua.

Eles estavam de frente para as estátuas de Dona Benta, Tia Nastácia, Narizinho, Pedrinho e Tio Barnabé, mais afastado um pouco. Todos com expressões de medo, pavor e susto. Quando o Visconde olhou para Gustavo, ele percebeu lágrimas escorrendo pelo rosto do garoto.

- Ma...ma...ma... - gaguejou o Visconde de Sabugosa. - Você está chorando?

- Sim, Visconde. É muito triste ver todas essas pessoas que marcaram minha vida assim, estáticas, sem vida e com essa expressão de terror.

- Elementar, meu jovem. Mas lembre-se, estamos aqui para mudar isso - disse o, agora, confiante Visconde.

- Mas espera aí, está faltando muita gente aqui, não é mesmo?

- Sim, Gustavo. No dia em que tudo isso aconteceu, Emília teve uma das suas ideias mirabolantes, que consistia em todas essas pessoas que aqui estão despistar a Cuca enquanto eu, ela, o Rabicó, o Quindim e o Burro Falante armaríamos uma rede para pegá-la e afastá-la daqui.

- E o que deu errado? - questionou Gustavo.

- O problema foi que o nobre Marquês de Rabicó se distraiu com uma lata de lixo, o Quindim ficou calculando as distâncias da rede e do alvo enquanto o Burro Falante filosofava sobre como se sentiria a Cuca ao ser pega dessa forma voraz.

- E a Emília? - questionou Gustavo com certa indignação.

- Ah, você deve saber bem como é a Marquesa de Rabicó e Condessa de Três Estrelinhas. Embrenhou-se no capoeirão e não sei de seu paradeiro.

- Por isso estranhei que não tenha sido ela a ir nessa aventura ao mundo real atrás de mim e tenha sido você, que é um pouco destrambelhado embora erudito.

- Humpf!

- Não, por favor, não se chateie, Visconde. Desculpa!

- Não, está tudo bem, Gustavo. Eu entendi você. De fato, eu não sou muito aventureiro para essa empreitada.

Enquanto dialogavam, o Visconde virou-se abruptamente para a mata e perguntou a Gustavo:

- Você ouviu isso?

- Ouvi o quê, Visconde?

- Acho que não é nada, acho que o medo está me fazendo ouvir coisas!

Gustavo passou a andar entre as estátuas, olhando cada detalhe de todos eles com muita atenção, enquanto dizia:

- Dona Benta, sonhei inúmeras vezes ser seu neto, deitar a cabeça no seu colo enquanto ouvia suas histórias e receber seu abraço. Queria ser primo da Narizinho e correr pelo capoeirão com ela enquanto a Emília tentava nos alcançar, ou então ser o Pedrinho para ser amigo do Saci e fazer muitas traquinagens.

- Gustavo, você nos conhece mesmo, hein? - disse, suspirando, o Visconde.

- Sim, Visconde. Conheço cada um de vocês e estar nessa situação de encontros e ao mesmo tempo desencontros me deixa num misto esquisito de alegria por saber que todos vocês são reais e triste ao mesmo tempo por essa situação.

Enquanto conversavam, Gustavo e Visconde ergueram abruptamente suas cabeças, cada um para um lado da mata, e falaram juntos:

- Você ouviu isso?

- Sim, Visconde. E agora não são só os seus medos, a menos que os meus também estejam falando.

Nisso, algo pulou da mata gritando e deu um enorme susto em ambos.

- Ahammmmmmmmmm!

- Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaah! - gritaram os dois.

- Visconde, seu cabeça de milho estourado que virou pipoca, você me deixou nessa enrascada sozinha esse tempo todo!

Gustavo e Visconde se olharam, olharam para a pessoa novamente e disseram juntos:

- Emília?

- Isso mesmo, a Marquesa de Rabicó e Condessa de Três Estrelinhas em marcela e pano!

O Sítio do Picapau Amarelo em ApurosOnde histórias criam vida. Descubra agora