Capítulo Seis - Infalível

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Emília levantou-se de supetão, bateu na mesa com cara de determinação e disse a Gustavo e Visconde, que estavam sentados ao seu lado:

- Entenderam o plano?

- Marquesa, por obséquio, não seria deveras interessante repassá-lo? - perguntou o Visconde, cauteloso.

- Ai, Visconde, onde estava essa sua cabeça de milho de canjica, hein?

- Emília, é melhor mesmo repassar para não termos margem para erro - acrescentou Gustavo.

- Tá bom, tá bom, eu vou repassar, mas prestem atenção. Nós iremos dar a volta na casa da Dona Benta, saindo da porta do laboratório à direita, passando pela frente da casa onde estão as estátuas de Dona Benta, Tia Nastácia, Pedrinho e Narizinho. Depois, passaremos por onde está a estátua do porco porcaria do Rabicó, indo em direção ao Burro Falante e Quindim, e entraremos no capoeirão.

- Marquesa, mas por que por essa entrada? Não seria deveras... - tentou argumentar o Visconde.

- Não seria deveras nada, Visconde. Enquanto você tremia de medo no mundo real, eu estava lá enfrentando tudo e todos no capoeirão.

- Ué, mas você se encontrou com algum dos seres enquanto esteve no capoeirão, Emília? - perguntou Gustavo, intrigado.

- Não, mas estavam todos lá e eu não recuei. Então iremos por onde estou dizendo que é mais seguro. Vamos lá. Voltando ao assunto, ao entrarmos no capoeirão, caminharemos pela trilha que eu conheço para chegarmos até o riacho e ver se a Iara foi ou não enfeitiçada pela Cuca.

- Iara? E se eu for enfeitiçado pelo canto dela? Eu sou homem, lembra? - ponderou Gustavo, preocupado.

- Eu já pensei nisso, Gustavo. Você colocará uma boa bucha de algodão nos ouvidos e pronto! - respondeu Emília, prática.

- Marquesa, e se ela não tiver sido enfeitiçada, o que faremos lá? - perguntou o Visconde.

- Nós pediremos ajuda para ela comunicar com o Príncipe Escamado, do Reino das Águas Claras. Quem sabe ele ou o Doutor Caramujo não nos ajudem a encontrar uma saída para isso tudo.

Tudo saiu perfeitamente como planejado por Emília. Eles saíram pela porta do laboratório do Visconde, passaram pela frente do casarão onde estavam as estátuas, passaram por baixo da janela da cozinha de Tia Nastácia conforme o combinado e chegaram à estátua do Rabicó com a cabeça dentro da lata da lixeira e à frente as estátuas do Quindim e do Conselheiro Burro Falante.

- Uau, que fantástico! - disse Gustavo, surpreso.

- Perdoe-me, nobre garoto, mas o que há de fantástico em nossos amigos empedrados? - perguntou o Visconde, confuso.

- Não, Visconde. Me expressei errado. O que quero dizer é que é fantástico como eles são exatamente como eu imaginava em minha mente.

- Pois é, nobre rapaz, é exatamente por isso que você é o escolhido do mundo real para nos ajudar a vencer o mal que se abateu sobre o Sítio do Picapau Amarelo.

- Como assim, Visconde?

- Sim, o mundo do faz de contas é vivo dentro de você. É possível observar e sentir o quanto você é capaz de descrever coisas que ainda não viu de uma forma ímpar. Por exemplo, nossos amigos Rabicó, Quindim e Burro Falante.

- Vocês dois vão ficar aí de mexericos ou vamos seguir nosso plano, hein? - apressou Emília.

- Evidente, Marquesa, vamos! - concordou o Visconde.

O Sítio do Picapau Amarelo em ApurosOnde histórias criam vida. Descubra agora