Capítulo Dois - Portal dos Sonhos.

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Gustavo manteve-se ali, parado, olhando para baixo, pálido e sem reação alguma.

- Calma, meu caro, eu sou o... - começou a figura misteriosa, mas foi interrompido por Gustavo.

- Visconde de Sabugosa! - afirmou Gustavo, boquiaberto.

- Sim, sou eu mesmo. Sabia que poderia contar com você quando lhe chamei e você conseguiu ouvir minha voz.

- Você é fruto da minha imaginação, da minha cabeça, das minhas emoções... ai Jesus! - exclamou Gustavo, levantando-se atordoado e passando a mão pela cabeça.

- Não, não, não. Por favor, caro jovem. Não sou fruto da sua imaginação, sou eu de fato e preciso de você - respondeu o Visconde, tentando convencer Gustavo.

- Não, imagina. Eu conversando com um pequeno sabugo de milho, com título de nobreza, falante... eu preciso de uma água - disse Gustavo, já dando passos para sair dali.

- Elementar, caro jovem! Você está contaminado com a falta de imaginação, sensibilidade e faz de conta que a vida adulta acomete a todos. Aquilo que sempre criticou está lhe acometendo - disse o Visconde, com tom triste na voz.

Gustavo parou bruscamente, virou-se novamente para o Visconde, abaixou-se e questionou:

- Como é que é?

- Sim, não sabemos muito, mas o suficiente para saber que você poderá nos ajudar.

- Então você... - começou Gustavo antes de ser interrompido.

- É elementar, meu caro, que sou real. Mas olha, venha comigo. Precisamos de sua ajuda e prometo que no caminho te contarei todos os detalhes.

- Ham? Caminho? Ir com você? Para onde?

- Para o Sítio do Picapau Amarelo. Dona Benta e os demais estão nos aguardando.

- Espera aí, então quer dizer que...

- Sim, Gustavo. O sítio é mais real do que você possa imaginar.

- Ah pronto, já não sei de mais nada. Estou muito confuso! - disse Gustavo, querendo acreditar, mas ainda incrédulo com tudo aquilo.

- Olha, eu sei que estou pequeno, mas me dê uma de suas mãos, feche os olhos e mentalize todo seu amor pelo sítio. Deixe que a magia, o encanto e o faz de conta inundem seu ser - disse o Visconde, estendendo sua mão em direção a Gustavo.

Recobrando a coragem, Gustavo deu um leve sorriso, demonstrando a confiança que sentia no Visconde. Com suas enormes mãos, comparadas às do Visconde, pegou na mão dele, fechou os olhos, mentalizou tudo que o nobre sabugo dissera, e ouviu atentamente o que o Visconde falava enquanto lágrimas rolavam pelo seu rosto.

- Gustavo, seja bem-vindo ao Sítio do Picapau Amarelo.

Ao ouvir isso, Gustavo sentiu como se tivesse caído de metros de altura. No susto, abriu os olhos e se viu de frente para o Visconde, agora de sua altura e com aquele sorriso de esperança que só o Visconde de Sabugosa tinha. Parados, em meio ao capoeirão, Gustavo marejou os olhos em lágrimas e abraçou o Visconde bem forte.

- Você é real, aliás, vocês todos são reais. Eu sempre soube! - disse Gustavo, com tom de gratidão.

- Elementar, jovem Gustavo, mas vamos, não podemos ficar parados aqui. Estamos com um tremendo problema e acho que devo a você algumas explicações.

Gustavo e o Visconde de Sabugosa seguiram andando pelo capoeirão em direção ao Sítio, enquanto o barulho de algo rastejando nas folhas secas aumentava, seguido de algumas rosnadas.

O Sítio do Picapau Amarelo em ApurosOnde histórias criam vida. Descubra agora