Capítulo Um - Um encontro inusitado.

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Passo a passo, olhando para todos os cantos e para canto nenhum, Gustavo caminhava pelo lugar que sempre sonhou em conhecer. Árvores, pássaros cantando, um clima autêntico de sítio. A casa fora restaurada recentemente e mantinha o mesmo aspecto das imagens que assistiu da temporada da década de 70, salvo alguns pequenos detalhes que o tempo "obrigou" a mudar.

Como quem não acredita estar vivenciando tudo isso, Gustavo parou próximo à fonte, bem no meio do pátio, e suspirou profundamente.

- É surreal estar aqui, não consigo acreditar que estou pisando nas terras de Dona Benta, onde esteve o Visconde de Sabugosa, Narizinho, Pedrinho, Quindim, o Marquês de Rabicó e a Marquesa Emília com sua torneirinha de asneiras - disse Gustavo, enquanto abaixava a cabeça, rindo e chorando ao mesmo tempo.

- Ah, para com isso, Gu! Vamos aproveitar o tempo aqui e conhecer o lugar - disseram seus amigos, passando por ele e indo desbravar o local.

Gustavo andou por toda a área externa, lembrando das cenas que havia visto nos episódios. Deu algumas risadas, imaginando cenas, falas, personagens, sentindo uma profunda gratidão por estar ali. Tirou inúmeras fotos, fez alguns vídeos imitando falas e personagens, rendendo boas risadas com seus amigos. Finalmente, resolveu explorar a casa, seu entorno e interior. Ao chegar à varanda, passou as mãos nas paredes, olhou pelas janelas e rodeou a casa até chegar aos fundos, onde avistou o tanque, uma varandinha e o fogão a lenha de Tia Nastácia.

Gustavo sacou seu smartphone do bolso, desbloqueou a tela, tremendo de emoção, e ativou a câmera frontal. Ergueu o braço com um sorriso largo para fazer uma selfie com o fogão a lenha, quando algo o perturbou.

- Rapazes - gritou Gustavo - o que foi?

- Ué, Gustavo, o que foi o quê? Não entendi - respondeu um de seus amigos.

- Por que estão me chamando desse jeito?

- Que jeito, cara? Nem te chamamos - retrucou outro.

- Vai ver o "espírito" do sítio está te chamando, Gustavo - zoou um terceiro amigo, seguido de muitas risadas dos três.

Em seus pensamentos, Gustavo questionava:

- Ué, eu jurava que alguém havia feito "psiu" várias vezes. Que estranho! Acho que eles têm razão, minhas emoções à flor da pele estão me pregando peças.

Gustavo ignorou o chamado que pensou ter ouvido, fez sua selfie, virou as costas e foi em direção ao outro lado da casa, que ainda não havia explorado. Dois passos à frente, ele ouviu novamente o "psiu", agora ainda mais forte.

Ele parou, assustado, e com medo da reincidência do fato, gritou para seus amigos.

- Galera, não está sendo legal essa brincadeira de mau gosto. Me trouxeram aqui para rir de mim, foi?

- Gu, na moral. Você chega a ofender a gente com essa sua fala. Eu entendo sua paixão por tudo isso, mas vai com calma, amigão, porque parece não estar te fazendo bem - disse um de seus amigos, batendo em suas costas, saindo e chamando os demais amigos que viam a cena com incredulidade. - Vamos, rapazes, deixem o Gu terminar seu passeio enquanto tomamos um refri na lanchonete ali na frente.

Os amigos viraram as costas e foram à lanchonete, aparentando chateação pela atitude e fala de Gustavo, que ficou ali sozinho e, por sua vez, se entristeceu com o ocorrido. Quando ia sair de perto do fogão a lenha, ouviu uma voz:

- Por favor, não vá. Nós precisamos de você!

Gustavo virou-se, muito assustado, olhando para um lado e para o outro, sem ver nada. Quando ia correr com medo, a mesma voz disse:

- Aqui embaixo, bem no cantinho!

Ele olhou para baixo, entre o fogão a lenha e a parede, fez uma cara de espanto e mal conseguiu falar.

- Eu não estou acreditando nisso - disse, coçando os olhos.

O Sítio do Picapau Amarelo em ApurosOnde histórias criam vida. Descubra agora