Um

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— Oh, sim, baby, mete bem aí. Bem aí. Assim. Mmmhumm. Sim, baby. Me fode mais forte, — eu estava gritando no telefone. Aos berros, vulgarmente, gemendo feito uma estrela pornô. Apoiei minhas pernas na cabeceira da cama, olhando as unhas recém-pintadas de meus pés. Perigo Rosa. Ergui, limpando um borrão que tinha manchado minha pele. — Porra. Oh, porra. Sim. Sim. Sim!

Eu conseguia ouvir a sua masturbação violenta através do telefone. O som molhado de sua mão espremendo e punhetando seu pênis medíocre. Ele estava perto. Isso era fácil. Um pouco ofegante, uma conversa suja, então apenas uma mistura incoerente, ele gritando "mamãe" e gozava por todo o tórax.

— Oh. Oh. Quero sentir sua porra quentinha dentro de mim. Agora, baby. Agora!

Desliguei um minuto depois e segurei um travesseiro sobre o rosto, rindo. Tentava não julgar. Tentava de verdade. Todo mundo tem a sua tara. Os caras que não conseguem gozar a não ser que você lhes diga que são uma merda inútil, que seu pau pequeno é o mais patético que você já viu. Os caras que precisam se espancar para conseguirem imaginar que estavam lhe espancando porque você foi uma garota má e impertinente.

E então, havia homens como Bob. Bob, com problemas com sua mãe. Bob, que Freud teria amado. Bob com o complexo edipiano. Bob, que secretamente queria foder sua mãe.

Eu tentava não julgar.

Mas é muito difícil manter a compostura quando alguém está gozando furiosamente no seu pau e gritando por sua mãe em uma voz dolorida e baixa.

Essa merda era hilária.

Levantei-me e fui até a minha pequena cozinha, indo direto para a máquina de café, os separadores dos dedos dos pés me faziam arrasar meu pé com dificuldade enquanto andava para adicionar pó e água.

Eu não passava muito tempo na minha cozinha, economizando os refis de café para quando fosse muito cedo ou muito tarde para sair e comprar na cafeteria mais próxima. O meu fogão nem funcionava. Minha geladeira não tinha quase nada além de leite para o meu café e restos de caixas de comida chinesa.

Ainda assim, passei muito tempo decorando. Armários brancos. Paredes brancas. Bancadas de bambu. Limpas. Modernas. Tinha o hábito de deixar as coisas arrumadas. Culpe o buraco do inferno em que cresci.

Nunca fui dessas garotas. As meninas com os belos vestidos cor- de-rosa com seus cabelos perfeitamente trançados à francesa, pulando corda, inventando histórias para suas Barbies. Não fui a garota que ficava lendo histórias de dormir sobre um caracol que queria ser triatleta. Não fui a garota que lhe disseram que poderia ser qualquer coisa, qualquer coisa que quisesse ser.

Então, depois de alguns empregos ocasionais... tornei-me operadora de sexo por telefone.

— Seus pais ficariam tão orgulhosos, — minha avó zombou quando contei a ela. Para ser justa, só contei porque sabia que isso iria irritá-la. Sabia que isso ofenderia sua sensibilidade. Eu era a vergonha. Não importava o lixo humano que era seu filho. Eu era a ovelha que saiu do rebanho. Eu era a desgraça.

Atendi uma ligação de trabalho na mesa do jantar naquela noite, enfiando o gargalo da garrafa de cerveja na minha garganta, engasgando enquanto fazia a melhor performance de sexo oral que poderia fazer. Acho que deveria explicar que tenho um fraco controle de meus impulsos. Mas o olhar no rosto dela foi impagável.

Peguei meu café no meu pequeno balcão, vestindo minha camiseta de mangas compridas e calcinha cor-de-rosa. Ninguém poderia me ver aqui no alto. Não que me importava se pudessem. Oh não! Há uma mulher só de... calcinha! As pessoas precisavam recuperar o autocontrole. Minhas pernas nuas eram a coisa menos ofensiva sobre mim.

Estava ficando frio. O outono estava chegando com o cheiro de folhas molhadas e umidade. Respirei fundo, ávida pela mudança. O agosto quente nunca foi bom para mim. Passava meus dias limpando o suor da minha testa e esperando que minha maquiagem não estivesse escorrendo. Tudo me deixava irritada e de mau humor.

Mas, setembro finalmente se libertava do agarre do verão e deixava o outono reinar. Já me sentia relaxar. Meu corpo mergulhando nessa mudança. Eu poderia andar nas ruas da cidade novamente, andar sem rumo, gastar muito dinheiro em roupas, sapatos e maquiagem.

Olhei para as pernas, ainda pálidas. Eu evitava o sol como a praga. Em parte porque era simplesmente estúpido estragar sua pele por causa da vaidade e, em parte, porque minha tatuagem na coxa ainda estava cicatrizando. Era uma árvore negra e cinzenta, um enorme machado saindo do tronco com o provérbio "O machado esquece, mas a árvore se lembra". Esperei muito tempo para fazer isso. Uma vida inteira. E agora que estava lá, não conseguia parar de olhar para ela. Provavelmente era parte do motivo pelo qual nunca queria usar calças.

Apoiei meus antebraços no parapeito frágil que meu bom senso dizia que eu precisava substituir antes que algum dia cedesse com meu peso.

Lá embaixo, a cidade cumpria sua promessa. Pessoas se deslocavam em movimentos intermináveis. Homens e mulheres em ternos, turistas com suas câmeras, os sem-teto com suas latas ou caixas de sabão. Ninguém dando a mínima a eles. Sem brincadeiras. Sem máscaras. Todos eram apenas idiotas orgulhosos. Eles eram o meu tipo de pessoas. Eles eram a razão pela qual me mudei para a cidade.

Quatro anos e eu ficava cada dia mais forte. Percorri um longo caminho desde os primeiros dias. Uma mochila em meus braços cheia de roupas e o pouco dinheiro que eu tinha. Aqueles dias de gripe, fome e imundície, frio e medo. Aqueles dias de não ter um teto ou comida ou segurança. Aqueles dias que ainda conseguiram ser melhores daqueles dos quais estava fugindo.

Um som na minha direita me fez virar. O som que reconheci porque era o que minha porta deslizante fazia todos os dias. Alguém estava abrindo a porta para a varanda do apartamento ao lado. O que era impossível. Pois ficou vago durante o último ano e meio depois que o último inquilino teve uma overdose de heroína que ele sempre injetava em suas veias. Três dias e o cheiro era tão insuportável que me fez bater na porta do síndico até que ele erguesse sua bunda bêbada para checar as coisas.

Eu não acho que eles colocaram um anúncio para a vaga.

Mas a porta estava se abrindo e um homem estava saindo no pequeno espaço, a um metro e meio de mim. Invadindo minha privacidade.

Ele olhou para mim. Ele não deveria me ver. Essas eram as regras da cidade. Mas ele estava olhando para mim.


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Oi gente!

Antes de continuar com a história, como sempre, eu preciso mesmo deixar alguns avisos importantes:

1- Essa história é pesada, acreditem! Ela pode ser gatilho para alguns públicos!

2- Como já disse, mas é sempre bom reforçar: essa história não é minha, todos créditos para a autora Jessica Gadziala.

3- Eu gosto dessa história e decidi dividir com vocês porque ela levanta vários questionamentos e reflexões, além de mostrar uma realidade que muitas e muitas mulheres passam.

4- Eu amo ler os comentários de vocês então, não se sintam acanhadxs em comentar e debater sobre a história.

É isto, espero que gostem!

For a good time, call...Onde histórias criam vida. Descubra agora