Oito

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O maldito casal no final do corredor foi o que me despertou, discutindo às quatro da manhã como maníacos. Levantei com um suspiro, dirigindo-me para a varanda para um cigarro. E foi quando a vi. Andando pela rua, bêbada novamente, mas capaz de manter em linha reta.

O cara saiu do nada, batendo-a contra a parede e fora da minha visão. Eu deveria ter reagido. Mas, com sua vida sexual ativa, imaginei que fosse um de seus garotos a surpreendendo com algum sexo rápido, áspero e ao ar livre. Não podia julgá-los por isso. Parecia um bom momento.

Então, eu a ouvi gritar. Alto o suficiente para que os cães do prédio latissem. — Eu não me importo quem você é. — E eu estava correndo. Através do meu apartamento, no elevador que era muito demorado nesse tipo de situação, depois para a calçada.

— Cale-se. Você gosta disso, — disse o cara, alcançando e tateando seus seios.

Enlouqueci.

Fiquei tão bem por tanto tempo, mantendo-me calmo, mantendo-me fora de situações que poderiam desencadear fúria consumista que poderia aparecer. Que tinha problemas para parar assim que começava. Mas naquele momento, todo o controle escorregou quando pulei no cara, agarrando a parte de trás de seu pescoço e levando-o para a rua.

Olhei para Dezesseis para ter certeza de que ela não estava machucada e, então, fui para cima do sujeito, dobrando sua cintura e batendo minhas mãos em seu rosto. Eu me esqueci de como isso era tão bom. Deus, como era bom. Sentir suas mãos esmagarem a carne macia. Ouvir os ossos embaixo estalar. Não havia um êxtase como esse no mundo. Pelo menos, não para mim. Não para alguém com minha história.

Estava sem fôlego antes que o alarme começasse a tocar na minha cabeça. Alto. Chocante. Eu me sentei em meus calcanhares, olhando para a carne rasgada, as sobrancelhas e os lábios inchados. A bagunça de um rosto mutilado que criei. E não consegui dizer que odiava a visão.

Arrastei-o de volta à calçada com a plena realização do que fiz. Quais as repercussões que poderiam ocorrer se eu fosse pego. Saquei meu telefone e tirei uma foto de Dezesseis: seus olhos enormes e assustados, as marcas que já se formavam em seu pescoço, os lábios machucados e gordurosos, a blusa aberta. Seria prova suficiente se desse alguma merda.

Coloquei meu telefone no bolso, tentando manter os olhos no seu rosto. Quando ela não se cobriu, ou não conseguiu se cobrir, deixei meus olhos cair pela menor quantidade possível de tempo enquanto a cobria. Então, tive que levá-la até seu apartamento. Era estranho ver uma mulher como ela, uma mulher que parecia tão insensível e intocável, tão completamente vulnerável.

Eu a levei para o banheiro e a coloquei no chão, virando-me para lavar o sangue das minhas mãos. Como já fiz inúmeras vezes antes. Observando iluminar e girar ao redor da pia antes de descer pelo ralo.

Eu a ouvi movendo-se e me virei, observando enquanto ela rolava de lado, curvando-se em si mesma. Sua saia foi levantada e toda a sua coxa esquerda tornou-se visível. Eu me ajoelhei no chão atrás dela, estendendo a mão. Incapaz de me impedir de tocá-las. As dezenas de marcas vermelhas, rosa e brancas de uma lâmina e automutilação descuidada. Eu sabia que ela tinha problemas, mas porra.

Precisava mais do que a maioria das pessoas compreendiam para afundar uma lâmina em sua própria pele. A sensação de autopreservação animal é difícil de superar. Você precisava realmente da onda de alívio para poder fazer isso em você mesmo. Dezesseis tinha alguns demônios. E, ao invés de enfrentá-los, estava enterrando-os. Em todo sexo, no álcool, no corte de sua própria carne. Ela passava a vida castigando-se.

Ela adormeceu rapidamente no chão e eu não queria que acordasse em sua cama, confusa e assustada com a forma como chegou lá. Então, eu a deixei no chão. Tirei seus sapatos antes de entrar no meu apartamento para mudar para algo menos manchado de sangue antes de voltar.

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