Sete

204 12 2
                                    

Acordei no chão do banheiro. O que não era completamente inédito, embora tenha passado muito tempo desde que aconteceu. O estranho era a confusão. No meu cérebro. Como se eu estivesse de ressaca. Sem estar de ressaca. Você não seria capaz de beber do jeito que eu bebo se acordasse com uma terrível dor de cabeça, sentindo-se seca todas as manhãs.

Afastei-me do azulejo, sentando-me e olhando com meus olhos sonolentos. Minha garganta doía, uma estranha mistura de dor e ardência. Levantei minha mão, percebendo o hematoma ao redor do pulso e sentindo um segundo de horror antes que a memória voltasse. Eu estava tão bêbada que desmaiei? E fui... De alguma forma assaltada? Olhei para a minha blusa e tive a imagem de suas mãos puxando o zíper para baixo.

Então tudo veio à tona, fazendo-me sentir um horrível um coquetel de raiva, medo, arrependimento e vergonha que me deixou tonta. Arrastei-me pelo chão até o banquinho acolchoado na frente da minha pia, levantando-me e me olhando no espelho.

Não era nada bonito.

Meu cabelo, como de costume, mesmo sem uma cama para rolar, estava uma bagunça. Tinha saído pra fora do elástico e os fios ondulados caíam em meu rosto. Meus lábios pareciam inchados com uma pitada de púrpura sob o rosa. Leve o suficiente para encobrir com um pouco do batom. Minha garganta estava vermelha, roxa e azul. Uma linda faixa de arco-íris completamente na frente, afunilando-se para as impressões digitais visíveis em uma extremidade. Meus olhos pareciam injetados de sangue. Eu liguei a torneira, lavando minhas mãos, fingindo ignorar os hematomas azuis ao redor dos meus pulsos, depois esfregando meu rosto. Furiosamente escovei meus dentes para tentar tirar o gosto dele.

Eu me levantei, notando que estava com os pés descalços e completamente perdida de como isso aconteceu. Precisava de um relógio e um pouco de café. Quanto tempo realmente fiquei ausente?

O cheiro de café fresco me atingiu assim que entrei no corredor e instintivamente voltei um passo para banheiro antes de respirar fundo e perceber que Quatorze não deve ter ido embora.

Alfonso. Eu deveria começar a pensar nele por seu nome já que ele me salvou de uma violação apenas algumas horas antes. E então me trouxe de volta ao meu apartamento quando eu estava em algum tipo  de estresse pós-traumático. Onde ele me colocou no chão e... oh,  merda. Ele viu as cicatrizes de automutilação. Ótimo. Isso era ótimo. Agora eu ficaria com sua pena. Não precisava dessa merda. Mal sabia ele que os cortes de lâminas na minha pele eram muito menos traumáticos do que o que me levou a fazer isso.

Ah, bem. Eu teria que enfrentá-lo mais cedo ou mais tarde. Seria bom apenas arrancar o curativo de uma vez e continuar com meu dia. Vou pegar um táxi de agora em diante quando voltar para casa pela manhã. Nada demais. As crises futuras seriam evitadas.

Respirei fundo e entrei no corredor sem me importar com meus cabelos loucos e maquiagem manchada nos olhos. Não estava tentando impressionar meu vizinho. Além disso, eu precisava enfrentá-lo para que pudesse expulsá-lo e me preparar para o meu dia.

Ele estava na minha cozinha, sentado em cima do meu balcão, tomando café em uma das minhas canecas e lendo um jornal que definitivamente não era meu. — Apenas se sentindo em casa, — resmunguei, pegando uma xícara de café e enchendo-a.

— Peguei alguns pães, — ele disse, apontando para o saco marrom no balcão. — Não sabia de que tipo você gostava, então peguei uma variedade.

Senti minhas sobrancelhas queimarem. Ele... saiu e me comprou pães? Por que diabos faria isso? — Por quê?

— Eles não são de graça. Eu quero pagamento em sexo, — ele disse, olhando quando não ri. Suas sobrancelhas se abaixaram sobre os olhos, como se não entendesse por que eu estava perguntando.

For a good time, call...Onde histórias criam vida. Descubra agora