Quatro

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A garota do lado fazia muito sexo. Quero dizer, muito sexo. Principalmente durante o dia. Do meio dia e até as cinco da tarde, quando o gemido, o suspiro e a conversa suja paravam e eu podia ouvi- la tomar banho com seu aparelho de som ligado enquanto ela se vestia para sair. Novamente.

Toda noite.

Tentei não julgar. Cada um tem a sua vida. Todos lidamos com nossa merda de maneiras diferentes. Eu me enterro no trabalho e meio que me mato na academia. Trabalho no meu novo apartamento. Ela fode sem parar e enche a cara todas as noites da semana, chegando às quatro ou cinco da manhã, com os saltos clicando alto no piso do corredor.

Desde que me mudei há três dias, não pude parar de pensar nela.

E não eram nos seus hábitos de beber. Ou no seu desejo sexual louco.

Eram seus olhos.

Desde aquele primeiro dia, quando destranquei o apartamento e a vi em sua varanda vestida de calcinha, bebendo café, ela esteve invadindo meus pensamentos. Quando ela virou aquele rosto delicado e grandes olhos azuis, acabei encarando. Qual homem não ficaria feito um trouxa com um par de olhos azuis oceânicos?

Não importava se ela fosse rude e antissocial. Inferno, eu era rude e antissocial. Isso era metade do que me atraiu para este lugar. Ninguém ia me pedir para pegar seu correio ou regar suas plantas. Ninguém se importaria com o que fizesse do meu tempo. Se ela fosse uma mulher de meia idade ou um cara gordo, provavelmente teria apenas inclinado minha cabeça para eles sempre que os visse na varanda ou no corredor.

Sua inspeção lenta sem se preocupar sobre ser notada tinha me forçado a envolvê-la.

"Nem um dos dois". Essa frase ficou presa na minha cabeça desde então. Não apenas a frase, mas o tom em que ela disse. Como se ela não se importasse comigo nem com o que eu pensava sobre ela. O que achei interessante. Não era uma atitude comum para as mulheres. Pelo menos não na minha experiência.

Eu a ouvi tropeçar em casa nesta manhã em torno das cinco, ainda vestindo o pequeno vestido preto, as meias-calças de rendas douradas e as botas altas até a coxa. Podia ouvir as botas batendo no chão assim que ela estava dentro de sua porta. Em seguida, algo arrastar e silêncio. Ela era meu novo despertador.

Talvez uma parte de mim se sentisse um pouco culpado por martelar no início da manhã. Mas durante os primeiros dias não houve queixas. Não bateu na parede. Não me xingou. Nada. Então imaginei que ela tinha o sono pesado.

Quando andei para ver quem estava batendo como louco na minha porta, ela era a última pessoa que eu esperava. E parecia louca como uma fodida vespa com seus pijamas de seda branco. Seus cabelos pareciam ter passado a última hora e meia rolando na cama em vez de dormir. Seus olhos estavam pequenos e vermelhos. Quase com dor.

Uma parte de mim talvez tenha se sentido um pouco mal. Talvez. A outra parte estava muito envolvida no meu trabalho para dar a mínima. Não era meu problema se ela era uma festeira da pesada.

Mas, maldição, quando ela abriu a porta e invadiu levando todos os meus martelos como uma louca... precisei de todas as minhas forças para não dobrá-la na minha mesa improvisada e fazê-la gritar todas aquelas coisas sujas que ela gritava com outros caras durante o dia. Uma boa e dura foda era o que eu queria. Mas ela foi embora antes que eu pudesse formular a ideia, batendo a porta para completar. Poderia ficar com raiva e pegar a minha caixa de ferramentas e usar um dos meus outros martelos. Eu poderia ter feito isso.

Mas isso roubaria a diversão de em algum momento no futuro próximo ir lá e recuperar minhas coisas.

Apesar de tudo, foi uma boa mudança, mesmo que o bairro, o prédio e o apartamento fossem vários níveis abaixo do que eu estava acostumado. Era uma cidade mais cara. Era esperado decair um pouco. Mas havia muito trabalho para fazer e sempre gostei de um bom projeto de reforma de casa. O último lugar em que vivi, passei anos para conseguir que ficasse como eu queria. Sempre gostei da ideia de consertar as coisas sozinho.

Quando eu pegasse os meus martelos de volta.

O timing dela não foi realmente ruim. Eu precisava tomar banho e ir trabalhar de qualquer maneira.

Peguei minha carteira e meus dois estojos pretos de metal com minhas armas aninhadas com segurança e saí pela porta. Hoje eu perderia o show pornô no apartamento ao lado. O que era decepcionante. Essa mulher tinha uma conversa suja inventiva.

Às vezes, francamente, era hilário.

Uma vez, ela tinha relinchado como um cavalo no meio de tudo. Tive que entrar no meu banheiro para rir.

For a good time, call...Onde histórias criam vida. Descubra agora