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PABLO HENRIQUE
Rocinha, Rio de Janeiro.

Início de ligação.
— Qual é PH, fala devagar pô. — Adamovich fala do outro lado da linha.
— Não tenho muito tempo e não posso dar bobeira, Cobra e Pezin estão contigo?
— Sim, vou por no viva voz pra eles ouvirem também.
— Manda a boa pra nós PH. — Cobra fala.
— Conquistei a confiança do FR.
— Assim do nada? — Pezin pergunta com um tom de desconfiança.
— Eu estava de boa fazendo a segurança da barreira, um menor me chamou falando que o FR queria trocar uma ideia comigo.. chegando lá, ele veio com uns papo de x9 e eu tremi na base já né, mas ele disse que confia em mim e que não acha que eu sou o x9 tanto que mandou eu ir buscar o carregamento que chega hoje.
— Até que enfim caralho, já vou juntar alguns homens e nós vamos roubar esse carregamento hoje mermo, manda a..
— Calma ai Adamovich, não seja emocionado não pô, isso tá muito estranho. Ele não iria confiar no PH de uma hora pra outra não, ainda mais mandar ele fazer um bagulho desse, a não ser que ele já saiba que o PH é o x9. — Pezin fala e eu arregalo os olhos.
— Isso eu acho que não.. mas ele pode estar desconfiando e essa ordem que ele mandou pro PH, pode ser um teste.
— Você tem razão, ele pode estar mandando o PH pra lá pra ver se vai acontecer alguma coisa, se vamos aparecer, caso acontecer isso ele vai ter a certeza de que o PH é o x9.
— Não tinha pensado nisso. — bufo. — Preciso real conquistar a confiança dele, então hoje vou fazer o serviço certo, enquanto isso vou pensando em um plano pra incriminar algum dos homens dele.
— Boa.
— Logo mais entro em contato com vocês, vou desligar pra não dar bobeira.
— Jaé.
— Ela não está falando contigo ainda? — escuto Adamovich suspirar e levo isso com um não. — Flw pra vocês.
Fim de ligação.

Bufo irritado, por pouco eu não caio no golpe que o FR provavelmente está planejando contra mim, deveria ter desconfiado desde o início que essa confiança repentina dele é algo suspeito.

FR é esperto e eu preciso ser mais esperto que ele, ou todo esse esforço vai ser em vão e provavelmente vou acabar morrendo.
Mas porra.. tudo isso está me deixando cansando e estressado pra um caralho, saudade do Vidigal e principalmente da Maria.. preciso manter o foco na minha missão, e não ficar pensando se algum dia eu e minha melhor amiga vamos ter algo a mais.

(...)

— Chegamos. — o menor que estava dirigindo o caminhão fala. — Sabe como funciona? — assinto.

— Que eu tenho que entregar a grana pro cara e vocês podem pegar as armas.

— Os homens que estão lá atrás vão contigo, a grana está lá atrás também em uma sacola, pode ir.

— Jaé. — saio de dentro do caminhão, já deixando minha pistola no jeito.

Dou a volta pelo veículo e abro a porta traseira do mesmo, pego a sacola com a grana e faço um sinal para os homens que estavam ali me acompanharem.

Vamos caminhando em direção ao portão do galpão combinado, abro o mesmo e já vejo o fornecedor de longe nos esperando, isso aqui não está me cheirando bem.

Rio de Janeiro.

— Tô achando isso estranho demais. — um dos caras fala.

— Por que tu acha isso? — falo baixo.

— Só uma sensação. — da de ombros, respiro fundo e me viro de frente para os cinco homens que estavam ali.

— Eu vou até lá sozinho e vocês fiquem de olho nos quatros cantos desse galpão. Um de vocês fica de olho em mim, vou fazer um sinal para que possam me ajudar no carregamento dar armas, entendidos? — eles assentem.

Giro meus pés e com a sacola de dinheiro em mãos começo a caminhar em direção ao fornecedor, que permanecia parado e com as mãos no bolso de sua calça social, quem diria que um homem bem vestido como esse traficava armas.

— Pontual, gostei disso. — sorrio de lado e paro alguns centímetros de distância dele.

— Onde estão os carregamentos? — pergunto.

— A grana primeiro. — responde e eu rio com deboche.

— Não confio em você, então é melhor a gente fazer uma troca justa. — falo e ele sorri de lado.

— Pra quem é do Vidigal até que você é bem espertinho. — arqueio a sobrancelha, não demonstrando o meu nervosismo, tudo isso é um truque, FR está me testando, mas não irei cair na dele.

— Tá fazendo confusão amigo. — ele ri. — Bora agir a vida né? Meu chefe precisa dos carregamentos de arma urgente.

— Bora agir a vida então. — sorri com deboche e eu estreito os olhos para eles.

Logo sons de tiros ecoam pelo local e eu destravo a minha arma imediatamente apontando a mesma para a sua cabeça.

— Você ficou maluco caralho? — vocifero.

— FR disse que você é x9 e que o chefe do Vidigal pode invadir aqui a qualquer momento, porque tu acha que ele te mandou aqui? — nego com a cabeça.

— Sinceramente, não sei o que levou ele a pensar isso de mim, mas pega essa merda pra tu. — estico a minha pistola para ele, que pega rapidamente apontando para mim. — Agora é só a gente esperar pra ver se os cara do Vidigal aparecem. — falo com deboche. — Aposto que ficamos aqui até amanhã. — cruzo os meus braços.

— Ele me deu a certeza.

— Certeza errada então, eu nunca morei no Vidigal, vim de São Paulo pra morar aqui no Rio. Mas não tinha condições pra me manter em um bairro daora, então fui pra Rocinha.

— E como sabia atirar? — reviro os olhos. — Porque o FR me disse que você chegou no dia de uma invasão e ajudou eles ainda, alegando que tu é um dos melhores atiradores que ele já viu.

— Meu pai me ensinou a atirar, ele fazia parte desse mundo lá em São Paulo, mas depois que morreu. — finjo estar abalado com o assunto. — Enfim isso não importa.

Dou uma virada pra trás vendo que todos os homens que estavam comigo haviam sido mortos.

— Você sabia que aqueles homens eram do FR né? — ele arregala os olhos.

— Eu pensei que fossem os cara do Vidigal. — passa a mão pelos cabelos nervoso.

— Bom, a culpa não é sua. Ele mesmo se meteu nisso, só por achar que eu sou um x9. — nego com a cabeça. — Melhor você ligar pra ele.

— Não precisa, já estou bem aqui. — escuto a voz grossa do FR e eu me viro para o encarar. — Não lembro de ter dado ordens para você matar alguém. — rosna para o fornecedor que treme na base.

— A culpa não é dele não. — falo e ele me fuzila com o olhar. — Tu deixou o cara em choque achando que eu era algum x9, ele só estava se prevenindo.

— Eu tinha certeza que era você. — rio negando com a cabeça.

— Como você mesmo disso, eu não babo a teu ovo querendo saber dos assuntos do morro. — ele fecha a cara. — Não sou desleal FR, se eu tô contigo no bagulho é até o fim. — tento parecer o mais sincero possível. — Tu pode não acreditar agora, mas isso que rolou hoje só mostra que eu não sou o x9 e enquanto tu perdeu seu tempo comigo, o x9 pode estar perambulando pelo morro.

— Não tenho nada haver com isso, mas confio no cara FR. — diz o fornecedor. — Ninguém tentou invadir o galpão e tu me disse que só ele sabia do carregamento. — FR abre a boca para responder mas é impedido pelo bipe do seu radinho.

— O que foi mer..

— Estão invadindo o morro FR, agora. — FR nem responde apenas taca o seu radinho com força no chão e me encara.

— Eu avisei.

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