Capítulo 13- De Glacê e Fogo

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Um homem sábio disse certa vez, a sabedoria sempre parece maior à distância.

O capitalismo moderno encoraja essa noção. Afinal, se um homem em sua crise de meia-idade e de posse de uma grande fortuna para gastar soubesse que poderia buscar sabedoria de um mendigo esfarrapado em sua própria rua, ele não gastaria milhares de dólares para encontrar sabedoria com outro mendigo esfarrapado do outro lado do mundo.

Em algum lugar a leste de uma certa cidade, antigas muralhas, degraus e torres estão desmoronando impressionantemente atrás de cordões de segurança e cercas. Cada pedacinho de entulho é rotulado em vários idiomas por uma placa.

Em frente aos escombros amontoados, um ônibus de cores vivas estacionou. Tinha um banner estilizado muito grande de um lado que dizia em letras góticas, "Aventuras na Terra Santa: Ande a Bíblia". O ônibus pertencia à mesma empresa que havia feito as placas. Ele despejou sua carga, que também era colorida em sua escolha de roupas.

Eles eram, é claro, turistas.

Em seguida, saiu a guia turística. Ela usava um elegante casaco azul trespassado com botões de bronze. Ela ergueu uma pequena bandeirola azul e os passageiros ficaram quietos por tempo suficiente para ela anunciar que era uma e trinta e cinco da tarde e que todos os passageiros deveriam voltar ao ônibus às duas e meia. Depois disso, subiriam a estrada seguinte e contornariam a montanha até os vinhedos para degustação de vinhos. A parada final seria na loja de presentes, onde poderiam comprar pedaços de pedras, potes de terra e pacotes de sais de banho feitos localmente (mas de alguma forma também engarrafados na China) como presentes para os amigos em casa.

Terminada a tarefa, a guia turística subiu de volta ao ônibus, abriu seu sorriso e esfregou a parte de trás de seus tornozelos doloridos. Ela compartilhou um pequeno gole de algo com o motorista que ele provavelmente não deveria estar bebendo em serviço e agradeceu a alguém por trás do vidro escuro do ônibus.

Enquanto isso, a massa coletiva se contraiu, depois se estendeu e, por fim, deu uma guinada na direção do palácio. Suas fotos coletivas não eram diferentes da tagarelice de certas raças de cigarras ou gafanhotos descendo sobre um campo.

Maggie Brown ergueu o telefone como se estivesse procurando por vida inteligente em um planeta alienígena. [Nota da autora: pelo jeito com que ela insistia, não estava encontrando nenhuma.]

"Olhe só para toda essa paisagem histórica.", disse ela ao marido, cujo nome era Frank.

"Sim, Mags."

"Você nunca veria algo tão nítido apenas assistindo à televisão."

"Não, Mags."

"Espere até mostrarmos ao pessoal do Estudo Bíblico."

"Sim, Mags."

Maggie girou a câmera do telefone.

"Sorria, Frank."

Frank Brown se casara aos vinte e quatro anos e era feliz. Ele nunca aspirara a mais que três refeições por dia, um programa de televisão tarde da noite (dois nas noites de sexta-feira) e o Super Bowl de domingo no pub. Ele deixava Maggie tomar todas as decisões por ambos. Maggie também estava feliz.

Frank sorriu.

Um pedaço de ruína menos impressionante estava a menos de dez metros de distância, com encanamentos modernos, paredes de azulejos e uma porta sobre a qual havia uma placa verde de saída.

O "I" piscou e alguém se juntou ao tour.

"Pode sentir a santidade irradiando deste lugar, não é, Frank?" perguntou Maggie.

Good Omens (Belas Maldições) - Segunda TemporadaOnde histórias criam vida. Descubra agora