Capítulo 14 - Calvário

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ALERTA DE GATILHO: Conflitos modernos e crimes de guerra, sangue, morte, fome, campos de internamento para refugiados, alusões a testes nucleares e pensamentos suicidas sob estresse.

***

Crowley se enganara sobre quanto tempo levaria para reunir todos aqueles cérebros , mas no fundo ele sempre foi um otimista. Ainda assim, os três não perderam tempo. A rede de Anathema começou uma pesquisa fervorosa, Crowley estocou giz e Aziraphale fez cálculos usando o que sabia das ciências atuariais do Céu. Este último item requeria o conhecimento profundo de como usar um ábaco, o que ele possuía.

Uma manhã, os estudos de Aziraphale o trouxeram para os livros da biblioteca novamente, e ele encontrou a página na segunda edição onde a nota de Raphael estava, ainda amassada e não lida. Levantando-se do sofá no apartamento de Crowley, Aziraphale passou pela cozinha e entrou pela porta do escritório.

Crowley estava empoleirado, não em seu trono, mas em um pequeno banquinho no chão em um canto, pairando como uma gárgula com dedos empoeirados sobre a Pedra em sua teia, e acenando com a mão de um lado para o outro, para mudar o espectro de uma estrela do tamanho de um punho. Ele moveu dois dedos para um lado e a cor mudou para um adorável azul gelo. Um fluxo de gases delicados flutuou em torno dele como fragmentos de seda.

Aziraphale prendeu a respiração e admirou-o, seu coração doendo de repente, mas completo. Ele segurou o livro contra o peito e decidiu que poderia esperar, só mais um pouco.

Apesar de sua imobilidade, os olhos de Crowley se levantaram um momento depois. "Algum problema, Anjo?" ele perguntou preocupado. Enquanto falava, sua mão comprida se esticou como por reflexo e segurou a pequena estrela em sua palma, como se para impedir sua queda.

"Não", disse Aziraphale e sorriu, apesar de suas preocupações. "Parece adorável."

"É, mas não vai parar arcanjos. E onde eu colocaria isso? "

"Nós poderíamos ter mais luz na sala."

"Humf", as sobrancelhas de Crowley se arquearam. Ele pareceu se aquecer com o pensamento, seus dedos dançando quase inconscientemente no ar para manter o minúsculo astro flutuando. Aziraphale não apontou a recomendação de Azazel sobre fazer apenas coisas que um humano faria com a Pedra. Ele conhecia a maioria dos humores de Crowley, e este era delicado demais para ser criticado.

"Vou tomar o café da manhã, certo?"

"Tudo bem."

Aziraphale fechou suavemente a porta do escritório e fez exatamente isso. Calcular quando o Fim (Parte Dois) ocorreria era claramente mais importante do que a carta de qualquer maneira, especialmente considerando as notícias ouvidas na frequência angelical (AM) pela madrugada.

***

Michael estava cansado. Mas não dos pesadelos.

Inferno, quer dizer, Lorde Beelzebub tinha ligado tarde [Nota da autora: porque, aparentemente, o bem também nunca consegue dormir].

O trabalho de Uriel e Sandalphon estava saindo pela culatra, elu dissera. O medo dos chamados desordeiros, combinado com economias tensas, estava fazendo com que alguns governos sem alma considerassem fazer algumas mudanças. Obviamente, os anjos eram bons demais em ser bons.

O primeiro impulso de Michael foi acusar e outre príncipe de fazer uma piada — de muito mau gosto — mas Michael não era impulsivo e, em vez disso, pediu friamente os detalhes. De alguma forma, explicou e Senhor das Moscas, os humanos conseguiram usar a Ira e a Cobiça para fazer pessoas más pensarem em fazer o bem. Algo precisava ser feito. Talvez adicionando Preguiça ou Inveja à mistura. Certamente eles precisavam interferir nas relações públicas, senão outra coisa.

Good Omens (Belas Maldições) - Segunda TemporadaOnde histórias criam vida. Descubra agora