[35] A teoria de sentir

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Suspirei aliviada ao encarar minha cama. Não dava para acreditar que eu dormiria sob um colchão naquela noite. Depois de passar horas a fio em um banco, era impossível não encarar aquele móvel como um oásis no meio de um deserto.

A primeira coisa que fiz ao passar o cartão e abrir a porta foi largar a minha mochila na beirada da cama e me jogar nela, a cama. Ela era macia, limpinha e exalava um aroma agradável de amaciante caro. Nada como aqueles hotéis que deixavam roupas de cama suspeitas para os hóspedes. Eu não era uma especialista em hotéis, nada disso, mas devo contar a vocês da minha última hospedagem nada agradável  realizada graças à para uma excursão escolar (horrível) que minha turma tinha feito ao Texas (o lugar era incrível) no ano passado. Meu travesseiro tinha um odor muito suspeito e eu acabei ficando com alergia nas bochechas.

Depois de ficar um tempinho descansando me levantei e estiquei as compridas cortinas que escondiam uma janela com uma vista espetacular. O quarto não era lá muito grande, mas era aconchegante e limpo e era exatamente disso que eu precisava após um longo dia de viagem. As paredes eram da cor creme e havia uma pequena televisão na parede de frente a cama, presa a um painel. Abri a janela e deixei o ar noturno penetrar cada cantinho do quarto, apesar do ar condicionado estar ligado. Peguei o celular e cliquei no contato da Gillian. Enquanto o telefone chamava fiquei observando a rua. O tráfego ali era bem maior que minha cidade e menor que Los Angeles. Pessoas passeavam pela calçada e eu podia enxergar as palmeiras se balançando com a brisa da noite. Carros buzinavam, música tocava ao longe. Eu podia sentir um leve, para não dizer quase imperceptível odor salino vindo com a brisa.

"Ashe!" A voz de Gillian era estupefata. "Meu Deus Ashe! E aí, tudo bem? Você já chegou?"

"Já sim. Estou no hotel agora. Alguém perguntou sobre mim para você?"

"Ah nem me fala disso." Ela suspirou. "Por onde começar?... Bom. Seu pai ligou hoje mais cedo, mas eu segui o plano do banheiro e foi fácil se esquivar. O problema de verdade está sendo a Mia."

"Mia? O que aconteceu?"

"Ela perguntou de você no Foutman hoje. Foi estranho porque ela não fala comigo e eu estava passando pelo corredor e aí ela segurou meu braço para me fazer parar.   Ela disse que você deixou um bilhete falando que você estaria comigo e que precisava conversar com você urgentemente. E acho que foi aí que eu errei..." Ela fez uma pausa, me deixando nervosa.  "Eu disse que não sabia onde você estava. Aí ela meio que me olhou de um modo confuso e saiu."

"Só isso?"

"Não. Quando eu estava saindo da lanchonete, ela meio que me encurralou de novo. Ela disse que não tinha visto você em nenhum lugar hoje e que Mark também não estava em nenhum lugar. Ela queria saber onde vocês dois estavam, mas eu não respondi nada, peguei minha bike e pedalei tão rápido que minhas pernas estão doendo até agora. Ah, e minha mãe acabou de comentar que o pai do Elliot disse que ele também deixou um bilhete avisando que ia passar uns dias na casa de um cara do  nosso time de futebol, mas sei que isso aí é mentira. Cara... qual é desses bilhetes?" Ela fez uma pausa para recuperar o fôlego. "Ele também disse que tem que ficar de olho em uma tartaruga, mas isso não importa. Vocês estão juntos né?"

"Sim." Me sentei na poltrona marrom do lado da janela. 'Mas sobre a Mia... Eu vou pensar em alguma história aqui e vou ligar para ela. Ela não pode desconfiar de nada, não até depois de manhã que é o tempo que vou precisar. Mas você fez muito bem em fugir eu acho. Obrigada por estar me ajudando! Obrigada obrigada obrigada!"

"Você vai ter que me pagar um belo sundae quando voltar." Ela suspirou. "Mas e aí, como é a Califórnia? Que saco, você só disse que estava indo para a Califórnia, nem me falou pra qual cidade estava indo. Tá pra nascer alguém mais misteriosa que você."

A Teoria da Faixa TrêsOnde histórias criam vida. Descubra agora