[6]

35 14 1
                                    

São cinco horas da tarde de uma quinta-feira e eu estou praticamente me esfregando no meu forno que está assando alguns legumes picados

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

São cinco horas da tarde de uma quinta-feira e eu estou praticamente me esfregando no meu forno que está assando alguns legumes picados. É o dia mais frio de outubro até agora e mesmo com o aquecedor ligado na sala, sinto meus joelhos gelados debaixo da calça de moletom. Hoje é meu dia de fazer o jantar, o que me deixa animada, apesar de todo o frio e preguiça. Neve na minha cidade é um evento raríssimo (a última vez que isso aconteceu foi na década de 70), mas sua ausência não implica na falta de frio. Na verdade, os invernos aqui são rigorosos, com direito a ar extremamente seco e ventos tão gelados que você precisa usar agasalhos corta vento praticamente por toda a estação.

"Precisa de ajuda?", Mia grita da sala, caminhando até a nossa cozinha.

"Ah... acho que não, estou quase terminando", eu digo, saindo da frente do forno e dando uma mexida no purê de batata que está no fogão. Mia também se aproxima do forno e suspira. Ela consegue ser mais friorenta que eu, com sua touca cinza com um pompom no topo, cachecol rosa e um sobretudo.

"Senhor, nossa casa é muito fria", ela coloca uma das mãos nas bordas do forno, tirando-a dali em poucos segundos. "Fico pensando nos desabrigados que precisam enfrentar esse frio nas ruas. Ainda bem que nosso grêmio sempre abre a campanha do agasalho no finalzinho do verão. O volume de doações está sendo o mais alto em 2 anos, graças a Deus."

"Sério? Fico feliz em saber disso. Ainda bem que você comentou... preciso separar algumas roupas para a doação, mas sempre me esqueço", desligo o purê e tampo a panela. "O papai ainda está no chuveiro?"

"No chuveiro não sei, mas já faz uma hora que o homem está trancado no banheiro", ela solta uma risadinha. "Provavelmente vai sair com sua pretendente super secreta."

"Uhm. Você tem algum palpite de quem seja essa tal pretendente secreta?"
"Uh, não. Ah! Na verdade eu acho que tenho sim", ela olha para mim, sua expressão é empolgada. "A carteira do bairro, a senhora Nigro. Anteontem ela deixou uma entrega aqui na porta e conversou um pouco com papai. Não foi um olá, boa tarde, muito obrigado, foi uma conversa longa para os padrões de um carteiro. Eles ficaram uns 10 minutos conversando e eu ouvi a risada dos dois!"

"Mia, a senhora Nigro deve ter uns 60 anos", precisei pressionar os lábios para não começar a rir. "Eu acho improvável"

"Ah é? Mas não é impossível, apesar de eu achar que eles não combinam", ela dá de ombros. "Você tem algum palpite? Papai não é o rei das interações sociais. Ele só conversa com o pessoal da loja de instrumentos e ainda mantém algum contato com os amigos que fez na faculdade"

"O único palpite que tenho no momento é que nosso pai provavelmente não vai encostar o garfo neste purê de batatas. De qualquer maneira vou fazer um prato para ele comer quando voltar do seu encontro"

"Falando de mim?", Meu pai surge tão repente que por um segundo penso que ele estava ali o tempo todo ouvindo a conversa. Ele está muito perfumado, com o cabelo domado por um pouco de gel, barba feita e roupas formais e bem alinhadas. Ele parece ter saído de algum comercial no qual já vi , mas não consigo definir na minha mente.

A Teoria da Faixa TrêsOnde histórias criam vida. Descubra agora