[13] A teoria de uma cena clichê

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Deus abençoe as manhãs jogadas fora! Ao atravessar as portas da Lanchonete Foutman naquele mesmo dia, me senti mais energizada como nunca havia me sentido antes. Está comprovado, o colegial é um sugador de energia dos adolescentes. Ou pelo menos de mim. Ah, não importa. Eu gosto de estudar, mas faltar de vez em quando também é uma maravilha.

Marina me deu um aceninho discreto quando me viu entrando no banheiro restrito à funcionários. Botei o uniforme de cor pastel, dei um oi para o pessoal que estava na cozinha e lá fui eu cumprir minhas funções diárias. Tudo estava indo muito bem, eu atendia e retirava as mesas com a agilidade que Sam tanto gostava. Mas aí Theo apareceu quando eu estava separando o lixo das mesas nas latas de reciclagem. Ele abriu um sorriso maroto como se estivesse dizendo "seus problemas acabaram, eu cheguei!". Mal ele sabia que estar na presença dele, me deixava mais confusa que a Alice no País das Maravilhas.

"Ei ai, Ashe? Como vai?"

"Ocupada com o meu trabalho."

"Hmm..." Ele se encostou em uma parede
"O movimento está bom hoje, não acha? Se eu ganhar uma boa gorjeta te pago um lanche no final do expediente."

"Obrigada pela gentileza, mas acho que já comi muito hoje."

"Não tem problema, leva pra viagem. Vem cá, é impressão minha ou você está me evitando?"

"Sim. E sabe por quê? Já fiquei sabendo que você está de agarra-agarra com a Pearl."

Ele não conseguiu esconder a surpresa, mas é claro que tentou disfarça-la, fazendo uma careta e me fitando como se eu fosse uma louca.

"Ah, o que? Quem te disse isso? Porque essa pessoa está mentindo."

"Vi com os meus próprios olhos, Theo. Espero que você tenha um bom proveito com tudo isso." Desviei do seu olhar confuso que claramente era uma encenação e voltei ao trabalho.

Quando meu expediente estava quase acabando, por volta das 7 horas da noite, o sino da nossa porta de entrada, tilintou. Levantei o olhar por um segundo das mesas que eu estava limpando com Gillian e me surpreendi. Era Pearl Adams, varrendo todo o nosso salão com os seus olhos claros, como estivesse farejando algo. Theo Becker, claro. Quando ela me notou, veio correndo na minha direção (o quanto é possível com saltos enormes) e me olhou como se fôssemos melhores amigas.

"Oi, Ashe. O Théo ainda está aqui?"

"Sim, provavelmente. Por que? Não me diga que você veio dar um teste drive nele com todos nós dentro da lanchonete. Isso seria nojento." Eu disse, surpreendida pelo meu tom de escárnio. Ela arregalou os olhos.

"O que? Claro que não! Você enlouqueceu para ficar falando coisas assim? Eu só quero saber se ele está aqui porque queria deixar um livro sobre música que ele me pediu hoje mais cedo."

"Ah um livro. Sei bem. Bom, uma hora ele aparece. Agora me dá licença, porque eu ainda estou trabalhando."

Ela piscou algumas vezes antes de se sentar em um dos bancos do balcão e começar a mexer no seu celular. Gillian, que havia parado também a limpeza porque era curiosa demais para não ficar ouvindo conversas, veio na minha direção e arregalou os olhos.

"É o que eu estou pensando que é?"

"Acho que sim. Também acho que todo mundo sabe a essa altura do campeonato que os dois idiotas estão saindo. Bom, mas quem liga né? E isso não é da minha conta."

"Não comece a agir como se não se importasse, Ashe." Cochichou. "Esse papo não funciona comigo. Sei que você e Theo tiveram alguma coisinha que eu não sei bem o que é, mas sei que aconteceu. E sei também que essa Pearl é uma idiota que só sabe olhar para o próprio umbigo. Que bom que ela finalmente encontrou alguém tão indiferente à vida alheira tanto quanto ela."

A Teoria da Faixa TrêsOnde histórias criam vida. Descubra agora