[12] A teoria de uma conversa

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Eu mal podia acreditar

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Eu mal podia acreditar. Mark Elliot, o típico garoto atleta que por muita insistência eu tinha aceitado a ajudar na sua declaração cancelada como Patrick Verona, também sofria do mesmo mal que euzinha, Ashlyn Reed. Loucura total. Acho que mais doido do que sofrer de uma anomalia que a princípio você acreditava que ocorria apenas com sua pessoa, é tomar o conhecimento de que mais um ser humano do planeta também tem isso e que está tão próximo de você, que discutir sobre era uma opção super possível.

- Eu ainda não estou acreditando. - Pousei as costas da mão na minha testa. - Não. Devo estar sonhando loucamente. É uma coincidência louca.

- Bom, foi por isso que eu fiquei assustado no café. Aquela música da Mariah Carey era uma clássica faixa três. Eu tinha que arrumar uma maneira de escapar ou então o dia podia ficar mais estranho do que já está.

- Bom, não sei se você percebeu, mas ela meio que já está ditando as nossas vidas, desde o momento em que entramos no carro. - Eu peguei uma garrafa de água que estava na minha mochila e dei alguns goles. - Pelo menos o efeito colateral não foi tão ruim assim. Quer um pouco de água?

- Eu aceito. - Ele pegou a garrafa da minha mão e deu goles grandes. - Não está sendo tão difícil se acostumar com o fato que mais alguém tem a mesma bizarrice que a minha. Na verdade eu meio que estou aliviado.

- Eu também. Você já tentou contar isso para alguém? Tipo, alguém próximo, um familiar, um amigo?

- Não. Acho que a única pessoa na qual eu teria coragem pra contar uma coisa dessas, seria o Jonas. Eu sinto que ele iria entender. E você?

- Nunca. É eu abrir a boca e minha irmã ligar para o manicômio mais próximo. Não quero passar o resto da minha vida presa a um quarto sem vida, vestindo uma camisa de força, não mesmo.

Decidimos que íamos matar o tempo até que o horário normal de aulas terminasse naquele dia. Fomos a uma conveniência próxima e compramos mantimentos, como água, balas e chocolate. Começamos a falar e a falar, até ficarmos roucos. Mas valeu a pena, no final das contas. Mark compartilhou umas histórias estranhas do tipo, pular em piscinas porque uma faixa três estava tocando e chutar caixas de som no meio de uma house party porque I Did Something Bad da Taylor Swift começou a tocar.

- Faz um tempão que não vou mais a festas, o que é praticamente um suicídio social quando estamos falando de ensino médio e respeito dentro de um sistema educacional. - Ele jogou um punhado de amendoins na boca e tentou amarrar a embalagem.- Mas prefiro ser taxado de idiota do que saber que alguma merda não premeditada por mim mesmo vai acontecer. E você? Que coisa mais doida já aconteceu com você ao escutar uma faixa três?

- Bom, não foi tão estranho assim, mas ontem mesmo, eu fui atingida por uma faixa três. Entrei no Instagram e assisti os seus Stories. Você estava cantando Never Be Alone, uma faixa três. Eu meio que entrei em pânico quando percebi.

- Ah sim! Estava me sentindo um monte de lixo ontem, por causa de bom, tudo. Só percebi a cagada que fiz quando entrei no perfil do Shawn Mendes no Spotify e vi que sim, se tratava de uma faixa três. Mas não é estranho? Eu não senti que ela me atingiu. Na verdade foi bem ao contrário.

- Talvez ela tenha te atingido de uma forma na qual você não percebeu. Talvez ela nem tenha acontecido na sua vida. O que é uma evolução em todos os níveis na teoria da faixa três.

- Teoria da faixa três? O que é isso, um artigo científico?

- Não! Sou eu mesma escrevendo sobre as faixas três e criando teorias que de alguma forma vão me ajudar a entender ou pelo menos criar um argumento a respeito das faixas três. Assim espero.

- Uau, inovador. Eu acho que nunca pensaria nisso.

- Acho que está sendo mais uma forma de eu encarar todo esse caos do que qualquer outra coisa. Ouvi dizer em algum lugar que escrever te ajuda a canalizar os sentimentos. Por que você não tenta escrever alguma coisa?

- Eu escrevo, na verdade. Mas só músicas. Para ser sincero, eu acho que não está me ajudando muito.

- Você escreve músicas? - Arregalei os olhos e ele assentiu, timidamente. - Que legal! Porque não tenta escrever sobre a raiva, ódio e ressentimento que tem por todas as faixas três? Aposto que você vai fazer coisa melhor do que Theo Becker.

- Theo Becker, o guitarrista? Pensei que ele só tocava solos e coisas assim.

- Bom, pensou errado. Mas a questão não é essa. Você pode escrever sobre as coisas que sente, seus medos e tudo o mais. Não vale a pena tentar, não é?

- Ei, é impressão minha ou você tá um pouco nervosa? Parece que viu um fantasma quando falei sobre Theo Becker. Tá tudo bem?

- Não. - Cruzei os braços, de repente me sentindo muito idiota, tapada, usada por Theo. - Mas não quero falar sobre isso. Posso dizer que você não é o único que está sofrendo desse mal chamado desilusão.

Ele me fitou com dúvidas, mas eu apenas cacei mais um chocolate na sacola, para manter minha boca ocupada, caso ele ousasse em fazer mais perguntas. Graças a Deus ele não fez isso, porque eu tinha certeza que ia chorar se falasse mais alguma coisa. Tá, era óbvio que eu não era namorada de Theo Becker, mas isso não significava que eu não nutrisse sentimentos por aquele filho da mãe. Vê-lo de agarra-agarra com Pearl me deixou com a cabeça cheia de coisas nas quais eu não havia encontrado uma maneira de verbalizar.

A teoria de uma conversa pode rodear inúmeros fatores, mas o que geralmente aproxima duas pessoas a ter um diálogo tranquilo é ter um assunto em comum. Então quando precisar conversar com uma pessoa que a princípio você acha que não tem nada a ver com você, comece por um assunto neutro como o tempo (acho que todo mundo já usou a desculpa do tempo para conversar), notícias avassaladoras que passaram no noticiário anterior e que está abalando o lugar onde você vive (ficar tenso sozinho é horrível, compartilhe a notícia com alguém e assim você não estará sozinho nessa), fale sobre o trânsito, o dólar ou as injustiças da vida como pessoas e animais que moram na rua e os políticos corruptos. Claro, não solte um assunto do nada ou então você vai ser taxada como a louca das drogas. Tente dar brecha para pessoa falar sobre algum assunto também. Se você não curtir muito o que ela diz, apenas responda com monossílabas ou murmúrios e preste atenção em outra coisa que não seja a pessoa e seu discurso chato. É importante escapar de gente chata que sempre vem falando do mesmo assunto e não se toca que você não gosta de nada do que ela fala. Encontre rotas de fuga como o banheiro, um lugar atolado de gente (assim você se mistura e escapa) ou então comece a beber ou comer sem parar para não dar nenhuma resposta e mostrar que você está super ocupado. Mexer no celular, fingir que está lendo um livro ou fazendo um trabalho no seu computador também são ótimos instrumentos para evitar uma conversa que só vai te render chateação e muito sono. Te apoio nas suas escapadas se você continuar lendo os próximos capítulos.

**Texto pensado e redigido por: Ashlyn (Ashe) Reed.

Nenhuma parte deste material poderá ser copiada sem autorização da mesma, correndo o risco de sofrer terríveis consequências.

Atenção: algumas pessoas, lugares e eventos mencionados no decorrer dos capítulos, poderão ter seus nomes modificados a fim de preservar respectivas privacidades.

Ps: isso não é um diário. Te mato se eu souber que você acha que meus registros e experiências altamente profissionais não passam de puro clichê adolescente.

A Teoria da Faixa TrêsOnde histórias criam vida. Descubra agora