[7] A Teoria de um favor

222 46 18
                                    

Lá estava eu no intervalo, sentada debaixo de uma árvore, aliviada por ter me livrado da aula infernal de educação física, desfrutando da minha saladinha de frutas quando alguém pulou na minha frente, me fazendo dar um impulso para trás e bater as...

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Lá estava eu no intervalo, sentada debaixo de uma árvore, aliviada por ter me livrado da aula infernal de educação física, desfrutando da minha saladinha de frutas quando alguém pulou na minha frente, me fazendo dar um impulso para trás e bater as costas no casco duro da árvore.

"Ai! Qual é o seu problema?", olhei para Mark, que se jogou do meu lado, como se tivesse intimidade para fazer isso. "Se eu tiver fraturado a coluna, a culpa vai ser toda sua."

"Não seja dramática, Ashlyn. Eu só quero a sua ajuda."

"Tá e eu já deixei bem claro que não quero ajudar. Parece que vocês populares não suportam a rejeição. É tão difícil assim superar?"

Mark estreitou os olhos, me encarando por alguns segundos. Segundos tensos, nos quais eu fiquei enrusbecida, porque ele me fitava de um jeito intenso, como se tivesse tirando algumas conclusões de mim. Não que eu ligasse para o que ele pensava ao meu respeito, mas eu geralmente sou péssima quando o assunto é olhares. Se a pessoa me encarar por mais de três segundos, é quase certo que eu vou começar a rir de nervoso.

E foi o que eu fiz.

"Qual é a graça?"

"Nada", me contive, limpando a garganta. "Na verdade não tem graça nenhuma essa sua obsessão em me pedir ajuda. Não sou a madre Teresa de Calcutá para topar qualquer caridade. Você não acha que tem que começar a fazer as coisas por conta própria?"

"Eu te ajudei, uma vez", comentou, arqueando as sombrancelhas. "Acho que está na hora de retribuir esse favor."

Fiquei de queixo caído. Quem ele achava que era?

"O que? Você tá pirando. Você nunca me ajudou!"

Sua expressão se alimentou de uma certeza na qual me deixou com a sensação de estar pisando em um solo perigoso.

"E é aí que você se engana. Sexto ano, na primavera. Você precisou do meu casaco, se lembra? Foi a primeira e última vez que eu roubei também."

Desviei o olhar, e fui bombardeada com as lembranças de uns bons anos atrás. Eu tinha onze anos e estava no meio de uma aula, quando comecei a sentir um desconforto abdominal. Na época eu tinha pouco conhecimento sobre puberdade e essas coisas. Minha irmã já havia mencionado algo sobre "sangrar na parte de baixo", o que me deixou assustada por dias. Mas enfim. Eu achei que estava com dor de barriga e pedi licença para ir ao banheiro. Estava com medo de fazer alguma coisa na calça e passar mico na frente daquelas pessoas nas quais eu mal trocava uma palavra. Quando eu estava chegando ao sanitário feminino, fui interceptada por Mark Elliot em uma versão bochechuda e baixinha. Fiquei surpresa e assustada pela sua presença em um local estritamente proibido para garotos, mas a surpresa se intensificou quando ele tirou o seu agasalho e me entregou. Fiquei olhando para ele confusa, mas ele apontou para a parte de trás da minha calça e suas bochechas coraram.

"Sua calça está, hum, com sangue."

Entrei em pânico. Pulei para uma cabine e tentei limpar o sangue na calça, em vão. As lágrimas começaram a cair sem ao menos eu perceber. Aquela era uma das várias desvantagens de não ter uma presença materna por perto. Com certeza eu estaria armada de absorventes na bolsa para este imprevisto, mas a realidade patética foi aquela. Chorei, pensando que meu mundo ia acabar e que o melhor a se fazer era ficar trancada ali até as aulas acabarem.

"Ashe." Mark me chamou do outro lado. "Eu tenho uma coisa pra você. Uma coisa que vai ter ajudar com... com esse problema."

Com cerimônia e receio, abri a porta. Mark estava vermelho como um pimentão e tinha um pacote de absorventes nas mãos. Fiquei boquiaberta, dividindo o olhar entre ele e o pacote.

"Toma."

"Onde você conseguiu isso?"

"Não importa." Ele colocou a embalagem nas minhas mãos. "Me devolva a blusa quando não precisar mais dela."

Eu estava abrindo a boca para agradecer, mas ele me deu as costas, sumindo do mesmo modo que havia surgido.

"Pela sua cara acho que você se lembrou", o Mark atual, me encarou.

"É.", eu estava começando a ficar quente de vergonha. "E eu fiquei realmente grata por você ter me ajudado. Era uma época que eu não tinha amizade com praticamente ninguém. Bom, até hoje em dia eu não tenho, mas você me entendeu."

"Sim. E eu posso estar agindo como um escroto por te cobrar uma coisa que não deveria ser cobrada, mas eu estou...", ele fez uma pausa, respirando fundo. "Cara, eu tô perdido. É isso. Perdido ao extremo. Eu não vou conseguir me reconciliar com a Pearl, sem uma mãozinha."

Ele me olhou com uma expressão de cachorrinho abandonado. Uma expressão que me deixou desconfortável ao extremo e eu odeio ficar desconfortável porque eu acabo aceitando certas coisas. O que saiu da minha boca, me deixou metade surpresa, metade decepcionada:

"Tá, eu vou te ajudar" , Mark arregalou os olhos e curvou os lábios em um sorriso. "Mas não fique muito animado. Eu vou tomar as rédeas da situação e você não terá muito palpite."

"Tudo bem."

"Nós vamos invadir a sala de figurino do grupo de teatro e encontrar algo mais elegante pra você vestir."

"Tudo bem."

"Vamos ensaiar a música hoje e fazer a tal serenata amanhã, assim podemos botar tudo em prática sem muitos imprevistos."

"Tudo bem."

"Quer parar de falar tudo bem?"

"Tudo bem", seu sorriso cheio de dentes me fez revirar os olhos. Ele estendeu uma mão e nós nos cumprimentamos como dois diplomatas. "Contrato fechado, Ashlyn Reed."

E aqui vai minha teoria a respeito de um favor: Você tem direito de recusar. É sério, não fique achando que se recusar vai parecer uma pessoa do mal. Até onde eu sei, não existe uma lei federal que te impeça de fazer isso. E se aceitar, vá com isso até o fim. Apesar de você não cobrar nada pelo serviço, você será cobrado. Então honre a sua palavra e faça as coisas acontecerem mesmo com todos os possíveis imprevistos.

**Texto pensado e redigido por: Ashlyn (Ashe) Reed.

Nenhuma parte deste material poderá ser copiada sem autorização da mesma, correndo o risco de sofrer terríveis consequências.

Atenção: algumas pessoas, lugares e eventos mencionados no decorrer dos capítulos, poderão ter seus nomes modificados a fim de preservar respectivas privacidades.

Ps: isso não é um diário. Te mato se eu souber que você acha que meus registros e experiências altamente profissionais não passam de puro clichê adolescente.

A Teoria da Faixa TrêsOnde histórias criam vida. Descubra agora