Um voo no tempo

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O tempo flui como sempre fluiu, nós que estamos com pressa. Pressa da vida, pressa de viver, pressa pelo caos que nos cerca.

Nossas mãos estão se moldando aos nossos modernos celulares numa tentativa frustrada de adiantar as coisas que apenas nos puxam para trás.

Ela não queria mais isso, e, sempre que podia, ouvia músicas calmas de piano para poder dormir em paz. Nada de ver redes sociais ou joguinhos antes de dormir.

Era a música clássica, a escuridão do quarto e a sua paz.

E, em um dia de sono profundo, ela fez um voo no tempo.

Nesse sonho, 35 anos se passaram.

Sim, ela se viu uma velha senhora de cabelos brancos com uma longa e bela trança. Ela andava por um jardim florido com vista para as montanhas.

Ela se transportou para uma velhice na Suíça.

Enquanto ela andava pela grama admirando a vista, ela pensava em sua vida. Ela já tinha 75 anos de idade. Seu rosto já ganhara as fortes marcas da velhice mas, sua covinha do lado direito da bochecha ainda era visível cada vez que ela sorria pensando nele.

Se hoje ela se tornou a escritora que era, foi por causa dele.

Ele deu a ela a força para continuar a projetar seu sonho guardado a tempos no fundo do coração.

Ele deu a ela a inspiração necessária para que as palavras voltassem a fluir por sua mente.

Ele curou a solidão e o inverno que, na época, não saia do seu peito. Ele era a luz em forma de sorriso.

Ele tinha o melhor abraço do mundo. O mais quente e o mais apertado. O abraço que seu corpo pequeno cabia perfeitamente.

Ele era seu confidente e melhor amigo. Ela acreditava que ele era seu fio vermelho nessa vida.

E foi assim que ela encontrou a força necessária para dar continuidade ao seu sonho.

Ele lia e vibrava com ela a cada capítulo.

Cada dia com ele era uma inspiração nova. Um texto, uma prosa, um verso. Era poema e poesia. Era  Beethoven, Debussy, R. Armando Morabito, Enya, Vangelis, Shakespeare, Antoine de Saint-Exupéry... Tudo em uma mistura que ela amava.

Ele trazia girassóis e o cheiro dele dava vida a cada conto que ela tinha na cabeça.

Ele, para ela, era uma alma pura. O melhor contador de histórias e quem fazia o coração dela acelerar como um carro esportivo em uma autobahn na Alemanha.

E, entre todos esses pensamentos, ela entra em sua pequena e charmosa casa e olha para a parede. Ali, estão fotos dos seus livros, de premières, lançamentos, prêmios...

Mas uma foto a chama a atenção... era ela, mais jovem, de cabeça baixa em uma casa de chá. Ela sorri para aquela foto em especial. São tantas lembranças que retornam a sua mente ao olhar aquela velha foto já maltratada pelo tempo.

Uma lágrima desce pelo seu rosto. Então, a velha escritora olha para suas mãos enrugadas com seus longos dedos e, em sequência, olha para o piano marrom no canto da sala.

Com passos lentos, ela caminha em direção ao instrumento musical, senta-se e começa a dedilhar aquelas notas que, levaram anos e anos, para serem tocas novamente.

Era a composição "Clair de Lune".

Sempre que ela tocava, ele aparecia para ela encostado no piano sorrindo.

A música trazia ele para ela.

E assim, a velha escritora tocava "Clair de Lune" diariamente ao longo dos anos e deixava suas lembranças dela com ele fluírem como a água derretida que descia dos alpes.

E do nada, ela acordou!

Seu sonho a perturbou de uma forma que, seus sentimentos se equilibravam entre o fascinante e o assustador. Seria a uma visão do futuro?

Ela se sentou e pensou, pensou, pensou... E chegou na conclusão de que, o futuro é uma caixa de surpresas.

A roda da vida não para. Existem encontros, desencontros e reencontros.

Existem almas que são ligadas por fios vermelhos que se esticam, retornam, esticam de novo...

Várias situações são tão inexplicáveis que são capazes de colocar nossa sanidade em cheque.

É, o amanhã sempre será uma incógnita...

Ela pega um café e vai trabalhar em sua rotina diária. Se será mais um sonho como qualquer outro, só o tempo dirá.

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