Então Lucia parou de respirar.
Os jovens tinham sido puxados a força da sala por enfermeiros. Estavam esbaforidos, os corações rápidos e doloridos nos peitos. Damian não conseguia organizar os próprios pensamentos. O que era real? O que não era? E onde infernos estava Luca...
Ele olhou para a companheira e notou sua expressão vazia. O rosto estava azulado, arroxeado, e depois amarelado, como se A Noite Estrelada estivesse pintada em sua face. O garoto viu as mãos dela se fecharem em punhos, o corpo tremer, o suor cair. Ele, sem pensar muito, a agarrou, e, gritando por auxílio, foi escoltado por guardas até a saída.
A noite estava fria agora e Lúcia sentiu uma leve geada na pele. Encolheu-se ainda mais no largo casaco de Damian. Sua cabeça não estava funcionando agora.
E só então ela notou que todos aqueles livros de heróis estavam errados. Ela não era uma heroína, ela não era corajosa.
E, por mais um longo instante, desejou estar morta.
Sentiu a caixa torácica se fechar em volta de seus pulmões como um punho ossudo, espremendo seu coração. Suas mãos se moviam agora sem o controle dela, espasmando e tremendo. Sua respiração voltou acelerada como nunca, irregular, e logo deixou sua cabeça leve.
Damian não gostava nada daquilo. Ele não sabia como reagir. Nos filmes, quando alguém está tendo um ataque de pânico, nunca é o protagonista. E, quando é, sempre tem alguém do seu lado que sabe o que fazer. Bom, ele pensou, não estavam num filme, e Damian nunca, em ocasião nenhuma, seria a pessoa certa.
Ainda assim ele a segurou pelos ombros. Ainda assim ele a embalou em um longo abraço. Não sabia o que estava fazendo. Não sabia muito bem como abraçar, sempre achou estranha a posição, ou nunca soube calcular exatamente quanto tempo deveria durar.
Lucia, ao se ver naquele aperto, sentiu que perdeu o ar. Ela tentou se afastar dele, empurrou seu tronco com força, mas o jovem não se mexeu.
— Não encoste em mim! — Ela gritou, e tentou socá-lo, mas ele não cedeu.
Ela tentou lutar, tentou se esquivar, mas o abraço dele era de pedra. E não era como se ela não quisesse o abraço; a verdade era, ela mais que queria, precisava do enlaço. Mas o calor do corpo dele, seu cheiro de sabonete, a fez transbordar. As vozes estavam quietas agora. Só existia ela agora. E, de certa forma, isso era muito mais assustador. E o silêncio era muito mais ensurdecedor.
— Eu sinto muito... — Ele murmurou na testa dela.
Os braços dela pararam de socar e recaíram nas costas dele, fracos. Ela deixou o rosto mergulhar na camiseta negra do menino, deixou as lágrimas arruinarem o algodão, deixou os gritos se abafarem no tecido. Não queria a quietude. Não agora. Não desse jeito.
E assim ficaram.
Por segundos que pareceram anos.
Segundos que poderiam ser anos.
E Damian percebeu quanto tempo um abraço deveria durar. Tempo o suficiente.
Enquanto o rosto dela estava enterrado em seu peito, ele sentiu o estômago roncar e se viu um tanto constrangido. Lucia olhou para cima, os rostos próximos. Damian não sentiu aversão a ela. Damian não sentiu nada além de vontade de apertar mais. Apertar tanto que a tristeza saísse por seus poros, como uma esponja. Ele não o fez, porém. Apenas a olhou, um pouquinho sem jeito. Ela sorriu de leve, os olhos ainda marejados, e fungou.
— Eu vi uma lanchonete no caminho pra cá. — Comentou baixinho, o que fez Damian também sorrir de leve.
— Graças aos céus.
E aquilo foi o suficiente.
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A Filha Do Coringa
FanfictionLucia é uma jovem angustiada, fadada a viver pelos corredores da academia Gothan lamentando o sumiço misterioso de seu gêmeo, Luca. Sua rotina, entretanto, é virada de cabeça para baixo com a chegada do novo aluno, Damian Wayne. Agora, Lucia deve ap...