Capítulo Quatro

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Damian não conseguia dormir. Deitado no beliche detonado, ele observava as marcas dos alunos que passaram por aquele quarto. Algumas mensagens cravadas na madeira eram inofensivas, como nomes em corações e desenhos de genitais, mas outros eram um tanto mais preocupantes. “Olive é a cadela de Gotham”, “Pomeline vai morrer primeiro”, “Academia Gotham deve queimar”. Os dentes de Damian se resetaram. Era isso que ele ganhava ao pedir um quarto solo, onde os lunáticos costumavam ficar.
Sem um pingo de sono, o jovem se sentou na cama, a cabeça cheia. Por que ele estava lá e não um metido a herói inferior? Por que naquele período específico? Bruce, seu pai, devia ter algo na manga, mas porque Damian era desprovido daquele plano?
Ele se levantou, grunhindo ao bater a cabeça na cama de cima. Aquilo era como o próprio inferno. Ele tinha sido instruído a não agir até ser chamado, mas sua ambição e orgulho ferido falavam mais alto. Tirando os pijamas e vestindo um blusão escuro, o jovem Wayne partiu pela noite enevoada.



Lucia acordou de forma abrupta, a cabeça pendendo para trás com força como se alguém tivesse puxado seus cabelos. Ela estava ainda sentada na escrivaninha desgastada do quarto, o diário de seu irmão aberto à sua frente. Ela olhou para as páginas, confusa. Aquilo nunca tinha acontecido antes.
— Luca? — Ela chamou o nome do irmão em um sussurro. O vento soprou pela janela, que ela certamente não lembrava de ter deixado aberta, e apagou as velas à sua frente. O quarto ficou escuro.  — Luca. — Ela repetiu, agora com certeza. — Onde você está?
Lucia segurou o fôlego quando, abruptamente, as velas tornaram a se acender. No diário, agora, havia uma única gota de sangue respingada. Sob o vermelho denso, a palavra “Morcego” tinha sido parcialmente escondida.
Ela levou alguns instantes até notar que o sangue havia saído de seu próprio nariz, e se levantou rápido, tentando impedir mais manchas. Com uma mão cobrindo o rosto, ela abriu a porta do quarto e correu em busca da sala da enfermeira, localizada do outro lado do pátio.
Mas, antes mesmo que pudesse pisar no corredor do dormitório feminino, trombou com tudo em alguém, levando-o ao chão.
— Hm... — Ela ouviu a pessoa grunhir sob seu corpo e tentou se sentar. O indivíduo era ninguém menos que Damian, o novo aluno.
— Wayne? — Ela resfolegou antes de uma gota de seu sangue cair e pingar diretamente entre as sobrancelhas dele.
Eles nada falaram por um longo momento. O silêncio era tão carregado de perguntas que quase se tornava ensurdecedor.
Um som bem longe de uma fechadura se abrindo já foi o suficiente para fazer Damian reagir. Ele empurrou Lucia para fora dele e saltou em pé, tudo tão rápido que ela mal teve tempo de pensar. Em um segundo ele a segurou sob as axilas e a jogou por cima do ombro como se fosse um saco de batatas, carregando-a para dentro do quarto.

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