Capítulo Oito

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Damian estava de tocaia. Já era tarde, muito após o horário de recolher, quando seguiu Lucia para fora do dormitório. Ele a assistiu se esgueirar desajeitadamente pela floresta de pinheiros, tropeçando nos próprios pés e se assustando com os próprios passos. Quando finalmente chegou no tal laboratório, o garoto quase riu.

Não passava de um trailer atolado no meio da grama. As rodas a muito haviam sido roubadas e a lataria estava coberta de lodo. Quando Lucia se aproximou, bateu na porta com delicadeza. Uma garota, então, surgiu abruptamente. Ela tinha traços asiáticos, com os cabelos curtos e um sorriso enorme no rosto.

Quando ambas entraram no veículo, Wayne se aproximou para investigar. A floresta era densa e estava muito escura, mas, em menos de um piscar, o garoto se esquivou, fugindo, por pouco, de um golpe que acertou a lataria do trailer com um estrondo.

Olhando seu oponente, Damian se surpreendeu. Era Kyle, o líder do dormitório masculino. Um garoto alto e limpo, que parecia ser o senhor perfeição.

— Wayne? — Kyle indagou, mas, antes que Damian pudesse responder, foi atacado pelas costas por uma seringa. Sentindo o corpo pesado e a cabeça nebulosa, caiu inconsciente no chão.


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— Ele está acordando.

Damian abriu os olhos com dificuldade. Um clarão iluminava seu rosto, o impedindo de enxergar.

— Quem está aí! — Ele grunhiu. Notou, então, que estava amarrado a uma cadeira por cordas de nó duplo. Calculou que precisaria de cerca de treze minutos para se libertar.

— O que veio fazer aqui, Wayne? — Ele ouviu a voz de Kyle.

— Pera aí. Esse é O Wayne? Wayne das companhias Wayne? — Uma voz feminina animada perguntou. — Me dá um autógrafo?

— Agora não Maps! — Outra voz feminina, dessa vez muito fria, falou. — O que faremos com ele?

— Socar pra não lembrar? Caramba gente, calma, estou brincando!

— Não farão nada com ele. — A voz macia deu um calafrio na espinha de Damian. Ele soube, no mesmo instante, que era Lucia.

A luz de seu rosto finalmente se apagou. Piscando forte para se acostumar, Damian pôde perceber que estava dentro do Trailer. A sua frente, Kyle e Colton estavam ajoelhados. Duas garotas, a asiática Maps e a grande e famosa aluna problema Pomeline. Lucia estava fora de seu campo de visão.

Dentro do trailer era mais decrépito que fora. As paredes eram recobertas por um tecido bege manchado, o piso numa madeira que rangia sob o peso dos jovens. Todas as janelas estavam cobertas por tábuas e sobre as bancadas estreitas, tubos e mais tubos de ensaio com líquidos coloridos diversos.

— Que merda é essa? — Damian cuspiu.

— Oras, não se faça de tolo! — Maps cruzou os braços de forma caricata, com a intensidade de um personagem de desenho.

— Se sabe onde nos encontrar, sabe o que fazemos. — Kyle suspirou, parecendo cansado, e se levantou, afastando-se.

— Eu não faço ideia quem ou o que são vocês, aberrações. — O jovem Wayne blefou. Sabia muito bem quem era cada um naquela sala. Apesar de não se incomodar de decorar os nomes, já tinha passado pelas fichas deles várias vezes.

— Aberrações. — Pomeline riu com escárnio, dando as costas para ele. — Tem certeza que não podemos só apagar ele de novo?

— Ele já sabe demais. — Colton falou, cerrando o cenho e fitando mais intensamente o rosto do garoto.

A Filha Do CoringaOnde histórias criam vida. Descubra agora