Capítulo Sete

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— Tem purê na sua cara. — A voz feminina antipática avisou.

Quando Lucia levantou os olhos de seu livro, avistou a silhueta alta e parruda de Pomeline. Ótimo, pensou. Além da Trupe do Batman, agora ela teria que lidar com o Culto do Morcego.

Ela limpava o rosto com a manga do suéter quando a garota sentou ao seu lado sem ser convidada. Desde o incêndio no verão passado, ninguém mais vinha na ala Norte da escola. Era um cenário deprimente, com árvores chamuscadas, grama negra e um enorme prédio em decomposição, as vinhas devorando suas paredes mais a cada dia.

— Precisamos fazer mais testes. — Ela foi direto ao ponto. Boa e velha Pomeline.

— Foram quase dois litros no mês passado. O que aconteceu?

— Bom... —Ela revirou os olhos. — É isso que dá deixar um idiota tomando conta do laboratório. Olha. — A garota a fitou friamente. — Eu quero estar aqui tanto quanto você. Estamos quase chegando a uma conclusão, só... — Ela suspirou. — Precisamos de mais sangue.

— Quanto?

— Mais dois litros.

— Quê? Pomeline! Isso é impossível! — Lucia sentiu o coração se apertar. — É impossível. E quanto à Olive?

— Ela já está só o pó. Drenamos ela legal. Vamos Lucia...

— Eu... — Lucia gaguejou. Ela tinha se sentido tão fraca ultimamente que, só de imaginar tirar mais sangue, sua cabeça já se nublava. Pomeline suspirou.

— Estamos quase lá! Só um litro então. Maps e Colton se viram.

A garota desviou o olhar, nervosa. O culto do Morcego, diferente da Trupe, era completamente dedicado a provar o quão errado Batman estava quanto ás suas teorias de maldade. Ele já havia dito mais de uma vez que a maldade corria nas veias dos herdeiros do crime, e que, eventualmente, eles sempre fariam merda. Olive, que também é filha de um criminoso, criou um grupo de estudos para negar essa teoria.

O problema, porém, era que Lucia não era tão confiante quando Olive no quesito bondade. Na verdade, ela mal compreendia o sentido da palavra. Como poderia, então, afirmar que era 100% boa?

— Um litro. — Ela respondeu por fim a contragosto. Os olhos de Pomeline se iluminaram.

— Nem uma gota a mais.  

A Filha Do CoringaOnde histórias criam vida. Descubra agora