Capítulo Dezesseis - Parte 1

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A comida chegou à mesa não muito tempo depois. Os nachos pálidos e meio murchos, com queijo semi derretido amarelo igual à gema de ovo. Os dois milk-shakes vieram em copos altos, lascados nas bordas. Damian torceu o nariz mais uma vez enquanto Lucia o empurrava uma das bebidas. Ele negou veemente com a cabeça, o olhar enojado. A menina deu de ombros, aproximou mais a bebida de si e colocou os canudos de ambos os copos na boca.

— Tá. Primeira pergunta. — Damian falou, pegando um nacho com as pontas dos dedos e o inspecionando minuciosamente. — O seu pai...

— O coringa. — Ela corrigiu.

Damian notou que seu sorriso fraquejou por um instante.

— Sim, o coringa. Como ele era?

— Todo mundo sabe como ele era, Damian. — Ela o olhou como se ele fosse idiota.

— Sim, mas ninguém o conhecia de verdade. Suas manias, seus ataques, seus momentos introspectivos...

Lucia deu um longo gole de seus milk-shakes, pensando. Como era o Coringa? Ela não lembrava do pai em muitos anos, parte por vontade própria e parte pelo trauma. Tinha lido todos os jornais velhos da biblioteca da escola, sabia de todos os crimes, todos os roubos e vítimas. Era difícil pensar que uma pessoa conseguiria caminhar com o peso de todas aquelas mortes nas costas, e, ainda assim, o pai caminhava de peito erguido, orgulhoso.

Repugnante.

— Não tem muito o que lembrar do Coringa. Para mim e pro Luca ele era o "papai", para a Harleen era o "pudinzinho", para polícia era um assassino. — A menina olhou para a enorme janela da lanchonete, para a rua mal iluminada do lado de fora. Seu reflexo a encarava parcialmente no vidro, perdido. — Para Arkham ele foi um número, e, agora, ele é mais um corpo.

Os dois ficaram em silêncio por um momento.

Lucia, então, olhou novamente para Damian, um sorriso triste nos lábios.

— Como pai ele era... bom, ausente seria um eufemismo. Pelo menos pra mim. Ele e Harley tinham um acordo. Ela cuidava de mim e ele cuidava do Luca. — Deu de ombros. — Eu e o Luca... nós praticamente nunca nos vimos.

— Como assim? — Damian se inclinou na direção dela, curioso e confuso.

— As regras da casa eram... estranhas? Ele tinha horários que podia sair do quarto e eu também. Oito horas por dia, cada um. — Ela deu um longo gole do milk-shake antes de terminar o pensamento. — Mas nunca sobrepostas. Nós éramos estritamente proibidos de nos comunicar.

— Como infernos você sabe que ele existe então?

Ela se moveu devagar, pegando um caderno velho em sua bolsa e o colocando sobre a mesa. Damian o observou com um certo desgosto, olhando para a capa manchada e para as páginas amareladas. Ele alcançou o objeto, o abrindo e folheando em suas mãos. As páginas eram grossas, rudimentares, quase como se fossem feitas em casa. Nelas, rabiscos, desenhos, escritas com duas caligrafias bem distintas, uma rápida e violenta, outra cuidadosa e redonda.

— O Luca me contou algumas coisas sobre o Coringa, mas... — O menino viu ela engolir em seco, o olhar vidrado, perdido em pensamentos. — ...teve muita coisa que não disse também.

Quando se aquietou, o peso das palavras que não dissera os pressionou.

— Minha vez! — Lucia falou, animada. As lembranças claramente a perturbavam e ela estava ávida por mudar de assunto.

— Lá vem... — Damian falou, cruzando os braços e se inclinando para trás.

— Quando nos conhecemos eu te levei para ver a academia. — Ela começou a dizer, e Damian acedeu, incentivando-a a continuar. — Mas você já conhecia o lugar, não é? Por quê?

Ele espremeu os olhos, tentando ler a expressão da garota. Ele sabia que ela era observadora, mas só agora se tocava o quanto.

— Visitei a Academia Gotham por um tempinho, muitos anos atrás.

— "Um tempinho"?

— Uma semana. Meu pai me pediu pra checar um incidente envolvendo uma ala que ele patrocinou. Não sei se lembra do incêndio...

— Sim — Ela o interrompeu. A voz ficou tensa. — Sim, eu lembro.

A quase dois anos, um incêndio enorme havia começado na ala norte da academia. Disseram que foi um acidente, algo envolvendo um candelabro e algumas cortinas, mas todos sabiam que não era verdade. Olive Silverlock o havia começado.

Lucia estava com ela naquele dia. Ela viu o fogo emanar dela, queimar o chão, destruir a estrutura de madeira. Ninguém morreu, graças aos céus, mas muitos foram queimados ou inalaram fumaça. Depois disso, a Trupe do Batman foi formada, e, desde então, nem ela nem Olive tiveram paz. A maldade corre no sangue dos herdeiros dos criminosos, é o que diziam. A loucura era uma herança.

— Eu não cheguei a te ver durante aquela semana. — Lucia comentou.

— Sorte a minha — Ele falou, rindo um pouco ao sentir o chute dela por baixo da mesa — Próxima pergunta. Harleen Quinzel. — Ele notou todo o corpo da menina se tencionar e seu sorriso fraco sumir de vez. — Como ela era?

— Ela... ela amava o Coringa.

— Disso eu sei. O que mais.

— Só. Ela o amava. Vivia por ele, respirava ele. Quando eu e meu irmão nascemos, ela estava sozinha. Isso foi um pouco depois da morte de Pamela.

— A Hera Venenosa. — Damian afirmou, e Lucia concordou com a cabeça.

— Não sou hipócrita. Sei que só sobrevivi até hoje por causa de Harleen, e sou grata por isso. — Hesitou — mas é só isso.

— Você disse que ela quem te criou — O menino tentou insistir.

— Sim.

Alguns segundos de silêncio.

— E como foi?

— Ruim.

Os olhos de Lucia estavam nítidos agora, o fitando profundamente. Quase como se ela conseguisse olhar no fundo da alma dele. Por algum motivo, aquilo fez seu coração disparar. Ele deu um pigarro, limpando a garganta, torcendo para ela não ouvir as batidas intensas dentro de seu peito. 

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MDS CLÃ DESCULPA PELA DEMORA AAAAAAH ;~;

A faculdade está difícil esses tempos, sabe como é, os projetos a mil. 

Vou terminar de escrever o resto desse capítulo em breve e nas férias, eu juro, vou escrever igual doida. NUNCA MAIS VÃO FICAR COM ABSTINÊNCIA DE FANFIC. Bom, pelo menos por um tempo....

BEIJINHOS GENTE <3 

A Filha Do CoringaOnde histórias criam vida. Descubra agora