Dia da maldição - Ciclo ar

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Tentei de todas as maneiras não pensar em meu encontro com Todoroki, mas, depois de vê-lo, era como se continuasse vendo-o em todos os lugares. Mesmo naquele momento, enquanto contemplava meu próprio reflexo nas águas da felicidade, cada detalhe da minha própria aparência me lembrava do meu oposto.

Seus cabelos bicolores, voando ao vento, contrastavam perfeitamente com os meus, os quais eram verdes, como uma pedra de esmeralda. A ondulação do peito, úmido por estas mesmas águas nas quais vislumbrava minha imagem, e sua pele respirando fogo no mais terrível de nossos ciclos. Seus olhos heterocromáticos, revelam a dor, ofuscada tão somente pela surpresa de me ver à sua frente, não sei por que, mas não paro de pensar nesse encontro. No ciclo do ar, minhas asas permitem que eu voe livre para o horizonte, no entanto, não consegui partir desta vez.

O ciclo de fogo estava para ter início, e minhas asas já começavam a perder a força, debrucei-me sobre as pedras, orando baixinho para que o ciclo fosse mais suportável desta vez, mas meu maior pedido era para esquecer de uma vez o encontro com o deus dos quatro elementos.
Enquanto sentia minhas asas se esvaindo, algo suave tocou meu rosto, um toque macio e perfumado, uma carícia da natureza, uma rosa nasceu junto a mim, apanhei minha dádiva e continuei deslizando suas pétalas por minha pele antes que ela começasse a exalar fogo. Um ligeiro alívio antes da provação.
- Que bom que gostou- ouvi alguém dizer.
Voltei meu olhar em direção a origem do som e o vi. Ele estava a alguns metros de mim, mas, ainda assim, não consegui pronunciar uma palavra sequer, a rosa branca continuava em minhas mãos enquanto meu corpo prosseguia estático diante daquele sorriso iluminado.
- Quer uma vermelha, agora? Aproveite, o ciclo da terra está para findar- gracejou, sem abandonar o sorriso.
- Não devia estar aqui- foi tudo o que consegui pronunciar. Nesse instante minhas asas se desfizeram e as pequenas fissuras em minha pele começaram a surgir, deixando visível o fogo, em seguida, a dor.
- Midoriya- ouvi seu chamado.
No entanto, a dor era tamanha que não tive outra opção a não ser ignorar, comecei a rastejar em direção a água à procura de alívio, nesse instante, a chuva começou, dando-me o que eu mais desejava quase instantaneamente. Olhei para Todoroki.
- Você fez chover por mim aquele dia, era minha vez de retribuir- disse, ao mesmo tempo em que as gotas do céu tocavam sua pele, seus cabelos e seus lábios.

Sorri. Em seguida consegui ficar de pé e mergulhar nas águas. Todoroki se aproximou da beirada, sentou sobre uma pedra e retirou uma flauta do bolso. No momento seguinte, seus lábios já estavam sobre a abertura e o sopro transformou o ar em notas musicais, numa melodia calma, misturando-se ao som da chuva. Por mais incrível que possa soar, o ardor tornou-se reconfortantemente suportável.
- Agradeço o que está fazendo, mas não devia estar aqui- asseverei, já com um pingo de dor no coração por saber que minhas palavras poderiam fazê-lo ir embora.

O som teve uma pausa.

- Disseram-me que eu era um deus.
Acreditei nisso. Então, se há uma vantagem em ser um deus, é o poder para decidir. Decido ficar- retorquiu, voltando a produzir aquele som maravilhoso.

Sorri, novamente, enquanto o olhava manusear o instrumento e desejava que cada som da flauta de Todoroki, o qual trazia sua essência um pouco de seu fôlego, se fundisse a minha alma.

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シ︎

𝙴𝚜𝚙𝚎𝚛𝚘 𝚚𝚞𝚎 𝚝𝚎𝚗𝚑𝚊 𝚐𝚘𝚜𝚝𝚊𝚍𝚘 𝚍𝚘 𝚌𝚊𝚙𝚒́𝚝𝚞𝚕𝚘, 𝚙𝚎𝚛𝚍𝚊̃𝚘 𝚜𝚎 𝚝𝚒𝚟𝚎𝚛 𝚊𝚕𝚐𝚞𝚖 𝚎𝚛𝚛𝚘 𝚘𝚛𝚝𝚘𝚐𝚛𝚊́𝚏𝚒𝚌𝚘.
𝙽𝚊̃𝚘 𝚜𝚎 𝚎𝚜𝚚𝚞𝚎𝚌̧𝚊 𝚍𝚎 𝚍𝚎𝚒𝚡𝚊𝚛 𝚊 𝚎𝚜𝚝𝚛𝚎𝚕𝚒𝚗𝚑𝚊 𝚎 𝚍𝚒𝚣𝚎𝚛 𝚘 𝚚𝚞𝚎 𝚊𝚌𝚑𝚘𝚞, 𝚋𝚎𝚒𝚓𝚘𝚜 ( ˘ ³˘)♥︎

Deuses dos quatro elementos - TodoDekuOnde histórias criam vida. Descubra agora