Na alta colina das terras eternas, muitas nuvens encobriam a visão da planície abaixo, se estendendo o branco até o horizonte, como se o nada houvesse dominado a terra e o céu. De fato, não havia nada. Nada que afastasse de mim o sentimento de vazio.
Todoroki tocara para mim todos os dias do ciclo de fogo e, por maior que fosse a dor, lamentei quando o ciclo da terra chegou. O som doce da flauta ainda ressoava em meus ouvidos e seu olhar penetrante, sobretudo curioso, não saia de minhas lembranças.
Por todos aqueles dias, meu oposto me mirava como se cada detalhe em mim, por menor e mais insignificante, fosse um pecado escapar aos seus olhos. Talvez Todoroki fizesse os mesmos questionamentos.
Provavelmente guardara dentro de si toda a curiosidade sobre seu oposto e, ao me ver, tenha acendido nele a chama pela descoberta. Ou talvez, a hipótese mais remota, sua mirada firme e voraz para cada canto do meu corpo fora motivada pelo deleite que as imagens lhe proporcionavam.E embora eu soubesse o quão impróprio esse pensamento era, essa singela ideia despertava sensações contraditórias e intensas. Todoroki e eu éramos tão distantes como luz e trevas. Porém intimamente conectados e, ainda assim, incapazes de coexistir juntos.
- Eu daria metade dos meus poderes por seus pensamentos- ouvi uma voz grave, poderosa e familiar.
Virei-me bruscamente e o que eu temia e, ao mesmo tempo, ansiava, tornou-se realidade. O meu oposto estava diante de mim. Com suas asas brancas e imponentes. Seus músculos firmes e torneados. Sua pele macia e uniforme. Embora eu tenha passado boa parte da vida desejando que a palavra beleza tivesse sido inventada para mim, era obrigado a admitir que o fora para ele.
O deus dos quatro elementos era a próprio personificação da perfeição.
Desviei-me repentinamente. Era absurdo admirá-lo. Um absurdo cujo fim não poderia ser outro a não ser lágrimas e ruína.- Não devia estar aqui- repreendi.
- Engraçado como você sempre diz isso quando nos encontramos- provocou com um sorriso, sentando-se a uma distância segura.
- O que mais posso dizer?- indaguei querendo sorrir, mas visivelmente tomado por uma seriedade irritante.
- Que tal algo como: Céus, como está bonito hoje?
Um sorriso traidor acabou encontrando o caminho até meu rosto.
-Você não tem nada mais importante para fazer do que me aporrinhar?- questionei sorrindo.
- Sim. Devo levar equilíbrio e estabilidade aos mortais. Devo harmonizar as forças que reagem sua realidade e zelar pelas vidas sob minha responsabilidade. No entanto, prefiro aporrinhar meu oposto. É mais divertido.
Acabei entregando-me a uma gargalhada espontânea e até exagerada. Em seguida, mirei seu rosto com uma feição amigável e terna acabou por desfazer minha preocupação. Talvez ela fosse um tanto demasiada. Refleti por poucos instantes e pensei não ser algo tão grave, estávamos apenas conversando.
-Céus, como está bonito hoje!- exclamei sorrindo e deixando claro o tom de brincadeira.
- Agora sim. Eu sabia que cedo ou tarde o bom senso retornaria a essa cabecinha- ele gracejou.
Fiz o galho de o salgueiro bater levemente contra seu rosto.
- Calma, Izuku. Foi só uma brincadeira- justificou-se com um sorriso fabuloso e contente- posso chamá-lo de Izuku, não posso?- e o último pedido veio acompanhado de uma mirada penetrante e esperançosa.
Mesmo que eu permitisse, não haveria motivo para alarme. Não era motivo para preocupação alguma. Era... apenas... cortesia cotiana.
- Desde que eu também possa chamá-lo de Shoto- propus sem pensar.
Ele não respondeu. Apenas sorriu. Um sorriso feliz e marcante, como se nada no mundo fosse mais importante ou mais digno de atenção.
Como se o tempo não fosse implacável nem a realidade inflexível.
Como se não fôssemos opostos, e sim equivalentes, compatíveis, parecidos.E, pela primeira vez, eu não era mais Izuku Midoriya, o deus dos quatro elementos, mas, tão somente, Izuku.
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シ︎
𝙴𝚜𝚙𝚎𝚛𝚘 𝚚𝚞𝚎 𝚝𝚎𝚗𝚑𝚊 𝚐𝚘𝚜𝚝𝚊𝚍𝚘 𝚍𝚘 𝚌𝚊𝚙𝚒́𝚝𝚞𝚕𝚘, 𝚙𝚎𝚛𝚍𝚊̃𝚘 𝚜𝚎 𝚝𝚒𝚟𝚎𝚛 𝚊𝚕𝚐𝚞𝚖 𝚎𝚛𝚛𝚘 𝚘𝚛𝚝𝚘𝚐𝚛𝚊́𝚏𝚒𝚌𝚘.
𝙽𝚊̃𝚘 𝚜𝚎 𝚎𝚜𝚚𝚞𝚎𝚌̧𝚊 𝚍𝚎 𝚍𝚎𝚒𝚡𝚊𝚛 𝚊 𝚎𝚜𝚝𝚛𝚎𝚕𝚒𝚗𝚑𝚊 𝚎 𝚍𝚒𝚣𝚎𝚛 𝚘 𝚚𝚞𝚎 𝚊𝚌𝚑𝚘𝚞, 𝚋𝚎𝚒𝚓𝚘𝚜 ( ˘ ³˘)♥︎
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Deuses dos quatro elementos - TodoDeku
RomanceShoto e Izuku são deuses responsáveis por controlar os quatro elementos da natureza com destreza e fadados a vivênciar a dor de cada ciclo sozinhos, sabendo que jamais poderão se encontrar. Uma antiga profecia alerta que a união dos dois resultará n...