Capítulo VII

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Era dia 19 de abril, 7:20 da manhã. Acordei às 7:00, tomei um banho, vesti uma calça Jogger na cor mostarda e uma blusa regata preta; fiz um rabo de cavalo e calcei um salto preto de bico redondo. Eu precisava ir na delegacia hoje para colherem o meu depoimento!

Enquanto estava mexendo no notebook, escutei o interfone tocar, olhei no vídeo porteiro e vi quem era. Ele se assustou um pouco com o barulho do portão, quando o abri.

— Bom dia, delegado Santiago.

— Bom dia! - respondeu com um meio sorriso.

— Você se incomoda de entrar? - ele fez uma cara de dúvida - Preciso finalizar a análise de alguns papéis da empresa, mas, vai ser rápido.

— Tudo bem. - ele entrou e deu de cara com a garagem - Pelo visto você não é muito chegada em carros pequenos, com menos de seis marchas, né?! - sorri e ele também.

— Falou o homem que tem um Ford Mustang GT500 Shelby Jelly Bean. - ele me olhou surpreso - Não é só de Empreendedorismo e arquitetura que eu entendo, delegado!

Entramos em casa, fui em direção à mesa e voltei a mexer no notebook para finalizar o que eu havia começado a fazer.

— Seus olhos pareciam diferentes quando eu achei você, naquele dia. - ele disse com as mãos nos bolsos e olhei-o rapidamente.

— São as lentes de contato. - continuei digitando - Nunca consegui achar um par de lentes com a cor exata dos meus olhos, por isso uso as de tom castanho escuro mesmo. - salvei os arquivos e fechei o notebook - Poucas pessoas sabem a verdadeira cor dos meus olhos, então sinta-se privilegiado!

Enquanto ele sorria, peguei minha bolsa e as chaves.

— Você vai dirigindo? - Rodrigo perguntou quando me viu destravando o alarme do carro e eu assenti com a cabeça - Eu acho melhor você vir comigo, no meu carro.

— Por que? - franzi o cenho.

— Preciso te explicar algumas coisas antes de chegarmos na delegacia. - estreitei um pouco os olhos - Assim você me poupa de ter que gastar meu tempo digitando uma mensagem.

Senti um pouquinho de grosseria na fala dele, mas, decidi não comentar nada. Precisávamos estar na delegacia daqui dez minutos, então só aceitei a carona e entrei no carro dele.

Rodrigo tinha a mesma mania que eu: dirigir com uma mão no volante e a outra no câmbio, mas a forma que ele ficava ainda mais bonito com um gesto tão simples, conseguiu me surpreender.

— Se em algum momento durante o depoimento você se sentir desconfortável, pode pedir um tempo para respirar. - ele me olhou rapidamente e eu continuei olhando para frente - Sei que iria se sentir mais confortável se o Dante estivesse aqui, mas a partir de agora, só quem está envolvido no caso pode ficar "por perto" durante as etapas.

— Eu entendo. - olhei para a janela - Talvez seja até melhor assim!

— Você quer contar alguma coisa? - ele ficou me olhando por algum tempo e eu voltei a olhar para frente, sem encará-lo.

— Não, tá tudo bem!

Quando chegamos ao nosso destino, senti os mesmos olhares pesados da última vez, mas, alguns foram mais discretos por causa da presença de Rodrigo.

Não consigo descrever o quanto foi difícil relatar com os mínimos detalhes tudo que havia acontecido, fiquei o tempo todo com vontade de chorar e me esconder, mas lutei contra isso até o último segundo que estive na sala de interrogatório. Meu corpo havia melhorado, mas, eu precisava tratar o meu psicológico com urgência.

Secrets of the dark journeyOnde histórias criam vida. Descubra agora