Acordei na minha cama, com a luz do abajur acesa. Fiquei alguns instantes olhando para o teto tentando me lembrar de como eu havia ido me deitar, percebi que os nós dos dedos da minha mão esquerda estavam enfaixados e que havia um pequeno curativo no osso da minha bochecha. Me virei para o lado e vi Rodrigo sentado no chão com a cabeça escorada na cama, mesmo dormindo, ele segurava minha mão direita como se estivesse com medo de me perder.
Acariciei seu rosto com o polegar, e comecei a sorrir involuntariamente ao encarar seus detalhes. Ele abriu os olhos lentamente, depois de alguns segundos tive a visão perfeita do mar bem à minha frente!
— Oi. - eu disse ao vê-lo sorrindo de leve.
— Oi. Tá se sentindo melhor? - assenti com a cabeça - E a mão?
— Está bem também. Foi você que fez os curativos? - perguntei e ele assentiu. - Me desculpa!
— É só um espelho, Aksa. - disse calmamente.
— Não tô falando só do espelho. - lhe direcionei um olhar triste.
— Você não tem que se desculpar por aquilo, eu que fui rápido demais. Estava tão cego de tesão que me esqueci dos seus limites. - ele acariciou meu rosto com cuidado por causa do curativo - É minha obrigação respeitar o seu tempo!
— Obrigada. - disse sorrindo.
— Quer conversar sobre o que te levou a dar um soco no espelho? - perguntou enquanto acariciava o dorso da minha mão.
Esperei alguns segundos, respirei fundo e criei coragem para dizer.
— Aquele não foi o primeiro estupro que eu sofri! - ele levantou a cabeça e franziu o cenho, me sentei na cama pedindo para ele fazer o mesmo - Um dia eu fui almoçar na casa dos pais do Leandro e eu me desentendi com o pai dele, o Alberto ficou bravo e bateu na Beatriz para descontar a raiva. - falei como se estivesse revivendo aquele dia - Como o Leandro não se envolvia nas "brigas" dos pais dele, ele apenas saiu de casa e voltou horas depois fedendo a bebida. - algumas lágrimas se formaram de novo - Eu tentei reagir, gritei e implorei para ele parar, mas parecia que ele não ligava para a minha dor. - gesticulei - Eu nunca contei para ninguém porque meu psicológico não queria aceitar que aquilo realmente tinha acontecido, que eu realmente tinha sido violentada!
As lágrimas desciam pesadas, e Rodrigo me abraçou com força.
— Não sei explicar o quanto é nojento se olhar no espelho depois de um estupro, o quanto sua mente fica conturbada, o quanto você tem medo de encarar desconhecidos ou de sair na rua. - disse chorando ainda abraçada com Rodrigo - Eles acabaram com a minha vida!
— Sinto muito, por tudo isso. Eu vou achar aqueles caras, e eles vão pagar pelo que fizeram. - disse me apertando ainda mais - Você não está mais sozinha!
Foi libertador dizer cada uma daquelas palavras à Rodrigo. Não sabia que manter aqueles assuntos em segredo estava me machucando tanto!
— Que horas são? - perguntei ainda em seus braços.
— 01:23. - ele me encarou - Acho que você precisa tomar um banho para tirar as energias ruins de ontem!
— Concordo.
— Eu vou para o meu quarto, se precisar de alguma coisa, me chama! - concordei e ele deu um beijo em minha testa - Boa noite!
Tenho certeza que ele queria ficar, mas foi embora para respeitar o meu espaço e eu agradeci mentalmente por ele ter feito isso. Eu gosto muito da presença do Rodrigo, ele sabe disso, mas preciso de um tempo sozinha para entender tudo que aconteceu comigo ontem.
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Secrets of the dark journey
RomanceQuão forte somos, afinal? É real que toda dor traz ensinamento ou é apenas uma forma bonita de docilizar traumas e normalizá-los? Quantos traumas uma pessoa consegue superar? Ou melhor, com quantos traumas uma pessoa consegue conviver? Aos atorment...