Capítulo IX

280 23 7
                                    

Acordei na minha cama, com a luz do abajur acesa. Fiquei alguns instantes olhando para o teto tentando me lembrar de como eu havia ido me deitar, percebi que os nós dos dedos da minha mão esquerda estavam enfaixados e que havia um pequeno curativo no osso da minha bochecha. Me virei para o lado e vi Rodrigo sentado no chão com a cabeça escorada na cama, mesmo dormindo, ele segurava minha mão direita como se estivesse com medo de me perder.

Acariciei seu rosto com o polegar, e comecei a sorrir involuntariamente ao encarar seus detalhes. Ele abriu os olhos lentamente, depois de alguns segundos tive a visão perfeita do mar bem à minha frente!

— Oi. - eu disse ao vê-lo sorrindo de leve.

— Oi. Tá se sentindo melhor? - assenti com a cabeça - E a mão?

— Está bem também. Foi você que fez os curativos? - perguntei e ele assentiu. - Me desculpa!

— É só um espelho, Aksa. - disse calmamente.

— Não tô falando só do espelho. - lhe direcionei um olhar triste.

— Você não tem que se desculpar por aquilo, eu que fui rápido demais. Estava tão cego de tesão que me esqueci dos seus limites. - ele acariciou meu rosto com cuidado por causa do curativo - É minha obrigação respeitar o seu tempo!

— Obrigada. - disse sorrindo.

— Quer conversar sobre o que te levou a dar um soco no espelho? - perguntou enquanto acariciava o dorso da minha mão.

Esperei alguns segundos, respirei fundo e criei coragem para dizer.

— Aquele não foi o primeiro estupro que eu sofri! - ele levantou a cabeça e franziu o cenho, me sentei na cama pedindo para ele fazer o mesmo - Um dia eu fui almoçar na casa dos pais do Leandro e eu me desentendi com o pai dele, o Alberto ficou bravo e bateu na Beatriz para descontar a raiva. - falei como se estivesse revivendo aquele dia - Como o Leandro não se envolvia nas "brigas" dos pais dele, ele apenas saiu de casa e voltou horas depois fedendo a bebida. - algumas lágrimas se formaram de novo - Eu tentei reagir, gritei e implorei para ele parar, mas parecia que ele não ligava para a minha dor. - gesticulei - Eu nunca contei para ninguém porque meu psicológico não queria aceitar que aquilo realmente tinha acontecido, que eu realmente tinha sido violentada!

As lágrimas desciam pesadas, e Rodrigo me abraçou com força.

— Não sei explicar o quanto é nojento se olhar no espelho depois de um estupro, o quanto sua mente fica conturbada, o quanto você tem medo de encarar desconhecidos ou de sair na rua. - disse chorando ainda abraçada com Rodrigo - Eles acabaram com a minha vida!

— Sinto muito, por tudo isso. Eu vou achar aqueles caras, e eles vão pagar pelo que fizeram. - disse me apertando ainda mais - Você não está mais sozinha!

Foi libertador dizer cada uma daquelas palavras à Rodrigo. Não sabia que manter aqueles assuntos em segredo estava me machucando tanto!

— Que horas são? - perguntei ainda em seus braços.

— 01:23. - ele me encarou - Acho que você precisa tomar um banho para tirar as energias ruins de ontem!

— Concordo.

— Eu vou para o meu quarto, se precisar de alguma coisa, me chama! - concordei e ele deu um beijo em minha testa - Boa noite!

Tenho certeza que ele queria ficar, mas foi embora para respeitar o meu espaço e eu agradeci mentalmente por ele ter feito isso. Eu gosto muito da presença do Rodrigo, ele sabe disso, mas preciso de um tempo sozinha para entender tudo que aconteceu comigo ontem.

Secrets of the dark journeyOnde histórias criam vida. Descubra agora