Eu sou Aksa Fernández, uma mulher brasileira no auge dos seus 29 anos, solteira, sem filhos e CEO de uma empresa chamada Mt'MCA (More than Modern Classical Architectureque ou Mais que Arquitetura Clássica Moderna) que possui laços comerciais nacionais e internacionais, além de algumas filiais pelo país. Como podem ver, a empresa toma praticamente todo o meu tempo então raramente penso em outras coisas que não estejam ligadas a ela.
Antes de continuar preciso dar um breve aviso a você, meu caro leitor, se o(a) senhor(a) está a procura de uma história feliz, com clichês e um "felizes para sempre", sinto em lhe dizer, mas você tá no lugar errado. Tomo liberdade para contar a minha história, um romance que está bem longe de ser um conto de fadas ou livre para todos os públicos.
Nasci em Guarulhos-SP no dia 21 de setembro de 1990, como de costume, nunca soube quem é meu pai por isso morava só com a minha mãe e minha avó. O fato de ser filha única me fez sentir solitária algumas vezes, mas esse sentimento não tão intensificado pela presença da minha tia que, mesmo casada e com filhos, sempre foi como uma irmã pra mim.
Por ser criada por duas mulheres, nunca tive contato com o machismo dentro de casa, nem tive que obedecer regras patriarcais sem sentido. Além disso, tanto minha mãe quanto minha vó me ensinaram desde cedo as lições mais valiosas da minha vida: eu teria que ser forte, que por ser mulher e preta eu precisaria lutar com unhas e dentes para conseguir o que quisesse, e que a injustiça seria minha companheira de vida, mas eu teria de ter voz pra resistir a ela.
Minha relação com a minha mãe e minha avó sempre foi tão boa que nunca senti falta de uma figura paterna. Elas eram protetoras, me davam liberdade para falar de qualquer assunto e, ao mesmo tempo, tinham postura de sobra pra me corrigir.
Minha avó era um pouco mais fechada, mandona, tinha pulso firme e uma facilidade para impor suas opiniões que me deixava abismada, sem contar seu grau de autoridade perceptível apenas por seu tom de voz. Já a minha mãe, uma mulher preta alta, de olhos verdes e cabelo volumoso, era um doce em pessoa, simpática, sempre sorridente e nunca deixava nada abalar a felicidade dela. As pessoas costumavam dizer que se não fosse pela cor dos meus olhos e a minha voz, eu seria uma cópia fiel da minha mãe, até na personalidade.
Aos meus olhos, minha vida era perfeita!
Meu primeiro choque de realidade veio pouco tempo depois do meu aniversário de 9 anos, quando passei por uma situação, um tanto quanto, complicada. Minha mãe descobriu que havia desenvolvido câncer no pulmão devido a sua longa história com os maços de cigarro.
O início do tratamento foi "fácil", ela se mantinha firme e nunca deixava que eu a visse triste ou fraca, lutava diariamente para colocar um sorriso no rosto todas as vezes que me via. Hoje vejo que ela foi uma guerreira por esses simples gestos, na época eu não entendia, mas cada beijo, cada abraço, cada carinho que ela me dava era a prova de amor mais linda que eu poderia receber.
Os dias foram passando, as sessões de quimioterapia começaram a ficar mais agressivas e ela teve que raspar a cabeça por completo. O resultado? Ela acabou se trancando em casa por vergonha dos olhares alheios.
Nunca tinha visto ela chorar, até um dia que eu entrei em seu quarto e ela estava aos prantos por se sentir horrível. Eu não entendia porque ela estava tão triste já que, para mim, ela continuava a mulher mais bonita que eu já havia visto.
Minha tia tentou convencê-la de que ela ainda continuava linda, mas acabou perdendo a paciência devido ao pavio curto que herdou da vovó e foi embora, depois de uns 40 minutos ela voltou totalmente careca e sem sobrancelhas.
— Eu não acredito que você fez isso, Teresa! - minha mãe colocou a mão em frente a boca.
— Claro que fiz, Isabel. A beleza de uma mulher não tá no cabelo, ele é só um complemento!
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Secrets of the dark journey
RomanceQuão forte somos, afinal? É real que toda dor traz ensinamento ou é apenas uma forma bonita de docilizar traumas e normalizá-los? Quantos traumas uma pessoa consegue superar? Ou melhor, com quantos traumas uma pessoa consegue conviver? Aos atorment...