Notei que mesmo tendo dormido muito bem e durante muito tempo, a Aksa acordou um pouco tensa, provavelmente pelo fato de ter que ficar cara a cara com seus agressores, por isso tentei relaxar e acalmá-la ao máximo antes de irmos até a delegacia.
Mesmo com meu esforço ela ficou inquieta durante todo o trajeto, consegui vê-la secando o suor das mãos diversas vezes. Quando estacionei, pedi para que ela ficasse mais alguns segundos no carro, segurei seu rosto com delicadeza e selei nossos lábios algumas vezes, notei com facilidade seu suspiro profundo.
— Eu tô aqui, para o que você precisar, tá?! - sussurrei olhando em seus olhos.
Em resposta, a Aksa apenas me abraçou forte e eu não a soltei até sentir seu corpo relaxar um pouco. Eu ficaria horas ali se fosse preciso!
— Pronta? - perguntei e ela assentiu.
Saímos do carro e fiz questão de entrelaçar nossos dedos assim que ela ficou ao meu lado.
— Agora a gente pode. - afirmei.
— Agora sim. - ela sorriu.
Senti como se tivesse ganhado um prêmio ao ver aquele sorriso.
Entramos na delegacia e, imediatamente, Jorge pediu para irmos até sua sala, ele explicou algumas coisas necessárias antes de começarmos o reconhecimento pessoal dos criminosos.
Seriam 4 etapas ao todo, em cada uma haveriam 4 homens parecidos com o retrato falado que a Aksa deu no dia do interrogatório, dentre os quatro está o suspeito.
Dentro da sala de identificação do suspeito ficaram: eu (testemunha), a Aksa (vítima), o investigador principal e o Jorge (responsável pelo caso). Para os suspeitos, havia uma espécie de espelho a sua frente que refletia a imagem deles, para nós era somente um vidro que separava as duas salas.
Aquela cena era normal para mim, sempre participei de investigações com reconhecimento pessoal, mas aquilo era novo e, com certeza, assustador para a Aksa. Naquele momento, minha atenção estava toda voltada para a segurança e tranquilidade dela!
— Vamos começar então. - Jorge apertou um botão q nos deu visibilidade total do outro lado da sala - Você reconhece algum desses homens, Aksa?
Os olhos dela analisaram detalhadamente as características dos homens.
— Reconheço o número 2. - disse com firmeza.
— Então você assegura, com absoluta certeza, que o homem da posição 2 estava presente e envolvido no crime? - Jorge perguntou novamente .
— Sim, eu afirmo.
— Okay, vamos para o próximo então.
Isso se repetiu mais duas vezes, e em todas elas a Aksa analisou com atenção cada um dos homens apresentados, provavelmente por medo de acusar um inocente.
Senti que o clima ficou muito mais tenso na última etapa porque assim que os homens se posicionaram, o olhar da Aksa se fixou no cara que estava na posição 1 sem nem olhar para os outros . Ela engoliu seco e ficou sem piscar por alguns instantes, comecei a notar que havia algo de errado.
Seu nome era Estevão Rodrigues, eu mesmo já havia assinado seu mandado de prisão duas vezes por envolvimento no tráfico durante uma operação da polícia civil. Ele já era bem conhecido por causa da ficha fodida (acusações de furto, porte e posse ilegal de armas, tráfico, homicídio...).
Olhei para a Aksa e vi que ela estava em choque.
— Aksa? - perguntei ao encará-la.
— É o número 1. - seus olhos se encheram d'água - É ele, é o número 1! - sua voz saiu embargada.
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Secrets of the dark journey
RomanceQuão forte somos, afinal? É real que toda dor traz ensinamento ou é apenas uma forma bonita de docilizar traumas e normalizá-los? Quantos traumas uma pessoa consegue superar? Ou melhor, com quantos traumas uma pessoa consegue conviver? Aos atorment...