— O que você está fazendo aqui? — questionou ele, enquanto me analisava nitidamente espantado.
— Que tipo de pergunta idiota é essa? Afinal, isso é um ônibus, pessoas geralmente o utilizam quando querem se locomover de um lugar para o outro de forma rápida. — retruquei, revirando os olhos por fim.
— Disso eu sei, o que me assusta é você estar aqui nesse ônibus em especial, no meio de um amontoado de gente e uma mulher prestes a parir, e aproveitando a deixa, vale ressaltar que eu nunca te vi pegar um ônibus na vida antes, nunca. — disse, dando ênfase na última palavra.
— Não é como se eu tivesse uma bola de cristal que me alertasse sempre que algo assim viesse a acontecer, e outra coisa, eu já peguei ônibus sim, e mais de uma vez se você quer saber, e você falando que nunca me viu pegar um ônibus na vida antes, faz pensar que viveu toda sua vida me observando de longe. — falei com desdém.
— E-eu te observando de longe? Até parece. — disse se atropelando nas palavras.
Notei quando ele ajeitou sua postura de forma desleixada, enquanto mudou sua atenção para fora da janela do automóvel em movimento.
Esquisito.
Pensei.
— Mas, olha, sobre o que você falou antes, eu ouvi certo? você me ofereceu mesmo o seu celular? — questionei o olhando e o mesmo virou para mim.
— Não ofereci para você diretamente, até porque eu nem sabia que se tratava de você a pessoa ao meu lado. — respondeu.
— Que diferença faz? Sou uma pessoa igual qualquer outra, de todo modo você prefere dar seu celular para um estranho do que para uma colega de classe? — questionei mais uma vez.
— Sim, um estranho me trataria melhor do que você geralmente me trata, tenho certeza. — respondeu com desdém, voltando sua atenção para janela.
Bufei irritada. Me questionei desde quando ele havia se tornado tão sentimental.
Mudei minha atenção para frente do ônibus com meus braços cruzados e um semblante irritado no rosto.
Carson me dava nos nervos na maior parte do tempo.
Havia se passado por cerca de sete ou oito minutos, o fato de meu celular continuar descarregado me impossibilitava de saber os minutos exatos que haviam se passado.
Carson e eu não havíamos trocado mais nenhuma palavra durante os minutos que se passaram. Ele tinha sua atenção voltada para fora da janela, e eu para o final do corredor, que quase não se via pela quantidade de pessoas em pé ali.
— Toma, só uma ligação, seja rápida e me devolva em seguida. — disse entregando-me seu celular, me pegando de surpresa.
— Obrigada! — agradeci contente, pegando o celular de suas mãos.
Não queria assustar meu pai com uma ligação no meio da tarde lhe dizendo que estava a caminho do hospital. Ele teria um treco assim que ouvisse a palavra hospital sair de minha boca, não me deixando se quer explicar.
Por isso resolvi ligar para meu amigo. Ainda que ele estivesse ocupado ou coisa parecida, eu sabia que ele jamais negaria uma carona para mim se eu pedisse.
O ligaria explicando a situação e pedindo para que ele me encontrasse no Hospital Valencia, já que era o hospital mais próximo do ponto de ônibus em que eu estava mais cedo, e provavelmente era para lá que o motorista estava indo.
Disquei seu número e chamei.
Alguém atendeu.
— Alô. —reconheci a voz de Julie do outro lado da linha.
— Oi, Julie, sou eu, Cassie, o Noah está? — perguntei.
— Ah, oi, Cassie, na tela apareceu número desconhecido, o Noah tá no banho. — respondeu.
— Sim, esse celular é de um amigo, tudo bem então, eu ligo uma outra hora. — falei, tentando a convencer de que eu havia entendido.
— Eu posso dar algum recado a ele se você quiser, é só dizer. — sugeriu.
— Não, tudo bem, não era nada demais mesmo, espero não ter atrapalhado, tchau. — falei desligando após ela retribuir o tchau.
Suspirei passando a mão em meus cabelos puxando os fios entre meus dedos para trás.
— Amigo? Sou um amigo agora? — questionou Carson com um sorriso presunçoso no rosto.
— Não, Carson, você não é, e nunca, nunca vai ser, agora vê se me deixa em paz. — respondi entregando seu celular, e voltando para minha posição anterior, novamente de braços cruzados.
— Como quiser, madame. — disse, fazendo aquele meio sorriso idiota enquanto tornava a olhar pela janela.
Não o agradeci por ter me emprestado seu celular, eu estava chateada demais para isso, e Carson por sua vez em nada me ajudava com suas piadinhas sem graça e seu jeito debochado que me tiravam do sério.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Antes Só Que Apaixonada
Teen FictionCassandra é uma garota de dezesseis anos. É inteligente, organizada, detalhista, desiludida e com grandes planos para o futuro. Mora com seu pai desde os quatro anos ao ser largada junto a ele por sua mãe, tal que a garota já nem lembra mais do rost...